abc+

Jornaleiro

Aureliano acaba de completar 45 anos vendendo jornais e revistas no Centro de Canoas

Banca de jornais e revistas na esquina das ruas 15 de Janeiro e Fioravante Milanez resiste ao tempo em que o aparelho celular dita a leitura

Publicado em: 15/01/2025 às 11h:39 Última atualização: 15/01/2025 às 11h:46
Publicidade

Quem passa pela esquina das ruas 15 de Janeiro e Fioravante Milanez pode observar, na banca de revistas montada na esquina, um homem alto e magro, que carrega nas expressões e rugas do rosto uma vida de resistência à passagem dos tempos.

Aureliano Barbosa de Souza atende no ponto localizado na Rua Fioravante Milanez 118, no Centro de Canoas, há impressionantes 45 anos



Aureliano Barbosa de Souza atende no ponto localizado na Rua Fioravante Milanez 118, no Centro de Canoas, há impressionantes 45 anos

Foto: Paulo Pires/GES

 

Aos 74 anos, Aureliano Barbosa de Souza chega a marca de 45 anos atuando como jornleiro em Canoas. Com ponto firmado a somente alguns metros da Prefeitura, observou, ao longo das décadas, com olhar crítico e analítico, o crescimento da cidade e as mudanças do poder.

A ele, hoje mais que nunca, interessa somente o ofício. Vende jornais, revistas, gibis, catálogos e livros a uma clientela que não resume a busca por informações ao reduzido espaço de tela contido em um aparelho celular que cabe no bolso.

“Eu vivi épocas de incertezas”, conta. “Quando surgiu a internet, isso lá no começo dos anos 2000, me disseram que os jornais e as revistas acabariam. Então, estamos em 2025 e o povo continua contando moedas para pegar comprar um jornal na minha banca”.

O jornaleiro, no entanto, não é totalmente avesso a mudanças. Com o passar do tempo, se adaptou. Inicialmente trabalhava com as sisudas páginas impressas de grandes jornais e revistas, mas hoje vende até mesmo mangás para a molecada que ama cultura japonesa.

“Eu converso com todo mundo”, diz. “Um pede jornal; outro quer revista; o menino leva gibi; mais um aparece querendo cigarro. Me viro bem e sustentei a família assim. Só não gosto de quem continua pegando o jornal para ler sem precisar pagar”, brinca.

Embora não venda picolés e refrigerantes como algumas bancas que existem, para manter a banca de pé, Aureliano também ampliou o atendimento para quem gosta de jogos, investindo em cartelas e premiações que surgiram ao longo dos anos.

“O sujeito chega, faz uma fezinha, aproveita para comprar o jornal do dia e, de repente, leva uma cruzadinha”, explica. “A pessoa chega na banca, vê o que tem à disposição, e leva. Faz parte da rotina de quem passa na frente”.

Mudança

A passagem dos anos e o avanço da internet e da tecnologia dos celulares acabou prejudicando seriamente as editoras. Se antes, a oferta por revistas era enorme, hoje, a situação mudou, conforme o jornaleiro, que se antes vendia até 20 edições de uma única revista, hoje não passa de duas ou três.

“Chegava a faltar Veja ou Caras”, lembra. “Mas os tempos são outros. Todo mundo tem aparelho celular e redes sociais. Então não dá para esquentar muito com isso. Só não digo que parei de vender, porque não é verdade. Ainda sai revista, sim”.

A bancária Helena Inês dos Santos, 44 anos, é cliente da banca, onde costuma pegar cruzadinhas, de preferência, de “nível difícil”. Vez por outra, costuma pegar um exemplar de uma revista de moda. Ela comenta que não imagina um mundo sem a banca de revistas.

“Eu penso que é uma coisa que sempre vai existir”, afirma. “Faz tempo que eu acompanho notícias só pela internet, mas não sei como seria ficar sem cruzadinhas”, ri. “Também é superbom abrir uma revista de moda e crochê em casa. Não acho que isso vá acabar tão cedo”.

Aventuras amorosas

O termo hoje não se aplica, mas durante anos se falou em revistas escritas “só para mulheres”. A série “Sabrina”, publicada em papel barato durante a década de 80 marcou época, com romances cheios de clichês e com finais previsivelmente felizes.

Quem chega na banca de Aureliano, pode notar centenas de exemplares, com páginas amareladas e gastas, à disposição para a venda. E sem engana quem imagina que, em pleno 2025, são somente elas quem consomem este tipo de material.

“Eu nem lembro há quanto tempo tenho, mas garanto que tem homem que passa aqui e compra também”, afirma o jornaleiro.

Política

O ponto estratégico próximo a sedo do poder em Canoas não garantiu grandes alegrias a Aureliano. Ao contrário, ele enxerga políticos e governos como um grande bloco que não se diferente muito após a passagem dos anos.

“Está tudo no mesmo saco”, reclama. “Entra governo e sai governo e continua igual. Não adianta muito o povo ter esperança. E isso nem é um problema só de Canoas. Acontece no Brasil e no mundo. Basta ler para saber”.

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade