COLHEITA
Tempo de vindima: clima favorece doçura da uva e produtores comemoram qualidade
Consumidores podem esperar fruta in natura, vinhos, espumantes e sucos com sabor especial
Última atualização: 22/01/2024 16:03
Os holofotes sobre a vindima, período em que as uvas são retiradas dos parreirais para posteriormente virarem espumante, vinho, suco ou serem apreciadas in natura, estão intensos. A colheita começou em janeiro, com produtores comemorando a qualidade da fruta e na torcida para, literalmente, colher "bons frutos" nos meses de fevereiro e março.
Os dados de produção de uva deste ano ainda não estão disponíveis, mas devem ficar nos níveis do ano passado. Conforme a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), em 2022, por exemplo, a safra da uva para industrialização no Estado teve uma produção de mais de 683 mil quilos de uvas viníferas, americanas e híbridas, uma queda de 7% sobre o ano anterior.
"O que se pode falar sobre a safra de 2023 é que as uvas estão com uma qualidade muito boa, porém não é um ano excepcional. O que está sendo colhido pelos produtores está dentro da normalidade", informa o extensionista rural e enólogo na Emater de Bento Gonçalves, Thompson Benhur Didoné.
Produto final
A qualidade de uva reflete diretamente no produto final, seja na espumante, vinho, suco ou in natura. Segundo a Emater de Bento Gonçalves, na região da Serra Gaúcha, em janeiro, foram colhidas para vinho e espumante as variedades Chardonnay, Riesling itálico e Pinot Noir das uvas viníferas, além das americanas Bordô, Concord Clone 30 e Isabel Precoce, essas últimas para vinho e suco. Para a mesa também estão em colheita a Vênus, Niágara Branca, Niágara Rosada, Itália, Rubi e Benitaka.
O extensionista acrescenta que ainda é cedo para dar previsões sobre o volume da safra. "Preferimos aguardar um pouco mais, porque a maior parte da uva é colhida em fevereiro e março e, dependendo da chuva, poderá ser até normal ou menor. Em nossa região há poucos problemas com a seca, porque o déficit hídrico proporciona mais qualidade da fruta."
Trabalho de 15 mil famílias
A chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) da Secretaria da Agricultura, Fabíola Boscaini Lopes, aponta que 15 mil famílias estão envolvidas na cultura da uva no Rio Grande do Sul. Além desse montante, mais de 650 vinícolas estão registradas.
"É uma cultura que mantém as famílias de agricultores no campo, pois agrega bastante valor aos produtos, melhora a qualidade de vida, da propriedade rural e da região, pois em muitas regiões está diretamente ligada com o enoturismo. Hoje, temos vinícolas em todas as regiões do Estado, não sendo apenas concentrada a produção na tradicional região da Serra gaúcha."
Otimismo na propriedade de Garibaldi
Em Garibaldi, em uma área pertencente ao Vale dos Vinhedos, quem produz vinhos finos também tem expectativa positiva na colheita. Mateus Batistelo, que dirige a Vinícola Dom Bernardo ao lado do irmão Maurício Batistelo, é seguro ao dizer que "o ano de 2023 promete ser uma safra boa. Está longe de ser ruim", destaca, citando que Chardonnay e Pinot estão apresentando uma boa sanidade.
A colheita dessas variedades começa em fevereiro e deve se estender até março. Em cinco hectares, a família Batistelo tem 12 castas: Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, Shiraz, Malbec, Tempranillo, Marselan, Chardonnay, Rebo, Petit Verdot, Tannat e, mais recentemente, a Chardonnay.
Primeiros vinhos em três meses
As uvas que estão chegando à Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves, resultarão em vinhos prontos daqui a três meses.
"São vinhos que não precisam de estabilização em barris de carvalho", explica Ana Maria de Paris Possamai, gerente de turismo. Já o suco de uva tem processo mais rápido e em aproximadamente 40 dias estará disponível.
Controle de qualidade
A chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) da Secretaria da Agricultura, Fabíola Boscaini Lopes, informa que no Estado, devido à grande importância desta cultura, todo o controle da qualidade deste produto ofertado à sociedade é realizado, por delegação de competência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Assim. Os fiscais estaduais agropecuários controlam a produção nos estabelecimentos produtores, no comércio e no trânsito. As amostras dos produtos coletados vão para análise no Laboratório Estadual de Referência Enológica (Laren), que existe desde 2001. A existência desse laboratório está relacionada à melhoria da qualidade dos produtos vitivinícolas ofertados à sociedade. "Podemos afirmar que esse controle realizado pelos fiscais e pelo Laren contribuiu fortemente para esse salto em qualidade", acrescenta.
