UM MÊS APÓS ENCHENTE
"Nada será como antes": Moradores de São Sebastião do Caí convivem com o medo e os desafios de reconstrução
Rio Caí atingiu sua maior marca no dia 2 de maio, levando consigo inúmeras casas
Última atualização: 02/06/2024 20:32
São Sebastião do Caí se transformou em uma cidade marrom, consequência do barro de um Rio Caí que chegou a 17,60m no dia 2 de maio, mais de sete metros acima da cota de inundação. As marcas estão em todas as casas, até mesmo as que possuem dois andares ficaram encobertas. Um mês se passou e o rio está dentro de seu leito, não há mais alagamentos, grande parte dos destroços já foi removida e é feito um intenso trabalho de limpeza e recolhimento de entulhos.
Contudo, nem todos os moradores já puderam voltar para suas casas. Muitos destes, nem mesmo tem casa para voltar. Atualmente, cerca de 50 famílias seguem abrigadas no Ginásio do Rio Branco e outras no Parque Centenário. Aqueles que voltaram para suas casas temem o que pode voltar a acontecer.
É o caso de Remi Petry, de 78 anos, que mora com a esposa e o filho há cerca de 200 metros do Rio Caí, onde a água cobriu os dois andares de sua casa. Com a residência limpa, Remi já comprou alguns móveis e busca um recomeço, mas ao presenciar uma enchente que jamais havia visto em seus 56 anos no local, ele não sabe o que temer no futuro.
Seu cunhado, Valdir Raimundo Ramos, 67 anos, mora na mesma rua. Em 2005, uma enchente entrou em sua casa e ele resolveu reconstruir sua casa 1,70m mais alta. Morando agora no segundo andar, a água chegou lá mesmo assim, “Minha filha, o marido e os filhos moram nesta outra casa no pátio, eles acabaram alugando um outro local e não sabem se voltam. Talvez eu faça o mesmo”, afirma.
O casal Carlos Freitas, 65,e Daiane Freitas, 37, passam por uma situação ainda pior. Moradores da rua Coronel Guimarães, praticamente às margens do rio, tiveram sua casa destruída e levada pelas águas. Os dois ainda têm prestações até 2025 para pagar pelos móveis que compraram após a enchente de 2023. Desta vez, o recomeço será por inteiro. “Estamos tentando voltar ao normal, mas um normal diferente, nada será como antes”, comenta Carlos.
O casal e a filha de 11 anos estão abrigados na casa da mãe de Daiane e aproveitaram o domingo (2) de sol para voltar ao local e buscar por qualquer pertence que encontrar. “Neste momento, até mesmo um garfo e uma faca que encontrarmos precisamos pegar, porque ficamos sem nada e sem ter local para morar. Ficar abrigado por um mês na casa da minha mãe é uma coisa, mas isso não pode ser para sempre”, relata Daiane.