Muita cautela

CATÁSTROFE NO RS: Entenda como acontece a retirada de corpos encontrados na inundação

"Tudo é feito de maneira mais discreta possível", explica bombeiro que atua nos resgates em Canoas

Publicado em: 16/05/2024 16:53
Última atualização: 16/05/2024 16:54

Mara Oliveira, 44 anos, estava preocupada com o primo, que após dizer que faria uma visita até a casa inundada no bairro Fátima, em Canoas, simplesmente sumiu sem dar nenhuma notícia.

Corpo de Bombeiros atua no reconhecimento da área atingida no bairro Rio Branco Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

Temendo que o primo estivesse morto ao se afogar, a costureira informou a Defesa Civil sobre o que aconteceu e foi montada uma rápida operação de resgate ao desaparecido.

“A casa em que ele morava está com água até no telhado”, explica. “Então não tinha como ele conseguir entrar e sair”, prossegue. “Não sei se morreu afogado ou o que aconteceu, mas a verdade é que não dá mais notícia”.

A preocupação com este tipo de informação que chega até as equipes de busca e resgate é total, explicam os bombeiros. Isso porque qualquer suspeita de vítima é tratada com um procedimento que inclui muita cautela.

“Tudo é feito de maneira mais discreta possível”, explica o bombeiro paulista Clóvis Dias. “Montamos a equipe e a Polícia Civil é encarregada de entrar no endereço. Caso se confirme a vítima, o IGP é acionado”.

Os resgates de cadáveres não acontecem nos pontos conhecidos por serem bases da Defesa Civil em Canoas; ao contrário, a retirada de corpos da água ocorre em vias que tangenciam a área e chamam menos a atenção.

“O sofrimento já é muito grande e não há razão para que as vítimas sejam expostas”, defende. “O objetivo é não alardear e criar um cenário de pânico maior para a população”, conclui.

Isolamento

Na manhã da última sexta-feira (10), um cadáver foi localizado pelo Corpo de Bombeiros boiando perto da Paróquia Nossa Senhora de Fátima. A Polícia Civil, em parceria com a Guarda Nacional, isolou quase meio quilômetro da área visando que ninguém se aproximasse do local.

“As pessoas precisam entender que diante da tragédia, não há nenhum saldo positivo em expor as vítimas com fotografias e vídeos, por isso isolamos uma área muito maior que, por exemplo, em uma cena de homicídio”, explica o delegado Mario Souza, diretor do Departamento de Homicídios. “A tristeza já é grande o suficiente e não há porque propagar imagens que vão ferir e traumatizar pessoas que já estão sofrendo. Por isso, o cuidado tem sido tão grande às vítimas”.

Corpo amarrado

As equipes de resgate são formadas na água em geral por um barqueiro que conduz a ação, um bombeiro, um socorrista e um policial responsável pela segurança do time reunido.

Barqueiro responsável por resgates em Canoas desde o início da tragédia no último dia 4, José Maurício Viegas conta ter encontrado um corpo durante um resgate a animais no bairro Mathias Velho.

Ele relata que o cadáver acabou sendo amarrado a um poste, porque não havia condições da embarcação em que estava resgatar com segurança o corpo até a margem da inundação no bairro.

“Havia um policial militar no barco, que depois ligou para o pessoal na margem e explicou o local onde ficou o corpo”, relata. “Não tinha como a gente fazer nada, porque o nosso barco já estava cheio de gente e animais”.

Número oficial

Epicentro da tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul, Canoas soma 19 das 151 mortes que aconteceram no Estado devido à enchente que assola os gaúchos há duas semanas, conforme dados da Defesa Civil do Estado.

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