A luta da aposentada Rosa Maria Ramos, 67 anos, para fazer uma cirurgia para retirar cálculos nos rins em Canoas começou em 2016. Há oito anos, teve o primeiro diagnóstico quando entrou no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Canoas com dor, náusea e vômitos, recebeu alta e foi orientada a fazer avaliação em um ambulatório especializado em urologia.
A última atualização é de que a cirurgia foi remarcada para esta quarta-feira (3), segundo informações do Hospital Nossa Senhora das Graças.
Desde então, as entradas e saídas de hospitais foram muitas, e em 2024, a condição se agravou. Em maio deste ano, ela foi internada no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) com uma infecção causada é um cateter colocado em 2021, que deveria ter sido retirado, no máximo, 6 meses após a inserção – agora, a retirada ocorre apenas com cirurgia, pois houve calcificação das pedras em torno do dispositivo.
“Não aguento mais olhar minha mãe nesse estado, dá um desespero. Nos sentimos de mãos atadas. É desumano”, conta a filha de Rosa, a assistente administrativa Fabiana Seitenfus, 42. “Ela entrou no hospital lúcida e agora não está mais nos respondendo porque os antibióticos não respondem mais à infecção”, relatou no final de junho.
Há mais de 30 dias, a família de Rosa enfrenta burocracias e atrasos para conseguir o procedimento. “Se a cirurgia já tivesse sido feita, ela não teria chegado nesse ponto”, lamenta Fabiana.
Mudanças de hospitais
Em 19 de maio, Rosa deu entrada no Hospital Nossa Senhora das Graças. Segundo a família, a equipe alegou não ter disponibilidade de leito ou ferramentas para fazer a cirurgia e ela foi transferida para o Hospital Universitário (HU), para tratar a infecção e aguardar. Depois de quase um mês de espera, ela retornou para o HNSG, onde aguarda pelo procedimento que havia sido agendado para 26 de junho.
Apesar do Hospital Nossa Senhora das Graças, por meio da assessoria, afirmar que “o hospital possui todos os equipamentos necessários para realizar os procedimentos indicados para o tratamento da paciente”, a cirurgia foi cancelada. À família, a ouvidoria do Hospital afirmou que o problema havia sido de atraso na chegada do equipamento contratado. “O Hospital Graças está em dia com todas as suas obrigações contratuais e estamos empenhados em resolver a situação o mais breve possível para garantir a realização da cirurgia”, informou a assessoria do HNSG, destacando que a paciente está com prioridade.
Fila de espera
O Hospital Nossa Senhora das Graças realiza a média de 15 procedimentos deste tipo ao mês. Atualmente, a fila de espera é de 100 pacientes para cirurgia do trato urinário.
Mesmo com a cirurgia marcada, Fabiana e as irmãs seguem aflitas. “Estamos preocupadas porque a mãe está tendo sintomas de infecção de novo”, diz Fabiana. Sobre a possibilidade de transferência para outros hospitais, a assessoria do Graças afirmou que “o HNSG é o único hospital na região da grande Porto Alegre com capacidade técnica para resolver casos como este em questão pelo SUS, além de ser a referência para paciente de Canoas”.
O que diz a Secretaria Municipal da Saúde
Em nota, a assessoria da Secretaria de Saúde de Canoas afirmou que “não é possível encaminhar para outros municípios, somente em casos específicos de impossibilidade técnica” porque o Canoas possui gestão plena em saúde. Em caso de falta de acesso a insumos ou equipamentos para procedimentos cirúrgicos, a dificuldade deve ser comunicada à direção do Hospital e encaminhada à Secretaria de Saúde. A pasta afirmou ainda que verificaria a possibilidade de orientação médica para urgência do procedimento.
Sobre a última internação, a assessoria do Hospital Nossa Senhora das Graças afirmou que “a paciente foi internada no Hospital Universitário para receber tratamento com antibiótico e outras terapias necessárias. No HU, ela foi cadastrada para transferência ao HNSG”.
Em relação aos anos de demora para encaminhamento para cirurgia, o Graças afirmou que a pandemia de Covid-19 causou a suspensão das cirurgias eletivas de 2021, ocasionando aumento da fila. A enchente de maio de 2024 concentrou as demandas de urgência no Graças, o que teria agravado a espera.
LEIA TAMBÉM