Manejo adequado agrega valor às uvas
Além da influência do clima nos parreirais, o manejo adequado e a tecnologia favorecem a qualidade das uvas cultivadas na Serra gaúcha. Ricardo Morari, presidente da ABE, acrescenta que é necessário valorizar os trabalhos nos vinhedos.
"Nos últimos anos, avançamos muito na questão de manejo. Hoje, mesmo com condições climáticas muitas vezes não favoráveis, conseguimos bons resultados, através do manejo dos vinhedos e das tecnologias", observa Morari.
Thompson Benhur Didoné, que atua na Emater de Bento Gonçalves, reforça que, cada vez mais, a indústria passa a exigir qualidade da matéria-prima e que o produtor tem essa consciência.
Em Bento Gonçalves, por exemplo, há um programa municipal de incentivo à produção de uvas de qualidade superior por meio de espaldeiras - sistema de manejo de uvas de forma vertical. Na prática, o projeto executado em Bento Gonçalves concede um subsídio de 50% do valor das mudas para o plantio de um hectare por ano com até 30 horas/máquina.
Sucessão rural como projeto de vida
A extensionista rural social e chefe de escritório da Emater de Vale Real, Elisângela da Conceição Luciano, salienta que a uva lidera a agricultura em Vale Real. No entanto, há uma preocupação quanto ao futuro da atividade econômica.
Os jovens, em sua visão, deveriam apostar na produção de uva como um negócio próprio. Muitos, explica, interrompem o ciclo de gerações de famílias que se sustentaram com o cultivo da fruta. Para Elisângela, o ideal, sustenta, seria que jovens ingressassem em projetos de estímulo à continuidade da produção de uva, como o da Emater e do Sicredi.
Período reflete no turismo
As vinícolas estão em um momento especial. A chegada da uva com a visitação de turistas aos espaços movimentam o setor. Na Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves, por exemplo, de um lado da rua, caminhões dos cooperativados chegam carregados com a fruta, e de outro lado, ônibus de turismo estacionam para visitantes ingressarem nos espaços da vinícola e conhecerem como é esse mundo da fruta e do vinho.
A gerente de turismo da vinícola, Ana Maria de Paris Possamai, destaca que o período da colheita da safra é muito bonito. A vindima atrai visitantes interessados em conhecer a região, a cultura da uva e do vinho, que foi trazida pelos imigrantes italianos, e, ao mesmo tempo, provam e aprendem mais sobre a bebida.
Uva mais doce em Vale Real
Ao pé da Serra Gaúcha, produtor de Vale Real confirma a qualidade da fruta este ano. No município, que ocupa o terceiro lugar dos dez maiores produtores de uva do Estado, pelo sistema de cultivo sequeiro, o agricultor familiar Nestor Carlos Bertuol, 68 anos, começou 2023 com o pé direito. Ele está entre os 60 produtores de uva, distribuídos nas localidades de Forqueta Baixa e Morro Gaúcho. Embora a colheita tenha atrasado, por conta das temperaturas mais baixas entre outubro e novembro, a uva colhida de dezembro para cá está doce.
"Agora está chovendo pouco e o grau Brix (grau de doçura) aumenta e o tamanho está ideal porque temos cuidado no manejo, garantindo uma presença melhor no cacho", salienta Bertuol, que cultiva as variedades Niágara rosa e branca, Vênus, Isabel e Bordô para vender na Ceasa e mercados da fronteira.
O agricultor de Forqueta Baixa prevê que a colheita se estenda até março. A previsão deste ano é de colher 100 toneladas, por conta do aumento de área de plantio em um hectare. Se não fosse essa nova área, acrescenta, poderia ter uma redução na produção entre 25 e 30%, por conta das noites mais frias de setembro, época das florações.
Este ano, a Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, prevê receber 75 milhões de quilos de uva, 10% a mais se comparada com a colheita anterior, que chegou aos 66 milhões de quilos. A gerente de turismo da vinícola, Ana Maria de Paris Possamai, declarou na metade deste mês (janeiro) ao Agronegócio do Grupo Sinos, que a colheita de 2023 está excelente. "A pouca chuva favorece as uvas, porque concentra mais açúcar e coloração, o que gera produtos de altíssima qualidade. Estamos muito felizes", destaca.
