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MERCADO DE TRABALHO

Sob impacto das enchentes, região fecha mais de 5,3 mil postos de trabalho; veja números por cidade

De 43 cidades avaliadas, apenas três não tiveram resultado negativo em maio

Susete Mello
Publicado em: 02/07/2024 às 06h:30 Última atualização: 02/07/2024 às 07h:42
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A região gerou menos vagas de trabalho em maio. No total de 43 municípios o saldo negativo foi de 5.351 empregos a menos, resultado das 22.192 demissões contra 16.841 admissões.

Os dados refletem o desempenho do Estado: conforme do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho, o País criou 131,8 mil novos empregos – mas o RS perdeu 22 mil vagas no mercado de trabalho. O próprio ministro do Trabalho, Luís Marinho, atribui o número negativo aos reflexos das enchentes.

Milhares de postos de trabalho foram fehados em m,aio no Rio Grande do Sul, refelxo das enchentes | abc+



Milhares de postos de trabalho foram fehados em m,aio no Rio Grande do Sul, refelxo das enchentes

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“As cidades que foram diretamente afetadas viram esse número do desemprego crescer, contudo percebe-se que os municípios que não foram afetados pelas inundações, acabam indiretamente sendo, porque os fornecedores estão em outros locais, seus clientes, enfim, todos perdem”, avalia o economista José Antônio Ribeiro de Moura, professor da Universidade Feevale.

Das 43 cidades da região, 40 tiveram mais demissões do que admissões. As que mais demitiram foram Canoas (-1.295), Gramado (-918), São Leopoldo (-644) e Novo Hamburgo (-608), municípios que foram gravemente atingidos pelas cheias de maio. Em São Leopoldo, a maior queda foi no setor de comércio, enquanto nas outras três cidades o principal setor a fechar vagas foi o de serviços.

Sobre o futuro, o economista aponta que não há indicativo de que determinado segmento possa se sobressair em contratações, uma vez que os empresários não tiveram acesso ao dinheiro público e reclamam muito dessa letargia.

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“Quando o empresário procura o órgão público para pleitear a liberação dos recursos, é informado que ainda não está regulamentado, ou então a exigência de estar ‘quites’ com as obrigações tributárias. Para uma situação de anormalidade, os critérios de auxílio tem que ser mais ‘relaxados’”, acredita Moura.

O economista reforça que sem dinheiro para reconstrução do negócio e capital de giro, os negócios pode travar. “Devido à essa dificuldade que provoca incertezas no curto prazo, o empresariado tende a se manter estático, o que pode provocar que as demissões ocorram em maior numero novamente”, salienta.

Tabela Caged Maio 2024 | abc+



Tabela Caged Maio 2024

Foto: GES

Realidade diferente

Na contramão da maior parte do Estado, Tupandi (+22) e Santa Maria do Herval (+2) tiveram saldo positivo, com mais pessoas empregadas do que desempregadas. Em Salvador do Sul o saldo entre demissões e admissões ficou zerado.

Nos dados do Caged de abril, antes das enchentes, o Estado teve positivo com 13.512 novos postos de trabalho com carteira assinada. As três cidades com mais admissões em abril foram Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo, com 645, 631 e 315, respectivamente.

Na expectativa do apoio

João Ari da Luz Modesta é proprietário de uma indústria de plásticos no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, que foi fortemente atingida pela enchente de maio. Com 16 funcionários na empresa, ele afirma que está “fazendo o impossível” para manter o emprego dos colaboradores. “Estamos segurando para não desligar ninguém. Estamos nos virando, pois as verbas do governo ainda não vieram, mas estamos na expectativa”, relata.

O diretor da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos, Fauston Saraiva, é crítico ao que foi feito até agora em relação a este quadro. ““São números preocupantes. Refletem o momento que estamos enfrentando no Estado em razão da crise das enchentes. Isso só reforça a cobrança que estamos fazendo, principalmente ao governo federal, para que tome ações efetivas e envie recursos para a reconstrução do Estado, pois até agora nada foi feito”, diz.

A reversão da queda nos próximos meses, conforme o dirigente, está ligada também à liberação de crédito para capital de giro, recuperação de unidades e aquisição de equipamentos que foram atingidos. “A ACI-NH e todas as ACIs do Rio Grande do Sul, juntamente com a Federasul, estão atuando para que recursos sejam liberados rapidamente, as atividades produtivas voltem aos níveis normais e as contratações sejam retomadas”, acrescenta.

“Estamos segurando no peito”

Giullia Oliveira, 24, é proprietária de um restautrante, localizado dentro de uma empresa, no bairro Liberdade, em Novo Hamburgo. Ela precisou readequar o número de funcionários a demanda do restaurante, já que o número de almoços diários diminuiu. “Não chegou a entrar água dentro do restaurante, mas bateu na porta. Ficamos fechados 15 dias e retornamos com 10% da demanda. Nosso público-alvo são os funcionários da empresa e muitos não conseguiram voltar ao trabalho ainda.”

Segundo a proprietária, dos 300 almoços que eram vendidos antes da enchente, agora estão vendendo apenas 100. “Tivemos que demitir dois funcionários por enquanto. Estamos segurando no peito, pois se tivesse mesmo, teríamos que demitir mais, mas estamos tentando manter, até porque os nossos colaboradores moram em bairros que foram atingidos pela enchente e perderam tudo e estamos tentando ajudar” , diz.

Em São Leopoldo, o comércio sofre

Em São Leopoldo, o comércio fechou com saldo negativo de 399 vagas. “O comércio tem uma gama muito grande de pequenos negócios, que, quando sofrem um impacto como esse, têm dificuldade maior de reabrir. É diferente das grandes indústrias, por exemplo. Temos olhado muito para esses pequenos empreendedores”, afirma o secretário Juliano Maciel, do Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico, que prefere esperar pelos números do trimestre para uma melhor avaliação.

“Para uma análise mais segura, precisamos aguardar o saldo de junho e julho. Numa análise trimestral conseguiremos medir melhor o tamanho do impacto da enchente e os efeitos das medidas de retomada implementadas até aqui”, observa.

Ele pontua que maio quebrou uma sequência positiva no ano: no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024, o saldo de empregos na cidade é positivo em 375 vagas.

O programa Supera São Léo, lançado pela prefeitura há alguns dias, tem foco em ajudar micro e pequenas empresas, além de Microempreendedores Individuais (MEIs). “2024 já é um ano comprometido, mas temos que aguardar a retomada, com os auxílios e o dinheiro entrando na economia local”, destaca o secretário. “Acredito que a retomada vá ser devagar. Não conseguimos projetar de maneira mais otimista, e nos próximos meses é que vamos vislumbrar o impacto do que aconteceu”, completa.

Busca pela carteira assinada

Tarso Borges Pinarelo, 24, está entre os milhares de atingidos pela enchente em Canoas. A cheia dos rios afetou a vida do jovem duplamente. O morador do bairro Rio Branco, além de ter a casa inundada, perdeu o trabalho que exercia na informalidade na Ceasa de Porto Alegre e a situação se agravou. 

Pinarelo conta que o último emprego com carteira assinada foi em 2023. “Desde o início do ano, estou trabalhando na informalidade. Sou da área de serviços gerais. Faço pintura, corte de grama, descarga de caminhão, estoque. O que aparecer, estou disposto a fazer”, enfatiza ele, que segue na busca pelo trabalho formal. “Sigo no abrigo da Prefeitura, ainda não tenho previsão de retornar para casa. Permaneço procurando um trabalho formal, mas até acontecer, o jeito é aceitar o que aparece”, finaliza.

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