Comunidade

Canoas estima 400 pessoas vivendo nas ruas

Município garante acesso a serviços e incentivo para mudança, mas nem sempre iniciativas têm efeito

Publicado em: 05/03/2024 10:19
Última atualização: 05/03/2024 10:20

Há situações em que problemas emocionais, financeiros, com álcool, com bebidas, com drogas, ou tudo isso junto, desestabilizam uma pessoa a ponto dela largar tudo e preferir morar na rua, onde não precisa lidar com responsabilidades, regras e limites. Alguns, nessa situação, se tornam itinerantes, barganhando benefícios de município em município e assim conseguem locais para se alimentar, tomar um banho de vez em quando e até pernoitar.

A população de moradores em situação de rua em Canoas é de cerca de 400 pessoas Foto: Leandro Domingos/GES-ESPECIAL

Conforme relatório do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), referente a 2023, o número da população em situação de rua aumentou consideravelmente desde 2016 em todo o Brasil.

No ano passado, a população de rua nas cinco regiões brasileiras somava 221.113 pessoas. Em 2016 esse número era 68.893. Em oito anos, houve um salto de 152.220 mais pessoas em situação de rua, que dependem de programas sociais para sobreviver.

No Rio Grande do Sul, o número de pessoas na rua passou de 4.056 para 9.859 e em Canoas, de 114 para 198, no mesmo período de oito anos. Lembrando que estão incluídas somente as pessoas cadastradas no sistema do Governo.

Em 2022, no Brasil, a população sem moradia era 193.294. No Rio Grande do Sul, são 1.227 pessoas a mais nas ruas e em Canoas, 26, considerando o mesmo período.

A região brasileira com a maior população em situação de rua é a região Sudeste, que em 2016 tinha 48.607 pessoas em situação de rua; em 2022, 125.269, e em 2023, 138.072.

De acordo com a secretária de Assistência Social de Canoas, Luísa Emília Lucena Camargo, a população em situação de rua atual em Canoas é de cerca de 400 pessoas, considerando as que estão inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) (198) e as que não estão e são oriundas de outras cidades.

A secretária cita como exemplo o caso de um jovem de 23 anos, com complicações psiquiátricas, que veio de Porto Seguro, Bahia, e se recusa a voltar para casa.

"Há algum tempo fizemos contato com a mãe dele e providenciamos passagens aéreas. Ela estava pronta para buscá-lo. Mas ele, que estava internado, fugiu no dia do embarque, para não retornar". Luísa comenta que foi um transtorno entrar em contato com a empresa para não perder e conseguir transferir as passagens. "Pagamos apenas uma multa e em breve a mãe dele vem buscá-lo."

Incentivo para retomar a vida

Alguns moradores em situação de rua acabam se acostumando, pois encontram formas de ajuda. "Nosso objetivo é dar um suporte inicial, orientar e incentivar que essas pessoas retomem suas vidas e busquem melhores condições", ressalta a secretária Luísa Camargo.

Almoço é oferecido Foto: PAULO PIRES/GES

Um morador de rua, que terá que o seu nome preservado, abordou a reportagem, enquanto almoçava gratuitamente no Restaurante Popular, há alguns dias. Ele reclamou que estavam impedindo a entrada dele no Albergue Municipal. "Lá elas mandam a gente alugar uma casa. Dinheiro de onde? A pessoa que estava lá antes deixava a gente ficar 90 dias", pontuou.

O caso foi levado para a Assistência Social e a secretária informou que a situação ilustra o que ocorre com parte das pessoas que vivem na rua e querem continuar na rua, e a dificuldade das equipes. "A equipe do Albergue me confirmou que esse morador em situação de rua que reclama frequenta o albergue há mais ou menos cinco anos."

Como funciona a oferta de auxílio

Um outro caso citado pela secretária Luísa Camargo é de uma mulher natural de Erechim, que está em Canoas depois de ter passado por todos os serviços disponíveis em Porto Alegre, no tempo que pode, que é limitado, e veio para Canoas. Ela também não quer retornar para casa, prefere a rua.

"Quando a abordamos, informamos que ela precisa retornar para o seu município de origem, pois esgotou o tempo de 15 dias dado a todos os moradores em situação de rua, sem inscrição. Mas ela se nega", comentou.

A secretária explica que duas semanas é o tempo que as pessoas em situação de rua têm para apresentarem documentação e se inscreverem no CadÚnico, que possibilita o acesso a benefícios como o Bolsa Família.

Todos são abordados para fazerem esse cadastro quando chegam ao Restaurante Popular ou ao Albergue Municipal. "E orientamos para que deixem a rua, se inscrevam para ter o benefício e consigam alugar um local para morar, mesmo que seja uma pequena peça, mesmo que dividam com outro morador em situação de rua."

Proposta para unificar ações

A secretária municipal de Assistência Social, Luísa Emília Lucena Camargo, fala de um projeto que propõe a união de esforços de quem já auxilia moradores de rua. Ela conta que a equipe da Assistência Social do município trabalha em um projeto que pretende unir entidades, igrejas e grupos independentes que ajudam esse grupo vulnerável das ruas concentrando todas as ações em dois ou três pontos da cidade.

"Em vez de ter grupos entregando marmitas de madrugada ou distribuindo roupas para quem dorme ao ar livre, a ideia é reunir e otimizar todas as ações para dar suporte em pontos criados nos bairros Centro, onde há a maior concentração de pessoas em situação de rua, além do Mathias Velho e do Guajuviras", destacou, informando que há 500 pontos de distribuição de alimentos na cidade, independentes.

O trabalho da secretaria, para atender a essa demanda específica, está concentrado nesse projeto, porque ele não requer investimentos financeiros, tendo em vista a atual crise orçamentária do município.

Guarda Municipal realiza abordagens e instruções

Grupos sem teto se espalham pela cidade e em alguns casos intimidam cidadãos que evitam frequentar locais como praças e também são abordados insistentemente nas ruas com pedidos de comida, dinheiro, cigarro. Alguns, até, visivelmente sob efeito de algum tipo de entorpecente.

A aposentada Fátima Moura mora há seis anos próximo à Praça da Imprensa, no bairro Marechal Rondon, onde costumava levar o neto. "Levava ele à praça quase todos os dias, mas agora é impossível. Tem morador de rua que acampa ali. Já vi colocarem até colchões nos bancos para dormir. Paramos de ir porque ficamos com receio."

A partir de reclamações e denúncias de ameaças e intimidações a motoristas por parte de pessoas em situação de rua, recentemente equipes da Guarda Municipal e da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos realizaram uma ação para remover colchões e outros pertences dos moradores espalhados pela calçada, na esquina das ruas Araçá e Dr. Barcelos. Os populares abordados foram instruídos a procurar o albergue do Município.

Ação da Guarda Municipal nas calçadas da Dr. Barcelos Foto: Divulgação/PMC

De acordo com o secretário de Segurança Pública, Marcelo Pitta, durante e abordagem é verificada a situação jurídica dessas pessoas em situação de rua. "Nossos guardas orientam que elas sigam até os abrigos municipais, onde terão o aporte de alimentação e estadia. Infelizmente, muitos não acessam esses locais e migram para outras áreas da cidade", explicou.

A orientação do secretário é não dar dinheiro aos pedintes e caso sejam ameaçados, como ocorreu com um cidadão que transitava em seu veículo, que acionem a Guarda Municipal pelo 153.

 

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