Após visita na última semana, o Sistema Geológico do Brasil (SGB) fez um estudo e avaliação pós-desastre em cidades da Serra gaúcha. Um desses município foi São Francisco de Paula.
A reportagem teve acesso ao relatório realizado pela instituição, que aponta as medidas e intervenções necessárias nas áreas de risco, que possuem perigos de deslizamentos de terra e rupturas de solo. Entre as ações sugeridas, estão esperar o período de estiagem para realizar o retorno da população evacuada e fazer o monitoramento diários dos locais com trincas.
O estudo
O mapeamento voltado para a prevenção de desastres foi elaborado após análise técnica realizada em campo, na segunda e terça-feira, dias 3 e 4 de junho. As vistorias foram feitas nas áreas com trincas e com possibilidade, apontadas pela Defesa Civil, de quedas de barreiras, que podem impactar, inclusive, em residências. Durante as chuvas de final de abril e início de maio, famílias foram evacuadas nas proximidades do Salto.
A demanda inicial, a pedido do Executivo municipal e Defesa Civil, era vistoriar o entorno do Salto, ocupada por uma encosta vegetada e ocupada às margens do lago da barragem. Entre os dias 12 e 13 de maio, os moradores locais relataram estalos e observação do surgimento de trincas e rachaduras nos terrenos das residências presentes na Av. Eletra e adjacências. A medida imediata, então, foi a retirada das famílias.
Na vistoria, a equipe da SGB percebeu fenômeno de deformação e movimentação, chamado de cisalhamento. “As trincas de cisalhamento são indicativas de que o solo subjacente está sofrendo deformações significativas. Isso pode comprometer a estabilidade das construções adjacentes, exigindo intervenções de engenharia para evitar danos maiores. A extensão e a abertura dessas trincas devem ser monitoradas regularmente para avaliar a progressão do problema”, afirmam em relatório os técnicos.
Próximo ao hotel estruturado na localidade, as condições sugerem que há infiltração de água, que, combinada com as características do solo e do aterro, afetam negativamente a estabilidade do terreno.
Já na Rua da CEEE, foi verificado que a intensidade das chuvas de maio causou uma depressão do solo, nos pontos baixos da estrada. Duas residências construídas em terrenos sofreram intervenções severas, com cortes verticais de 90 graus e situadas entre grandes blocos de rocha. De acordo com o SGB, essa configuração coloca as edificações em risco significativo de deslizamentos ou de danos causados pela queda de blocos rochosos.
“Esses locais se transformaram em sumidouros para o fluxo das águas pluviais, o que pode aumentar a infiltração e agravar as situações de instabilidade geotécnica. Essa erosão dos pontos baixos da estrada devido ao escoamento intenso da água das chuvas é preocupante pois não apenas compromete a integridade da via, mas também contribui para a formação de trincas e deslizamentos nas áreas adjacentes”, informa o relatório.
Ações sugeridas
O Sistema Geológico do Brasil aponta quatro ações como sugestões de curto prazo. A primeiras delas diz respeito ao monitoramento diário das rachaduras. “As trincas e cicatrizes já abertas são condutoras de água de novas chuvas e que, se novas chuvas de grande volume ocorrerem nos próximos meses, é esperado que novos movimentos ocorram”, justifica.
A segunda é relacionada à volta das famílias, que estão há um mês fora de casa. O recomendado, seria, aguardar estiagem para realizar o retorno às áreas críticas.
A terceira e quarta indicações são avaliações por empresas ou engenheiros especialistas, sobre as condições estruturais das casas e prédios próximos aos deslizamentos e trincas, e as condições dos sistemas de drenagem e águas nas ruas avaliadas, para ver se há pontos de acúmulo de água.
Para mitigar os riscos
Os técnicos da SGB ainda indicam 11 medidas para mitigar os riscos das áreas vistoriadas. O monitoramento, por exemplo, deverá ser constante, pois os problemas com movimentos de massas podem ser recorrentes em episódios novos de chuva forte.
A instituição também sugere a criação de alertas aos moradores e a realização de simulações de evacuação, assim como promover políticas públicas para redução das ocupações das áreas estudadas.
Obras de contenção e de drenagem também devem ser pensadas e avaliadas por empresas especializadas a serem contratadas. “Importante que a avaliação seja feita através de investigação geotécnica do solo buscando sua real natureza e competência”, avisa o relatório.
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Por fim, São Francisco de Paula deverá fazer um mapeamento das áreas de risco. “Uma nova avaliação se torna essencial para detectar possíveis novas áreas de risco, similares às examinadas, e reavaliar aquelas já identificadas, especialmente em relação ao nível de perigo que representam.”