Pelos pátios, salas de aula, laboratórios e corredores, os estudantes do Colégio Ulbra São João se espalharam para relembrar o que aconteceu em maio deste ano. A feira de ciências da instituição, que está realocada no Colégio Ulbra Cristo Redentor, na Avenida Inconfidência, 1231, no bairro Marechal Rondon, teve como tema as enchentes que atingiram a cidade de Canoas e todo o Estado gaúcho. O evento foi na última sexta-feira (1°).
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O drama de alunos, professores e da própria escola que teve as instalações atingidas se transformou em uma atividade que foi além da ciência e trouxe emoção. “De uma feira científica, passou para ser algo mais sensível”, destacou a diretora do Cristo Redentor e do São João, Luciane Golo Cauduro.
Para além de relembrar, a missão dos estudantes era trazer informações mais profundas sobre o ocorrido. As alunas Sofia Teixeira e Gabriela Tessaro, ambas de 14 anos, e Amanda Ruas, 15, pesquisaram sobre as causas das enchentes, desde os fatores naturais até os humanos. “A tragédia não pode apenas ser vista como algo natural, mas também está relacionada ao modelo de desenvolvimento econômico”, explica Gabriela.
“Nós ainda falamos sobre a falta de manutenção das casas de bombas e a questão dos diques”, aponta Amanda. O trabalho em si até foi fácil para as estudantes do 9° ano pela quantidade de informações disponíveis, mas o impacto das enchentes ainda permanece. “Foi bem difícil relembrar o que aconteceu, porque muitos de nós foram atingidos. Mas está sendo bom para ressignificar, entender que não foram apenas causas naturais”, comenta Sofia.
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Em um dos laboratórios do colégio, o 1º ano do ensino médio tratou dos terrenos de várzea. Os alunos Andrei Gouvêa Trajano e Gustavo dos Santos Pozzebon, ambos de 16 anos, apresentaram a pesquisa sobre impermeabilização da água em diferentes solos.
“A nossa ideia é mostrar como a água demora a ser absorvida em terrenos acidentados”, conta Gustavo. “Achei diferente. Nunca tinha feito um trabalho desse tipo. Acho que foi a primeira vez que concretei um pote de vidro”, brinca Andrei.
Com um aquário cheio de plantas, Rafael Machado Rodrigues e Laura Almeida Dias, 16 anos, mudaram de opinião após suas pesquisas. “Descobri a importância das plantas aquáticas. As pessoas julgam elas como feias, mas a falta delas prejudica a biodiversidade”, ressalta Laura.
“Não construir prédios e casas tão próximas dos rios e abaixo do nível do mar são algumas coisas que aprendi”, destaca Rafael.
Além de pesquisas sobre ciências, a feira também contou com uma intervenção artística elaborada por Isabela Machado, Kerolyn Ribeiro e Eduarda Borba, 14 anos, e Fernanda Moraes, 15. Elas organizaram murais com papéis coloridos contendo relatos de alunos, professores, funcionários e visitantes sobre o período da catástrofe climática.
“Nós queríamos falar mais sobre os sentimentos e interagir com as pessoas, então decidimos perguntar para o público sobre o que aconteceu”, disse Isabela, com apoio das amigas da turma.
Orgulho dos alunos
Nomeada como “Águas de Maio”, em referência ao clássico de Elis Regina e Tom Jobim, a feira de ciências mobilizou alunos desde a educação infantil até o 3º ano do ensino médio, cada um com uma proposta, como detalha a diretora Luciane. “Cada nível de ensino abordou um tema como brinquedos que as crianças receberam nos abrigos , animais que foram resgatados, campanhas de doação, histórico das enchentes, bacias hidrográficas e assim por diante.”
O evento acontece todo ano, geralmente no mês de julho e agosto, mas foi adiado pelas enchentes. “Os alunos estavam se preparando quando tudo aconteceu. Muitos perderam tudo”, relembra a diretora.
Para a supervisora escolar do Colégio São João, Patrícia Nogueira, o tema é importante, apesar de sensível. “Está sendo um fechamento de ciclo para eles também. No início, foi difícil convencer porque muitos não queriam falar sobre o assunto”, comenta emocionada. “Mas é importante que eles falem isso. Estou muito orgulhosa de cada trabalho”, completa.
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