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MOMENTO DE RECONSTRUÇÃO

Três meses após início da catástrofe climática, mais de 660 pessoas em Gramado e Canela ainda estão fora de casa

Chuvas causaram danos e mortes na região; confira como está a situação

Mônica Pereira
Publicado em: 04/08/2024 às 11h:56 Última atualização: 04/08/2024 às 11h:56
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Há três meses, iniciava um dos períodos mais trágicos da história do Rio Grande do Sul. As fortes chuvas, entre o final de abril e os primeiros dias de maio, causaram estragos que ainda são percebidos por diversos cantos. A tempestade persistiu por vários dias e foi trazendo mais destruição. Em Gramado e Canela, conforme dados das prefeituras das duas cidades, há 662 moradores que não conseguiram voltar para casa – e alguns nem poderão mais.

Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado



Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

A tragédia levou a vida de nove moradores da região. Todos por causa de deslizamentos que aconteceram na madrugada no dia 2 de maio. Na Linha Pedras Brancas, no interior de Gramado, foram seis vítimas. Os corpos de Silvio Antônio Pellicioli, de 47 anos, Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e Nitiele Ludvig, de 36, foram encontrados, depois que a casa deles foi levada por uma queda de barreira.

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Os vizinhos Matilde Verônica Zimmermann, de 47, Rudimar Branchine, de 62, e Jocemar Zimmermann Branchine, de 16 anos, também foram a óbito no mesmo episódio.

Uma grande movimentação de massa invadiu a casa em que a gramadense Noeli da Rosa Duarte, de 55 anos, morava e ela acabou morrendo soterrada, na Linha Quilombo.

No Rancho Grande, interior de Canela, o servidor público José Alzemiro de Moraes, conhecido como Mirinho, e a esposa, Marina de Moraes, foram encontrados sem vida, após a casa ser destruída por um desmoronamento.

Convivendo com o luto, a comunidade se uniu para ajudar aqueles que tinham sido afetados de alguma forma. Uma grande corrente de solidariedade se formou com doações e voluntariado.

Com o avanço dos dias de sol e dos estudos para entender os deslizamentos e como recuperar as áreas, obras começaram a ser executadas. Recuperação de ruas, limpezas, drenagens. Com apoio de órgãos, como a Defesa Civil nacional e estadual e o Serviço Geológico do Brasil (SGB), as prefeituras realizaram mapeamentos de pontos de risco e aguardam relatórios finais, que devem demorar alguns meses.

Ainda há muito o que fazer para a recuperação de todos os pontos afetados. O turismo, setor responsável pela economia da região, foi duramente atingido. Com o aeroporto Salgado Filho fechado, hotéis, restaurantes e parques viram a movimentação zerar. As férias escolares de julho e o maior número de turistas circulando deram um alento. Contudo, o consenso é que vai demorar para que as feridas de tudo o que a comunidade viveu cicatrizem.

“Assim que disserem que a gente pode voltar, vamos voltar”

Iracema não vê a hora de voltar para sua casa, no bairro Piratini, em Gramado



Iracema não vê a hora de voltar para sua casa, no bairro Piratini, em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Em Gramado, um dos casos emblemáticos de deslizamento é na Rua Henrique Bertoluci.

No dia 2 de maio, casas foram interditadas na via, que começou a apresentar rachaduras no asfalto. Três meses depois, crateras de mais de cinco metros se formaram, causando o desabamento de várias residências, abrangendo também as ruas Santo André, Afonso Oberherr e Guilherme Dal Ri.

Na última semana, a Prefeitura de Gramado entregou aos moradores de 31 casas que precisarão ser demolidas, as propostas com valor para indenização dos terrenos. Os proprietários devem se reunir com o Executivo novamente no dia 9 de agosto para apontarem se vão aceitar o acordo administrativamente ou se preferirão ingressar na Justiça. As indenizações têm um valor total de R$ 8,8 milhões.

Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado



Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

As chuvas transformaram o bairro. As ruas antes cheias de moradores, ficaram vazias. As casas demolidas darão lugar a intervenções para contenção. De acordo com a Prefeitura, isso vai possibilitar o retorno às casas que não têm danos estruturais.

E quem ainda pode voltar, espera ansiosamente por esse momento. “Assim que disserem que a gente pode voltar, vamos voltar”, declara a moradora da Rua Guilherme Dal Ri, Iracema de Castro, de 64 anos. Ela destaca que mora no local há 60 anos.

A casa nos fundos, em que morava o filho, desabou por cima da dela, mas não causou danos na estrutura. Ela fez pequenas reformas e está aguardando pelo retorno. E sabe que será tudo diferente, pois as residências dos vizinhos terão que ser demolidas. “Só Deus mesmo para explicar tudo o que aconteceu. A gente não imaginava nunca passar por uma coisa dessas”, salienta.

Obras no Três Pinheiros estão 10% concluídas

Um dos bairros de Gramado com risco de deslizamento por causa das chuvas é o Três Pinheiros. Os problemas no local começaram ainda em novembro de 2023. Depois da realização de estudos para diagnóstico, obras para contenção e recuperação iniciaram há cerca de duas semanas e terão um investimento de R$ 4,1 milhões, dividido em verba federal e municipal.

A empresa contratada para a execução é a Roxor Serviços e Locação de Equipamentos, que tem prazo de seis meses para a conclusão dos trabalhos. Segundo os responsáveis, 10% do serviço está concluído. O canteiro de obras foi estabelecido e as equipes deram início às perfurações para a instalação dos instrumentos necessários para a construção de uma nova cortina de contenção e também reforço da existente.

A obra é encarada como uma solução para que os moradores possam ter segurança para ficar nas casas, mesmo quando houver registro de mais de 51 mm de chuva.

37 famílias voltaram para casa no Loteamento Orlandi

Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos



Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Depois de uma primeira intervenção de drenagem “radical”, os resultados se mostraram positivos e diminuíram a movimentação do solo, que ocasionou deslizamentos no Loteamento Orlandi, no bairro Várzea Grande, em Gramado. Com isso, 37 famílias podem retornar para as residências, após mais de dois meses.

Ainda há sete casas que estão marcadas com a cor amarela, que significa risco moderado. Para elas, será necessário aguardar novas obras que serão realizadas antes da autorização de retorno. Também estão identificadas 12 casas em vermelho, em área considerada de risco elevado. Esses lotes estão, de acordo com o Executivo, próximos da ruptura do solo e com as estruturas das casas danificadas. Dessa forma, não existe prazo para a desinterdição.

Estudos na Estrada Velha

Desmoronamento atingiu bairro Dutra, em Gramado



Desmoronamento atingiu bairro Dutra, em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Outro ponto de deslizamento em Gramado é a área da Rua Emílio Leobet, a Estrada Velha, que compreende também o entorno da Rua Gil e parte do bairro Dutra. Na localidade, os primeiros levantamentos constataram três rupturas em diferentes pontos.

A secretária de Meio Ambiente, Cristiane Bandeira, declara que um estudo foi contratado e começou a ser executado. “Estamos fazendo as sondagens, topografias e investigação do subsolo. Em alguns meses, teremos os resultados. Acreditamos que serão necessárias intervenções para drenagem”, pondera. Por segurança, a via tem o fluxo de veículo interrompido à noite e as casas do entorno ainda não foram liberadas para retorno dos moradores.

Obras para ajudar o trânsito

Foram inúmeros danos nas estradas e ruas da região, causados pelas fortes chuvas. Na sexta-feira, dia 26, depois de estar bloqueada desde maio, a segunda pista da RS-235, nas proximidades do posto de combustível Abastec, foi liberada. A encosta desabou por causa de um deslizamento de terra e o trânsito estava fluindo de forma parcial desde então. Segundo a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), um estudo está sendo realizado para que haja uma solução definitiva no local.

Também na rodovia entre Canela e Gramado, no quilômetro 36, perto do Parque Knorr, as obras estão ocorrendo. A execução da contenção deve ser concluída em cerca de 20 dias, dependendo de condições climáticas favoráveis.

Um dos desafios em Canela é a recuperação de 13,6 quilômetros da Rota Panorâmica, que deve custar R$ 4,3 milhões. A via continua com trânsito bloqueado, seguindo até as proximidades com a Ponte Passo do Louro. O contrato de reconstrução da ponte danificada, inclusive, foi assinado na última semana. O valor total será de R$ 834 mil, com prazo de 120 dias para a conclusão da obra. A Secretaria de Obras de

Canela também tem trabalhado para reparar e melhorar as estradas do interior, que são vitais para o escoamento da produção agrícola e a mobilidade dos moradores.

Canela assina contrato para construção de 66 casas populares

Na última semana de julho, foi firmado o contrato para a construção de 66 casas populares em Canela. A assinatura do contrato, no valor de R$ 1,2 milhão, marca o início das obras no Loteamento Recomeçar, no bairro São Lucas, que serão destinadas às famílias que tiveram as casas interditadas por estarem em áreas com risco de deslizamentos. O prazo de execução é de um ano. Os beneficiados poderão pagar o terreno, casa e infraestrutura de água, luz e esgoto em até 20 anos.

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