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À ESPERA DE UM NOVO LAR

Abrigos emergenciais para pessoas atingidas pela enchente são desmobilizados em Canoas

Quase 200 pessoas ainda aguardam por um lugar para recomeçar suas vidas

Publicado em: 09/07/2024 às 17h:30 Última atualização: 09/07/2024 às 17h:43
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Dois meses após a enchente histórica que atingiu quase 90% dos municípios gaúchos, o momento é de reconstrução. Nas fases mais críticas de maio, centenas de abrigos emergenciais se formaram para abrigar quem havia sido desalojado pelo avanço das águas no Estado.

Depois de chegar a ter 24 mil desabrigados e 97 abrigos oficiais, Canoas registrava nesta segunda-feira (8), 191 pessoas acolhidas em quatro espaços. Agora, a maioria das famílias retornou para suas casas para limpar, fazer reparos e tentar retomar a vida. Mas há quem não possa voltar, ou não tenha mais um lar para onde voltar. 

 “Para lá eu não volto”, declara a dona de casa Jaquelinie Pedroso, 32 anos, que morava na rodovia Tabaí. Junto do marido e dos três filhos, ela planeja permanecer no Centro Olímpico Municipal, em Canoas, até que a construção das casas do Centro Humanitário no local seja concluída. “Depois, quero me mudar para outro lugar. Minha casa está torta. Se entrar, cai. Não quero voltar para lá com as crianças”, explica.

Fernanda Assunção da Silva, 18, compartilha os mesmos planos com Jaquelinie. “Vamos ficar nessas casinhas e depois vamos tentar alugar outra casa. Aos poucos, estamos comprando nossas coisas de novo”, conta a mãe do pequeno Arthur Alexandre, com 1 ano e 10 meses. Para Fernanda, o problema são os valores altos de aluguel, que se tornaram impraticáveis para a família.

Fernanda quer se mudar para outro bairro em Canoas, junto do marido e do filho



Fernanda quer se mudar para outro bairro em Canoas, junto do marido e do filho

Foto: Valentina Bressan/Especial

“Não vamos poder voltar para onde morávamos porque o aluguel custava 900 reais e meu marido foi demitido. Teve gente falando que teria Minha Casa Minha Vida, mas não vai. Não queremos voltar para o Mato Grande. Nossa expectativa é voltar para a Rio Branco, mesmo que ali tenha tido enchente, porque já morei ali outras vezes”, diz Fernanda. No início da maio, em meio aos resgates, acabou se perdendo do seu marido. Foram dias até se reencontrarem, porque ela perdeu o celular em meio à água.

A aposentada Maria de Fátima da Silva, 67, já desejava se mudar antes mesmo da enchente. Isso porque a região onde morava, o Paquetá, frequentemente apresentava alagamentos e trazia riscos para a vida dos moradores. Agora, ela diz que não voltará de forma alguma.

“A Prefeitura já devia ter nos tirado de lá. Esse é o momento para tirarem e darem algo que não tenha risco. Já passamos por outros alagamentos, mas nada como agora. Dessa vez entrou em casa e destruiu. Só tem quatro paredes levantadas e as madeiras que sustentavam a casa estão podres. Não tem condições de voltar”, diz Maria.

Maria de Fátima da Silva não vai mais voltar para o Paquetá, onde mora há mais de 15 anos



Maria de Fátima da Silva não vai mais voltar para o Paquetá, onde mora há mais de 15 anos

Foto: Valentina Bressan/Especial

O estado da casa e os riscos apresentados pela umidade e pelo mofo são outro fator que afasta a família do antigo lar. “Tenho vários problemas de saúde e minha filha tem asma. Eu não vou arriscar a minha vida e a vida dos meus filhos”, afirma Maria.

Por enquanto, ela conta não ter recebido orientações sobre a mudança para uma das unidades habitacionais fornecidas pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur). “Minha opção é não voltar para lá. Eu vou esperar que algo seja feito sobre o Paquetá. Não posso pagar aluguel. Ganho salário mínimo e meu marido ganha pouquinho”.

Segundo a aposentada, o aluguel social não é uma opção porque ela teme ficar sem ter onde morar ao término do um ano de benefício. “Depois de um ano, como vou pagar? Não tenho como. Vou morar na rua?”. Há 15 anos ela espera alguma providência sobre as residências do Paquetá.

Nos momentos mais críticos, o Centro Olímpico Municipal alojou 550 pessoas. Agora, é o alojamento com maior número de pessoas alojadas: nesta segunda-feira (8), eram 84. 

Uma oportunidade para recomeçar

O primeiro Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) para pessoas desabrigadas pela enchente foi inaugurado em Canoas na última quinta-feira (4). O Centro, intitulado de Recomeço, fica perto da Refap e tem capacidade para acolher 650 pessoas. Em Canoas, outras unidades habitacionais serão inauguradas no Centro Olímpico Municipal. Estas devem acolher até 800 pessoas. A abertura da segunda cidade temporária está prevista para a primeira quinzena de julho. Por ora, à medida que outros abrigos são desmobilizados, as pessoas desalojadas serão transferidas para o ginásio do Centro Olímpico, onde vão aguardar pelo novo CHA.

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