Falta de rodoviárias, linhas, horários e integração que nem sempre funciona entre trem e ônibus. Este pode ser um resumo do que os usuários do transporte coletivo enfrentam diariamente na região metropolitana de Porto Alegre. O resultado é que a cada ano diminui o volume de passageiros transportados. Em 2012, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) registrou 142,2 milhões de usuários no transporte coletivo. No ano passado, foram 66 milhões, uma queda de 53% em relação há dez anos.
Para buscar alternativas e melhorar o serviço, será realizada nesta quinta-feira (13) uma audiência pública sobre a situação do transporte coletivo em Porto Alegre e região. O encontro, proposto pelo deputado estadual Miguel Rosseto, tem início às 10 horas no Plenarinho da Assembleia Legislativa, e deve reunir representantes da Metroplan, Trensurb e prefeitura de Porto Alegre.
Além disso, a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) e a Metroplan firmaram um convênio no final de março. A ideia é elaborar estudo de integração operacional entre os sistemas municipais de transporte coletivo urbano e o sistema estadual de transporte metropolitano coletivo de passageiros.
A proposta abrange os 18 municípios da Granpal, sendo que seis deles integram a região de cobertura do Grupo Sinos: Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul.A ideia é que haja um sistema único de transporte coletivo, proposta que tem 12 meses para ser elaborada. O diretor-superintendente da Metroplan, Francisco Hörbe, explica que será criado um grupo técnico para estudar uma rede que tenha “racionalidade” para ofertar um melhor serviço ao usuário.
O prefeito de Esteio e presidente da Granpal, Leonardo Pascoal, já declarou que essa pauta será “prioritária” para a entidade, que vai trabalhar para que a Região Metropolitana volte a ter uma autoridade quando o assunto é transporte coletivo.
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Pandemia impactou na queda de passageiros
Os dados da Metroplan mostram que a pandemia teve forte impacto no setor.
Em 2020 foram transportadas 52,89 milhões de usuários e, em 2021, 53,92 milhões. Quando comparado aos números de 2012, a queda é de 62%. Já quando os dados são analisados em relação a 2019, antes da pandemia, a diminuição de passageiros em 2022 é de 33%.
Os dados estatísticos da Trensurb também indicam queda. Em 2019, o trem levou 48 milhões de passageiros, enquanto que no ano passado foram 31,9 milhões, decréscimo de 33,4%.
Frota quase triplicou em dez anos
O transporte coletivo ainda é impactado pela falta de rodoviárias. Conforme o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), das 34 cidades da Região Metropolitana, apenas 13 têm rodoviária. Incluindo os municípios que não contam com o serviço estão Canoas, Esteio, Nova Santa Rita e Sapucaia do Sul (integrantes da Granpal).
Em contrapartida, a quantidade de veículos circulando cresce a cada ano, em especial de automóveis. Na Região Metropolitana, na última década, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a frota cresceu 29%. Os veículos emplacados na Região Metropolitana representam quase 34% de toda a frota gaúcha.
O reflexo deste cenário acerta em cheio as empresas de transporte urbano, que no Brasil acumularam um prejuízo de R$ 36 bilhões entre março de 2020 e fevereiro de 2023. O levantamento é da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). De acordo com a entidade, além do prejuízo financeiro, houve a redução de 90 mil empregos diretos no setor – do início da pandemia até janeiro deste ano.
"Transporte caro, ruim e poluente", diz deputado
O objetivo da audiência pública, explica Rossetto, é ampliar o debate para contribuir com soluções que melhorem a prestação do serviço. “O transporte público da região é caro, ruim, poluente e não atende a população”, aponta. Para o deputado, é necessário repensar questões estruturais como, por exemplo, integrando as redes municipais com o sistema estadual e com a Trensurb. “Imaginando a região como uma única grande cidade.”
Para o parlamentar, o transporte coletivo é desintegrado e não é inteligente, com sobreposições e lacunas em linhas e horários. “E quem paga a conta da incompetência e inoperância do sistema é sempre a população que depende deste serviço fundamental que conecta as pessoas ao trabalho, à educação, à saúde, à cultura e ao lazer”, afirma.
O encontro de hoje deve ser uma primeira reunião de uma série de atividades que serão realizadas em busca de alternativas para o problema. Na audiência também são esperados prefeitos, vereadores, deputados, usuários, lideranças populares, movimento estudantil, empresários e representantes de trabalhadores.
Faltam horários
Moradora de Portão, a auxiliar de loja Alessandra da Silva do Amaral, 20 anos, trabalha e estuda em São Leopoldo. Ela depende do transporte coletivo para se deslocar durante o dia e da ajuda da família para conseguir retornar para casa, à noite. Isso porque não tem linha de ônibus até o seu município quando termina o horário da aula. Inclusive, Alessandra precisa sair meia hora mais cedo para conseguir embarcar no último horário disponível, às 22h05. Ocorre que ela precisa desembarcar no limite entre Portão e São Leopoldo. “Quando desço, alguém da minha família está me esperando de carro”, conta.
No entanto, a jovem relata que a dificuldade maior é na volta para casa do trabalho aos sábados. “Eu saio às 18 horas e fico até 19h40 esperando o ônibus, em uma rua que não é tão movimentada assim”, relata. “Essa situação é muito complicada”, finaliza.
Leite em Brasília
O governador Eduardo Leite esteve nesta semana reunido com o ministro dos Transportes, Renan Filho, em Brasília, para tratar das obras de infraestrutura federais priorizadas pelo governo estadual.
Leite voltou a defender os investimentos na região. De acordo com ele, a ampliação da capacidade da BR-116 Norte (complexos Sinos – Scharlau e Esteio), e a ampliação da BR-448 (Rodovia do Parque) de Sapucaia do Sul a Portão, estão entre as obras prioritárias para o Rio Grande do Sul.