Além dos prejuízos materiais e físicos, a tragédia climática que devastou o Rio Grande do Sul trouxe impactos à saúde mental e autoestima dos moradores. Em Canoas, um abrigo exclusivo para mulheres em situação de vulnerabilidade e seus filhos recebeu uma roda de escuta e atividades pedagógicas para as crianças.
A ação foi promovida pelo Instituto Maranatha Centro Multidisciplinar de Canoas. A instituição chegou a receber pessoas desabrigadas em sua sede e agora realiza ações nos abrigos do município.
Na tarde da última quinta-feira (23), uma equipe composta por três psicólogos, uma neuropsicopedagoga e um musicoterapeuta visitou o abrigo da Escola Municipal de Educação Infantil Professora Terezinha Tergolina, no bairro Estância Velha. A visita teve como objetivo proporcionar suporte e conforto aos residentes através de diversas atividades.
“Nossos colaboradores estão realizando ações de forma genuína em diversos abrigos, levando doações, arrecadadas em nosso espaço, e fazendo atividades de recreação com crianças. Assim, notamos as necessidades maiores de quem está lá e conseguimos pensar na importância de oferecer também escuta e acolhimento. Além disso, estamos abrigando em parte da nossa sede algumas pessoas que tiveram suas casas atingidas e tudo isso nos faz ver como doar tempo e carinho são essenciais para que se possa seguir em frente”, conta a CEO do Instituto Maranatha, Nara Effel..
“Essas mulheres passaram e seguem passando por muito sofrimento. Muitas delas já tinham histórias de superação diária antes mesmo de serem atingidas por essa triste enchente que assolou o Rio Grande do Sul. Antes de chegar a esse abrigo, elas sofreram abusos físicos e psicológicos e precisam de muito acolhimento. Juntos, podemos ser uma luz de esperança”, comenta Nara.
O Instituto realiza atendimento a crianças, e o abrigo também acolhe crianças neurodiversas. “Nossa ideia foi ir até lá e levar um momento de alívio emocional às crianças e às mães, pois temos consciência que o bem estar de um depende do bem estar do outro”, explica Nara.
Durante a ação, o musicoterapeuta Rodrigo Dias de Souza, a neuropsicopedagoga Zenilda Kasper Drum, e o psicólogo César Augusto Marques dos Santos realizaram oficinas de pedagogia com musicoterapia para 15 crianças e adolescentes que residem no abrigo. As oficinas foram planejadas para oferecer um momento de alívio e alegria, utilizando a música como ferramenta terapêutica.
“Notamos a reação espontânea de felicidade das crianças quando finalizamos a atividade e falamos que voltaríamos para ter esse momento com eles novamente”, conta César.
Para as mulheres abrigadas, a equipe ofereceu acolhimento psicológico. Essa escuta ativa foi realizada pelas psicólogas Luiza Gaudio e Samara Beatriz da Silveira, em um espaço separado para garantir mais privacidade e conforto. “A importância desse espaço reservado se dá pela necessidade dessas mulheres de expressarem suas dores e angústias sem a presença de seus filhos, já que muitas evitam demonstrar fragilidade na frente deles”, de acordo com Luiza.
O deslocamento das mulheres abrigadas em relação aos seus bairros de origem também surgiu como tema na roda de escuta. “Uma das coisas que notamos é que essas mulheres se sentem deslocadas na própria cidade. Muitas não estão acostumadas a sair do seu próprio bairro, e isso traz uma sensação de estar perdida, de não saber como voltar”, comenta Luiza.
A psicóloga também relatou que muitas dessas mulheres mencionaram que a presença de seus filhos é o que as motiva a continuar vivendo, apesar de apresentarem quadros de angústia e ansiedade devido ao medo do incerto. “Elas dizem que precisam estar bem para que possam cuidar bem das crianças. Também tivemos retorno de gratidão por elas poderem ter esse momento individualizado, sem as crianças por perto, para poderem falar e desabafar”, acrescenta Luiza.
Para a manutenção da rotina no local, algumas das mulheres abrigadas também são voluntárias no próprio abrigo e buscam possibilitar um ambiente humanizado durante a estadia. Um exemplo dessa humanização são as roupas que recebem de doação e expõem em uma espécie de brechó para que as abrigadas possam escolher o que mais agrada.
“Com toda essa situação veio o desafio de sermos abrigo. Da mesma forma que essas famílias perderam tudo, elas têm uma necessidade de se sentir acolhidas. É um desafio diário, um desafio de organização, de manutenção e um desafio porque cada família traz uma história e essa história precisa ser desenrolada para a vida de todos poder continuar”, relata a coordenadora do abrigo, Rosângela Fiuza.
O Instituto Maranatha afirma que seguirá realizando visitar e que planeja ações específicas para pessoas autistas.
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