VALE DA EXTORSÃO

"Terra sem lei": Quadrilha expande pedágio a pequenos comerciantes em Novo Hamburgo

Bandidos chegam armados, dizem que estão a serviço de facção e avisam: "Se não pagar, vai ser pior"

Publicado em: 12/11/2023 18:40
Última atualização: 12/11/2023 19:59

A insegurança no comércio chegou ao ponto de assalto ser um mal menor. Donos de pequenos negócios vivem o drama da extorsão continuada em Novo Hamburgo. Homens armados, que dizem estar a serviço de facção, vão a lojas e cobram “taxas de sobrevivência”. Avisam: “Se não pagar, vai ser pior”. Uma vítima de 45 anos arcou com cerca de mil reais em outubro. “É muito para minhas condições, mas o que vou fazer? Parece uma terra sem lei.”

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De armas em punho, criminosos fazem vídeos na frente de lojas das vítimas Foto: Reprodução

O chamado “pedágio do crime” não é novo no Vale do Sinos. Eclodiu em 2016, com a cobrança de elevados valores a empresários sob ameaça de sequestro e morte. Passavam de R$ 200 mil, com possibilidade de parcelamento. A extorsão foi se popularizando. “Conheço lojistas pobres, como eu, que estão pagando”, relata o mesmo comerciante, que pede para não ter o ramo de negócio e bairro revelados. Atormentado, mede cada palavra. Evita detalhar quanto já desembolsou e qualquer outro dado que possa levar a ele.

Controle

Ao contrário de golpes, quando a cobrança é um blefe que se restringe às redes sociais, como o WhatsApp, o hamburguense sofre ameaça presencial. No primeiro achaque, no início de outubro, dois desconhecidos chegaram em um carro importado e falaram que estavam representando a facção que controla a região.

Exigiram, conforme ele, pedágios de R$ 100. E voltaram para cobrar. “Consegui pagar algumas vezes. Agora em novembro ainda não vieram, não sei por quê.” Para a vítima, a trégua é temporária. “Vão voltar”, conforma-se, já preparando o apertado orçamento. O modelo e a cor do automóvel usado pelos quadrilheiros não são revelados pelo risco de vingança.

Ameaças incluem ordem para não denunciar

São diferentes quadrilhas, mas todas ordenam que as vítimas não procurem a Polícia. Elas se comportam como milícias, impondo mensalidade em troca de “segurança”. A grande maioria dos comerciantes lesados, preocupada com represálias, obedece. Paga para não se incomodar.

Em uma das mensagens, bando exige lealdade das pessoas extorquidas, promete a segurança e avisa que vai se vingar de quem faz denúncias à polícia e à imprensa Foto: Reprodução

Quando uma vítima rompe o silêncio, vem a ira dos quadrilheiros por meio de mensagens, como as enviadas para donos de revendas de automóveis no primeiro semestre deste ano. Reclamavam até da abordagem do assunto na imprensa e ameaçavam incendiar lojas de quem supostamente delatou o esquema.

O ramo de veículos tem sido o principal alvo, em várias cidades. Em Campo Bom e Estância Velha, vitrines já foram estilhaçadas. Em Novo Hamburgo, há vídeos em que criminosos exibem armas na frente de revendas para ameaçar de morte os donos e familiares.

No Vale do Paranhana, em outubro de 2021, executores com trajes militares gravaram o assassinato de um jovem de 18 anos na frente de uma loja de carros à margem da RS-239, em Taquara, e fuzilaram todos os automóveis em exposição. Parobé é outra cidade onde o “pedágio do crime” está enraizado.

Com fartura de celulares, comando vem dos presídios

Em investigações bem-sucedidas, foi descoberto que a extorsão era coordenada por presos. Numa operação em julho deste ano, a 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo apreendeu 41 celulares na galeria de três detentos da Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas.

Os apenados, de 42, 28 e 26 anos, usavam os aparelhos para articular o esquema. Membros da facção do Vale do Sinos que explora o mercado da droga em grande parte do Estado, eles estão recolhidos por homicídio, tráfico, roubo e receptação.

A operação, com o nome sugestivo de Fake Security (segurança falsa, em inglês), prendeu quatro mulheres, de 22, 26, 27 e 52 anos, em São Leopoldo e Campo Bom, além de cumprir mandados de busca em Novo Hamburgo. Elas eram as responsáveis pela movimentação bancária da extorsão, que arrecadou R$ 2,5 milhões em oito meses. Cobravam mensalidade não só de comerciantes, mas também de moradores de condomínios.

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