Investigação
Arsenal apreendido na Capital pode ajudar a desvendar assassinatos em Canoas
As 125 armas apreendidas durante a Operação Desarme, executada nesta terça-feira (8), vão passar por perícia para esclarecer homicídios executados por facção que saia de Porto Alegre para matar em Canoas
Última atualização: 09/11/2023 15:17
A Polícia Civil efetuou a maior apreensão de armas do ano, durante uma ação executada nesta terça-feira (7), no bairro Santo Antônio, em Porto Alegre. Ao todo, 125 armas de diferentes tipos e calibres — entre elas, 55 fuzis — foram encontrados em uma residência.
O mandado de busca e apreensão contou com o apoio do Exército. O proprietário do arsenal foi preso em flagrante por posse irregular de armas. A batizada Operação Desarme foi coordenada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil.
A apreensão do arsenal em Porto Alegre deve colaborar na resolução de assassinatos em Canoas. Isso porque as armas encontradas vão passar por peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP), que vão confrontar as armas com os crimes que aconteceram neste ano.
Conforme a Polícia Civil, as armas pertenciam a um colecionador, mas a suspeita é que ele alugava armamentos para uma facção criminosa oriunda da Zona Sul da Capital. A vinculação entre o dono das armas e a organização deve ficar clara até a conclusão do inquérito, conduto há certeza do envolvimento.
"Após a apreensão de um fuzil com numeração raspada na Restinga, a investigação chegou até a casa desse Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), que armazenava 125 armas, uma delas sem registro. O armamento foi adquirido com autorização, porém uma das armas foi parar na mão de criminosos. Não há registro de furto ou roubo desse fuzil”, esclareceu o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
A facção apontada pela polícia é conhecida por manter os negócios com extrema violência contra desafetos e criminosos rivais. Não raro, os integrantes deixam a Capital e cometem crimes em outras cidades. Isso aconteceu pelo menos meia dúzia de vezes em Canoas neste ano, razão pelo qual a apreensão pode levar ao avanço em alguns casos.
Canoas vive um 2023 em que a violência teve lugar de destaque. Foram pelo menos 72 homicídios cometidos de janeiro a outubro e embora o Departamento Estadual de Homicídios tenha garantido a resolução de boa parte dos casos, há muitos crimes sendo apurados.
Classificado como um salto na qualidade do trabalho de investigação da Polícia Civil gaúcha, a aquisição do chamado Sistema de Identificação e Comparação Balística Automatizada foi comemorada no ano passado, quando anunciada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública.
O equipamento conhecido como indexador balístico executa o exame de cada arma. A perícia é resultado do cruzamento da análise no armamento com os dados dentro do Sistema Nacional de Análises Balísticas, garantindo exatidão ao apontar o uso de arma X em crime Y, segundo a Polícia Civil.
Flagrante garantido
A investigação que culminou na apreensão começou em 28 de outubro, quando três armas registradas por um colecionador — uma espingarda, uma submetralhadora e um fuzil — foram apreendidas com uma organização criminosa, na Zona Sul de Porto Alegre. Em depoimento, o investigado não explicou como o armamento de sua propriedade estava na posse de criminosos.
"Após a apreensão de um fuzil com numeração raspada na Restinga, a investigação chegou até a casa desse Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), que armazenava 125 armas", aponta o delegado Sodré. "São armas de guerra, de uso operacional, com elevado poder letal", conclui.
RS terá primeira delegacia de combate ao tráfico de armas
A fim de fortalecer o combate ao crime organizado, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) está trabalhando em conjunto com a Polícia Civil, para implementar a primeira delegacia especializada na investigação de tráfico de armas. A unidade vai entrar em operação em 2024. A estrutura contará com ferramentas específicas de rastreio de armamento e munição. A delegacia especializada seguirá o modelo de investigação e cruzamento de dados já adotado pela Polícia Federal e pela Receita Federal, por exemplo.
"Por meio de um trabalho especializado, vamos intensificar ainda mais as ações de desarmamento dos grupos criminosos. Além da asfixia financeira e do combate incisivo ao tráfico de drogas, também enfraqueceremos a circulação e a utilização de armas por parte dos criminosos", afirmou o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron. "Essa maior apreensão de armas do ano reforça a importância de instalarmos, com a SSP, uma delegacia especializada no rastreio e no mapeamento de armas", acrescentou.