Solução

BR-448 vira alternativa para centenas de moradores entrarem e saírem do Mathias Velho

Encarando o risco, homens e mulheres atravessam a rodovia federal para conseguir chegar em casa nesta terça-feira (21)

Publicado em: 21/05/2024 15:10
Última atualização: 21/05/2024 15:12

Inaugurada em 2013 como uma solução para motoristas que trafegam entre o Vale dos Sinos e a capital, a BR-448 desde então vem servindo de alternativa para milhares de motoristas fugirem da congestionada BR-116.

Movimentação na BR-448 é intensa desde o início da manhã desta terça-feira (21) Foto: PAULO PIRES/GES

Eis que, em meio a tragédia que surpreendeu o Rio Grande o Sul e tirou milhares de pessoas de casa em Canoas, a 448 se transformou em alternativa também para quem chegar em casa no bairro Mathias Velho.

Desde o início da semana, centenas de moradores que vivem no bairro têm se valido da rodovia para tentar chegar em casa. Isso após as bombas passarem a funcionar no dique rompido e a água do Rio dos Sinos começar a baixar.

Moradora do Mathias Velho há 40 anos, Inês Garcia Santarém está entre as centenas que ousaram a travessia entre carros e caminhões somente para poder se aproximar de casa na manhã desta terça-feira (21).

“Eu só queria ver a minha casinha”, disse a aposentada de 64 anos. “Eu sei que ainda não dá para entrar, porque está muito cheia, mas eu queria ver. Saber pelo menos se está de pé”.

Diferente de Inês, o aposentado Carlos Francisco Silva, 74 anos, saiu da casa da irmã, onde permanecia abrigado, para tentar voltar para a pequena casa, no entanto, acabou encontrando a residência ainda inundada.

“Eu pensava em conseguir voltar hoje, mas não deu”, lamentou. “Vou dar mais uma semaninha para ver se baixa mais e tento voltar de novo. É brabo, porque a gente se sente um peso vivendo na casa dos outros”.

Partida

Embora a maior movimentação seja da população tentando chegar em casa por meio da BR-448, havia também uma movimentação muito grande de pessoas, deixando de vez o bairro inundado.

Trabalhador autônomo, Augusto Lemos, 48 anos, encheu duas mochilas com alguns pertences que conseguiu tirar da casa cheia de água e disse deixar Canoas para viver com parentes em Porto Alegre.

“Para mim acabou”, desabafa. “Consegui abrigo na casa de um primo e por enquanto vou me manter até conseguir alugar um cantinho. Foi muito complicado conseguir sair de casa”.

Dificuldade

Mesmo que uma parte da proteção da BR-448 tenha sido arrancada e uma espécie de “escadinha” tenha se formado para que moradores descessem ou subissem, não é fácil subir ou descer.

A descida tem em média 20 metros de inclinação, sendo exigido esforço para quem se arrisca descer ou subir devido ao escorregadio terreno, muito combalido por conta da quantidade de chuvas.

Operador de empilhadeira, Vilson Zanini, 58 anos, deixou o Mathias Velho carregando uma enorme caixa de som que conseguiu salvar da cheia. O trabalhador precisou de ajuda para subir a BR.

“Moro há 40 anos no Mathias Velho e nunca tinha visto água desse jeito”, afirma. “Estou tirando a caixa porque é uma das poucas coisas que consegui salvar. Se não levar logo, me roubam”.

O movimento existe ainda para levar água e comida para os moradores que não deixaram as casas nem durante o pior momento da cheia na semana passada. A jovem Maria Luísa Vargas, 19 anos, desceu o caminho com um fardo de água mineral.

“Meu tio acabou ficando e a gente ajuda ele com água e comida”, aponta. “Ele é muito teimoso e passou fome durante um tempo, mas agora está melhor, porque a água baixou”.

Monitoramento

Por, pelo menos, dois quilômetros e meio de rodovia, a partir do km 11, há carros estacionados nos dois lados da 448. Há inclusive pessoas passando o dia inteiro dentro do carro.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) está ciente da situação no Mathias Velho e monitora a situação desde o começo da semana, quando o ponto passou a ser acessado pela população em direção ao bairro.

Também atuam na área os militares do Exército, que antes estava auxiliando no trabalho de resgate à parcela da população ilhada durante a enchente, conforme constatou a reportagem do DC.

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