Bocha: jogo que une solteiros e casados no mesmo time em Canoas

Todos os canoenses já devem ter passado por um grupo de amigos reunidos em alguma praça, clube social ou até no pátio de casa, jogando bocha. Eles ficam horas na volta de 12 bolas, as bochas. Cada equipe (dupla, trio) ou jogador, têm o direito a seis. Vence quem fizer mais pontos.

Há cinco anos um destes grupos recebeu a comerciante aposentada Dinaura Gehlen, 75 anos. “O ambiente é muito bom. É uma terapia e também uma maneira de fazer exercícios sem precisar ir para a academia.”

Dinaura conta que começou a jogar após conhecer o professor aposentado Nei de Freitas, 63 anos. “Conheci o Nei quando fui jogar bocha adaptada para idosos, que é diferente. Me enturmei e ele me convidou para participar do grupo que jogava no Capão do Corvo [Parque Getúlio Vargas].”

Apesar da maioria masculina, a aposentada afirma que nunca teve problemas. “Fui muito bem recebida, todos se dão super bem. Foram acolhedores.”

Casais

E Dona Dinaura não é a única mulher da turma de bochófilos. No grupo algumas esposas também participam. “Sempre sorteamos as duplas, não é sempre a mesma. Nem sequer os casais jogam juntos em todas as partidas”, completa a aposentada, que há 65 anos mora em Canoas.

Quem também participa dos jogos, três vezes na semana, segunda, quarta e sexta-feira, sempre pela manhã, é o casal Jeronymo e Elza Maria Balensiefer, de 85 e 77 anos, respectivamente. “Comecei a jogar bocha em 1979”, diz Jeronymo, que frisa o nome com a letra “Y”. “É que sou nojento”, brinca.

No início o casal jogava bolão, parecido com a bocha, e depois passou a aproveitar a dois, os momentos com amigos. “Fomos campeões em Canoas”, afirma o morador do bairro Marechal Rondon.

Um entusiasta do jogo

Nei de Freitas está aposentado há quatro anos e conta que começou a jogar bocha enquanto dava aulas. “Trabalhava na rede municipal e implementei o esporte na escola.” Atualmente inclusive joga com alguns deles. “A bocha é um jogo de amizade. Estamos sempre tomando um chimarrão, ouvindo música e conversando.”

Isso fez com que a esposa, Maristela de Freitas, 57 anos, passasse a acompanhá-lo. “Sou novata, comecei a jogar no ano passado.” Como iniciantes, Maristela, que também é professora aposentada, recebeu apoio do grupo. “Eles gostam de ajudar, é uma energia muito boa. Não é um jogo de competição e sim de amizade.”

O começo na bocha só não foi antes por conta do trabalho. “O Nei gostava de jogar, me convidava e o pessoal também. Só que estava sempre trabalhando, quando me aposentei consegui vir.”
Maristela reitera que jogar bocha se tornou uma meditação. “Precisa ter concentração, ajuda também no controle da ansiedade.”

Nei concorda com a esposa. “É realmente uma meditação, a vibração é diferente. Sempre consigo um tempo para vir jogar. O engraçado é que me aposentei e passei a precisar marcar os compromissos na agenda, a todo momento aparece alguma coisa para fazer.”

Esperando para retornar à cancha no Capão do Corvo

Atualmente se reunindo em uma cancha no bairro Igara, a turma aguarda ansiosa pelo retorno ao Capão do Corvo. A cancha de bocha foi destruída em agosto de 2022 durante a microexplosão que atingiu Canoas. O antigo local passou a abrigar o revitalizado Espaço Zen.

Porém, as obras da nova cancha já começaram no Capão e devem ser finalizadas no mês de setembro, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente. A Prefeitura vai investir cerca de R$ 325 mil em uma área de 150 metros quadrados, com banheiro, churrasqueira e área de convivência. “Chorei três vezes quando tivemos a microexplosão que derrubou a cancha”, lembra Maristela.

A professora aposentada conta que ela e o marido passam ao menos uma vez na semana para conferir a construção. “Vamos lá dar uma olhada, namorar um pouco a cancha. Vai ficar linda”, reitera. O movimento do Capão deve atrair ainda mais jogadores. “É impressionante, passa qualquer pessoa na rua e eles já convidam para jogar.”