Pessoas que usam aplicativos de transporte em cidades da região, como Novo Hamburgo, têm reclamado de cancelamentos mais frequentes e maior tempo para conseguir acessar um veículo. A qualidade do serviço também é questionada por alguns usuários. Basta uma breve enquete na frente de um shopping na área central de Novo Hamburgo para ouvir críticas a respeito.
Usuária frequente de aplicativos de transporte, Vitória Paranhos, 23 anos, relata que percebe uma diminuição da qualidade do serviço prestado. “Inicialmente, eles estavam ainda concorrendo com o táxi, ofereciam bala, água, tinham ar-condicionado sempre ligado. Sinto que depois da pandemia piorou bastante”, opina.
Camilly Fernanda de Paula Rodrigues, 18 anos, relata outras questões, como a recusa de motoristas em aceitar seu animal de estimação. “Tenho uma cachorrinha e, uma vez, o motorista chegou na frente e disse ‘ah, eu não aceito cachorro’. Aí tivemos que esperar mais meia hora para conseguir outro motorista. É bem chato isso”, explica.
Ela também percebe dificuldade de conseguir motoristas quando está em mercados: “Já aconteceu bastante de motoristas reclamarem ou cancelarem corrida devido a sacolas que eu tinha. Tu vai no mercado e o motorista diz, não levo mercadoria.”
Fernando Apollo, 49 anos, ressalta a importância do respeito mútuo entre motoristas de aplicativo e demais condutores. “Acho que é um serviço útil prestado para a comunidade. Só que alguns deveriam ter um pouco mais de respeito referente ao trânsito, porque param em faixa dupla, por exemplo. Os aplicativos vieram para auxiliar na mobilidade urbana”, pondera.
Respeito e conforto
Motorista de aplicativo, Fernando Luiz Pressi, 47 anos, destaca sua atenção à segurança e ao conforto do passageiro. “Prezo a segurança dele e a minha também, obviamente. Com cuidado no trânsito, respeitando as normas de segurança”, explica o morador de Estância Velha.
Com relação ao passageiro, Pressi afirma que busca proporcionar uma experiência positiva, mantendo o carro limpo e organizado, além de oferecer um atendimento respeitoso e cortês. “Procuro dar um atendimento respeitoso, de qualidade ao passageiro. E procuro deixar umas balas sempre no carro”, acrescenta o motorista.
Parlamentares ganham mais tempo para debater projeto de lei
A percepção de queda na qualidade do serviço surge num cenário de discussão sobre a regulamentação do trabalho nos aplicativos de transporte. O Projeto de Lei Complementar 12/2024, que tramita no Congresso, busca estabelecer direitos mínimos para os motoristas, como remuneração por hora trabalhada e garantias previdenciárias.
Coordenador da frente parlamentar em defesa dos motoristas, o deputado Daniel Agrobom (PL-GO) defende que o projeto em discussão do governo federal não condiz com a realidade da categoria. Ele enfatiza pontos contra os ganhos por hora trabalhada – sua proposta é de usar como parâmetro o quilômetro rodado – e defende uma maior autonomia para o motorista, sem a exigência de jornada de trabalho entre 8 e 12 horas.
Para o deputado, a retirada recente na urgência do projeto vai permitir uma maior discussão da regulamentação pelos próximos dois meses. Ele aponta que existe uma nova proposta, também em tramitação na Câmara, que atende a algumas reivindicações dos motoristas e respeita particularidades regionais. O parlamentar salienta a importância de discutir mecanismos para dar mais segurança aos motoristas de aplicativos.
Cenário estimula novas plataformas
O hábito do uso de aplicativos de transporte e as críticas a alguns deles abrem oportunidade de ampliar o mercado. Neste contexto surgem iniciativas como da Cooperativa de Mobilidade Urbana do RS. Presidente da entidade, Márcio Guimarães afirma que a ideia surgiu como alternativa em meio às dificuldades enfrentadas pelos usuários e motoristas.
“Com o objetivo de proporcionar um trabalho justo e digno por meio do cooperativismo de plataforma, a iniciativa busca dar voz e poder de decisão aos trabalhadores, visando a autogestão e a educação cooperativista como pilares do projeto”, defende.
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De acordo com a entidade, hoje são 1.522 cooperados, sendo 730 ativos na plataforma Liga Coop. “Mas nosso grupo de espera já chega a 4,2 mil motoristas aguardando para fazer o curso básico de Cooperativismo e Economia Solidária. Somente após o curso, este colegas motoristas estão aptos”, explica Guimarães.