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Ainda se recuperando da cheia, moradores de Canoas temem que a água volte a subir

Nível do Rio dos Água chegou a três metros na Prainha do Paquetá, inundando as casas na área pesqueira. Há quem já pense em deixar o local devido ao drama sem fim

Publicado em: 02/12/2023 às 11h:09 Última atualização: 02/12/2023 às 11h:10
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O rastro de destruição causado pela água da chuva é visível para quem passa pela Pratinha do Paquetá. Ao longo da via, é possível ver amontoados de móveis, colchões e aparelhos domésticos destruídos após a inundação causada pelo Rio dos Sinos.

Moradores começaram a retomar a rotina na manhã deste sábado (2) no Paquetá



Moradores começaram a retomar a rotina na manhã deste sábado (2) no Paquetá

Foto: PAULO PIRES/GES

Na manhã deste sábado (2), cerca de 90% do rio havia “voltado para a caixa”, como dizem os moradores, e permitiu que muitos começassem a se recuperar da cheia que manteve as casas de baixo d’água durante o último mês inteiro na área pesqueira.

O pescador Claudiomiro Oliveira Nascimento, 56 anos, mora há quase três décadas no Paquetá. Prevenido, construiu uma casa há três metros de altura do solo, de maneira a impedir que qualquer cheia atingisse a residência. Ele disse que imaginava que isso nunca aconteceria.

“Não cheguei a perder nenhum móvel, mas água entrou na minha casa e durante semanas, tudo o que eu enxergava na minha volta era o rio”, lamenta. “É triste, porque vi amigos que perderem tudo o que tinham nesse período sem conseguir fazer muita coisa para ajudar”.

A situação de Gabriela Souza é de desalento. Ele observou, impotente, a água da chuva destruir a maioria dos pertences que tinha na pequena casa em que vivia. Ao retornar, neste sábado, disse ter sobrado bem pouco para recomeçar.

“Eu nem sei se vou continuar no Paquetá, porque estão ameaçando que vem mais chuva”, desabafa. “Minha ideia é passar um tempo com a minha irmã e depois ver que destino dou para minha vida. Aqui não dá mais para ficar”.

O aposentado Aldemar Schenkel, 86 anos, tem o mesmo sentimento. Ele lembra que há três anos não chovia tanto no Paquetá. Além disso, nunca uma inundação castigou tanto os moradores da área como aconteceu em 2023.

“A maioria das pessoas que conheço já quer sair do Paquetá e tem uma boa razão para isso”, reforça. “Não dá para viver assim, medindo o rio a palmo para ver se desce e olhando para o céu com medo. Isso não é jeito de viver”.

Defeso da Piracema

Novembro marca o início oficial do Defeso da Piracema, período no qual ocorre a reprodução de peixes de águas continentais. Durante essa temporada, que segue até o dia 28 de fevereiro de 2024, a pesca em lagos e rios fica proibida.

O pescador Moacir Lopes, 57 anos, disse ter comemorado a chegada da Piracema. Isso porque a proibição ocasiona o pagamento de um salário para os pescadores por parte do Governo Federal. Como já não estava sendo possível pescar, ao menos agora, os pescadores são pagos.

“É um alívio pelo menos durante esse período”, salienta. “A gente até tentou pescar, mas é água demais e o peixe não vem. Além disso, não é só água que desce o rio. Tem muita coisa que acaba arrebentando com as redes. É só prejuízo”.

Aumento de 230% da chuva esperada para o mês

Novembro registrou um aumento de 233,83% no volume de chuva em comparação à média histórica para o período. Segundo o Escritório de Resiliência Climática de Canoas (Eclima), ao longo dos últimos 30 dias, foram acumulados 352,2 milímetros, enquanto o normal para o mês, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), seria de 105,5 mm.

Além de fenômenos climáticos adversos, como fortes chuvas e cheias das bacias dos rios, o penúltimo mês do ano também teve oscilação nas marcas dos termômetros e uma temperatura superior à média histórica mensal (21,7ºC). A mínima de 11,4ºC foi observada no dia 5, enquanto a máxima, de 35,5ºC, aconteceu no dia 21. A média ficou em 23,4ºC, ou seja, quase dois graus a mais do que o habitual para o mês.

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