O Teatro Municipal de Canela, conhecido como Teatrão, ganhará novamente vida. Duas peças serão apresentadas nos dias 10 e 11 de agosto, produções da diretora e atriz canelense, Lisi Berti, que dá aulas há mais de 30 anos.
O espaço, que é administrado pela Prefeitura de Canela, não recebe exibições desde o Sonho de Natal, em 2022, quando algumas atrações ocorriam aos finais de semana. Contudo, quando se fala em apresentações privadas, o tempo se torna ainda maior – praticamente uma década.
“Uma das coisas que me motiva a fazer essa loucura é que o teatro ficou muitos anos fechado. Poucas apresentações ocorreram ali, mas com grupos de fora. Vai ser a primeira vez em muitos anos que vamos ter alunos da cidade, da região, pisando no teatro e envolvendo a comunidade, o público indo assistir”, comemora Lisi.
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Estrutura com problemas
“Nosso objetivo é lotar o teatro, mesmo que ele se encontre em um estado não tão apropriado, inclusive, vamos ter que fazer umas adaptações. Mas é muito importante que a gente se aproprie da nossa história e não olhe para ele apenas como um prédio abandonado e sim um local que tem muitas histórias e que é possível ter mais se tiver um olhar do poder público de atenção”, pontua a diretora.
O teatro na cidade tem mais de 100 anos de história. Canela foi reconhecida, inclusive, por seus eventos que tinham visibilidade nacional e internacional, como o Festival de Teatro e o Festival de Teatro de Bonecos, que foram interrompidos e não realizados nos últimos anos.
Lisi, inclusive, foi contemplada em edital da Lei Paulo Gustavo e realiza um documentário sobre o teatro no município, para resgatar a história desde a década de 1920. “Eu sou fruto do teatro de Canela, o teatro faz parte do DNA, de sua história. Canela teve inclusive uma escola nos anos 1960, que durou cinco anos”, relembra.
Em 2021, ainda sob a gestão do ex-secretário de Turismo e Cultura Ângelo Sanches, preso na Operação Cáritas, o Teatrão passou por 90 dias de obras. Reformas foram realizadas em parceria com a iniciativa privada, na infraestrutura, como no telhado e calhas, devido à presença de goteiras. Foram cerca de R$ 200 mil investidos em melhorias, até mesmo na iluminação e acústica do prédio, assim como portas antipânico foram instaladas e feitas adequações de proteção contra incêndios, solicitadas pelo Corpo de Bombeiros.
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A ideia, na época, era que o prédio fosse entregue à comunidade, para ser aproveitado ao máximo e que o setor cultural na cidade fosse o maior beneficiado, principalmente após os impactos da pandemia de Covid-19. Estudou-se, inclusive, a concessão do teatro. Contudo, nada ocorreu.
Em 2022, o prédio ainda recebeu novas apresentações do evento natalino. Em 2023, as atrações passaram a ser realizadas no multipalco, no lado externo, também na Praça João Corrêa.
Segundo o secretário de Turismo Gilmar Ferreira, a decisão da mudança foi motivada pela maior visibilidade do turista. “É uma decisão estratégica, há possibilidade que o turista que está passando pelo Centro, pare e acompanhe”, coloca.
Atualmente, a estrutura está novamente precária, com goteiras e problemas em partes do piso, conforme visualizado pela reportagem. “Espero honestamente que a cidade queira assistir teatro, porque precisamos formar plateia, que a gente tenha uma reforma decente ou teatro decente, e esse olhar mais sério pela cultura. Que o teatro volte a ser o grande protagonista como já foi”, finaliza Lizi.
Revitalização do teatro
O secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Ferreira, afirma que existem planos para revitalizar o teatro. “Acredito que no segundo semestre a gente consiga focar mais nisso. Mas algumas ações pontuais foram feitas, como elétrica e as próprias goteiras foi tentado corrigir”, coloca.
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A ideia é criar uma legislação para que o valor arrecadado através das reservas do espaço sejam convertidas em melhorias. “Temos tentado trabalhar com o teatro, pelo menos para que as pessoas possam usufruir dele. Estamos trabalhando numa lei para que a gente consiga cobrar pelo espaço, por enquanto estamos fazendo cedência não-onerosa, mediante reserva que é feita diretamente com o Departamento de Cultura”.
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As peças que vão estrear
Os 40 estudantes das turmas de montagem teatral 1 e 2, esperam que as 300 cadeiras do empreendimento estejam ocupadas, para as estreias nos dias 10 e 11.
As Bruxas de Salém, de Arthur Miller, terá apresentações às 15 horas e retrata os julgamentos das bruxas no século 17. O espetáculo inicia com meninas dançando na floresta e participando de rituais proibidos. A peça tem duração de 1h30.
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Já “O Rinoceronte” de Eugéne Ionesco, às 20 horas, tem como história os habitantes de uma cidade que são atacados por uma moléstia e aos poucos vão se transformando em rinocerontes. Os ingressos antecipados são R$ 20 e podem ser adquiridos no Gazebo Cultural e na Criativa Leitura. Na hora, a entrada será R$ 40.
“Que a casa esteja lotada”
Rodrigo Jorge Bach, de 40 anos, é morador de Canela e trabalha com teatro há 24. Ele interpreta John Proctor, um dos protagonistas de Bruxas de Salém. “Estou bem ansioso. Acho que é importante esse friozinho na barriga antes. E será muito legal ver o teatro ocupado, pois a cidade tem duas casas que poderiam estar recebendo espetáculos e estão fechadas”, pontua.
A canelense Taine Leite, de 25 anos, faz o papel de Abigail, também uma das protagonistas da peça. “É um desafio interpretar ela, pois sempre fiz personagens boas, é bem cansativo ser do mal. Mas a gente espera que a casa esteja lotada”, conclui.
“Que as pessoas retornem ao teatro, depois de tanto tempo sem”, celebra a atriz de Canela, Rita dos Reis, de 30 anos.