Também a Videira Carraro, vinícola de Bento Gonçalves, destaca que os consumidores terão sucos e vinhos com muito aroma e sabor. O empresário Jean Carraro prevê para este ano uma produção de 95 toneladas. Embora menor que a de 2022, que ficou em 110 toneladas, a qualidade está garantida se as condições climáticas permanecerem sem chuvas.
Ao pé da Serra Gaúcha, produtor de Vale Real confirma a qualidade da fruta este ano. No município, que ocupa o terceiro lugar dos dez maiores produtores de uva do Estado, pelo sistema de cultivo sequeiro, o agricultor familiar Nestor Carlos Bertuol, 68 anos, começou 2023 com o pé direito. Ele está entre os 60 produtores de uva, distribuídos nas localidades de Forqueta Baixa e Morro Gaúcho. Embora a colheita tenha atrasado, por conta das temperaturas mais baixas entre outubro e novembro, a uva colhida de dezembro para cá está doce.
"Agora está chovendo pouco e o grau Brix (grau de doçura) aumenta e o tamanho está ideal porque temos cuidado no manejo, garantindo uma presença melhor no cacho", salienta Bertuol, que cultiva as variedades Niágara rosa e branca, Vênus, Isabel e Bordô para vender na Ceasa e mercados da fronteira.
O agricultor de Forqueta Baixa prevê que a colheita se estenda até março. A previsão deste ano é de colher 100 toneladas, por conta do aumento de área de plantio em um hectare. Se não fosse essa nova área, acrescenta, poderia ter uma redução na produção entre 25 e 30%, por conta das noites mais frias de setembro, época das florações.
Este ano, a Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, prevê receber 75 milhões de quilos de uva, 10% a mais se comparada com a colheita anterior, que chegou aos 66 milhões de quilos. A gerente de turismo da vinícola, Ana Maria de Paris Possamai, declarou na metade deste mês (janeiro) ao Agronegócio do Grupo Sinos, que a colheita de 2023 está excelente. "A pouca chuva favorece as uvas, porque concentra mais açúcar e coloração, o que gera produtos de altíssima qualidade. Estamos muito felizes", destaca.
Também a Videira Carraro, vinícola de Bento Gonçalves, destaca que os consumidores terão sucos e vinhos com muito aroma e sabor. O empresário Jean Carraro prevê para este ano uma produção de 95 toneladas. Embora menor que a de 2022, que ficou em 110 toneladas, a qualidade está garantida se as condições climáticas permanecerem sem chuvas.
Maiores produtores
Uvas para mesa
Cultivo de sequeiro:
- 1º Bento Gonçalves
- 2º Farroupilha
- 3º Vale Real
- 4º Caxias do Sul
- 5º Veranópolis
- 6º Cotiporã
- 7º Alto Feliz
- 8º Alpestre
- 9º Antônio Prado
- 10º São Marcos
- Cultivo irrigado
- 1º Flores da Cunha
- 2º Farroupilha
- 3º Caxias do Sul
- 4º Nova Pádua
- 5º São Marcos
- 6º Bento Gonçalves
- 7º Pelotas
- 8º Campestre da Serra
- 9º Nova Roma do Sul
- 10º Ametista do Sul
Uvas para indústria
Cultivo de sequeiro:
- 1º Flores da Cunha
- 2º Bento Gonçalves
- 3º Farroupilha
- 4º Caxias do Sul
- 5º Garibaldi
- 6º Monte Belo do Sul
- 7º Antônio Prado
- 8º Pinto Bandeira
- 9º Nova Pádua
- 10º São Marcos
Cultivo irrigado:
- 1º Flores da Cunha
- 2º Nova Roma do Sul
- 3º Sant. do Livramento
- 4º São Marcos
- 5º Maçambará
- 6º Sarandi
- 7º Barão
- 8º Planalto
- 9º São Borja
- 10º Butiá
Os dados de produção de uva deste ano ainda não estão disponíveis, mas devem ficar nos níveis do ano passado. Conforme a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), em 2022, por exemplo, a safra da uva para industrialização no Estado teve uma produção de mais de 683 mil quilos de uvas viníferas, americanas e híbridas, uma queda de 7% sobre o ano anterior.
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Os dados de produção de uva deste ano ainda não estão disponíveis, mas devem ficar nos níveis do ano passado. Conforme a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), em 2022, por exemplo, a safra da uva para industrialização no Estado teve uma produção de mais de 683 mil quilos de uvas viníferas, americanas e híbridas, uma queda de 7% sobre o ano anterior.