MERCADO AUTOMOTIVO

Setor de automóveis terá aumento nas vendas no RS após mais de 200 mil veículos serem perdidos na enchente

Alta procura é motivada pelo pagamento de indenizações de seguradoras. Presidente do Sindicov-RS/Fenabrave projeta falta de veículos seminovos no mercado

Publicado em: 18/06/2024 11:08
Última atualização: 18/06/2024 12:28

Estima-se que 200 mil veículos tenham sido perdidos na enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio, segundo a Bright Consulting, consultoria especializada no setor automotivo. Por isso, um dos setores que deve aquecer no mês de junho e metade de julho é o de veículos, sejam eles novos ou seminovos.


Carros foram atingidos pelas enchentes Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Conforme estima o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado do Rio Grande do Sul (Sindicov-RS/Fenabrave), Jefferson Fürstenau, entre 35 mil a 45 mil veículos devem receber indenização total de seguros.

"Obviamente isso vai movimentar o mercado, visto que a gente vende aqui no Estado entre 12 e 15 mil carros no mês. Dá para pensar que são dois meses e meio de vendas que vão se acumular agora neste mês de junho, até o início do mês de julho", observa.

Com a alta procura, um dos questionamentos que aparecem é sobre a possibilidade de faltar veículos no mercado. Segundo Fürstenau, o setor de carros novos não deve ser impactado, pois há uma sobra de veículos produzidos a nível Brasil.

"Pode faltar no Rio Grande do Sul, mas aí vão remanejar de outros locais para cá. Pode ter um 'delay' na entrega do carro, algo em torno de 10/15 dias, mas não devem faltar veículos zero quilômetro", garante o presidente da entidade.

No entanto, não é possível afirmar o mesmo comportamento no setor de automóveis seminovos, já que muitas pessoas que serão indenizadas pelas seguradoras, devem utilizar parte do dinheiro para comprar um carro e a outra parte para recuperar o seu negócio, por exemplo.

"Devemos ter um aumento de venda de seminovos, e é provável que falte veículos dado essa procura, por esse número de indenizações. Porque as pessoas vão usar uma parte deste dinheiro para recuperar sua casa ou seus negócios, e vão trocar por um carro eventualmente mais barato do que o carro que eles já tinham. Acredito que o carro usado vai ter uma procura muito maior do que o carro zero quilômetro", afirma Fürstenau.

Por conta do alto número de carros afetados pelos alagamentos, o presidente aconselha, no caso de haver dúvida no momento da compra, que a pessoa invista em um automóvel zero quilômetro.

"Os carros zero quilômetros foram atingidos, em torno de mil, mas cada montadora usou um procedimento. A maioria tem seguros ou vão a leilão. Se a pessoa estiver com medo de comprar um carro alagado, que compre um zero quilômetro, pois ela vai ter certeza que não foi afetado", garante Fürstenau.

Bom momento para venda

Conforme o presidente da entidade, com o aquecimento do mercado, há mais chances de venda particular nesse momento, até por um preço melhor e de forma mais rápida. "Esse é o momento de vender", afirma Fürstenau.

Segundo ele, o mercado de veículos estava com um crescimento acima da expectativa até o final do mês de abril. Com o evento climático, as vendas fugiram do esperado. "Esperamos voltar com esse fomento, frutos das indenizações de seguro. A partir do final do mês de julho, é que vamos conseguir avaliar e dizer se o mercado está em viés de crescimento ou se ficou estagnado", diz.

A enchente histórica que atingiu todo o Rio Grande do Sul abalou as vendas do mês de maio. Com queda de 70% no número de carros vendidos, Fürstenau afirma que o resultado impactou o comércio nacional. "O Brasil teve, pela primeira vez no ano, uma queda nas vendas de 8%, porque a participação do Rio Grande do Sul derrubou um pouco as vendas nacionais", avalia.

Movimento é sentido pelas concessionárias e revendas

Proprietário de uma loja de carros novos e seminovos localizada no bairro Ideal, em Novo Hamburgo, o empresário Ricardo Palharini, 58, observa que de duas semanas para cá a movimentação na loja está bem agitada. "Já estou com 18 carros vendidos até agora. 5 estão aguardando receberem as indenizações", comenta. Em um mês normal, Palharini afirma que costuma vender entre 22 a 25 carros.


Ricardo Palharini, 48 anos Foto: Laura Rolim/GES-Especial

"Estamos com muito movimento. Já está faltando carros. Estou com dificuldade de repor veículos na faixa de 40 a 90 mil", reforça o proprietário. Antes da enchente, a loja já estava com dificuldade de encontrar carros entre 30 e 50 mil, agora, com a alta procura, ficou ainda mais difícil.

Sobre a movimentação de automóveis vendidos por conta das indenizações, Palharini reforça o que o presidente do sindicato ponderou, alguns consumidores receberam, por exemplo, R$ 80 mil, e decidiram investir em um novo veículo somente R$ 60 mil.

Quem também se surpreendeu positivamente com as vendas dos últimos dias foi o gerente de vendas de uma concessionária também do bairro Ideal. De acordo com Deivison Berner, o comportamento do consumidor que está procurando a loja se mostra mais pragmático e determinado a fechar o negócio sem pensar muito ou analisar outras propostas.

"A montadora ficou bem antenada e se antecipou com condições diferenciadas e isso atraiu muita gente que estava inclinada em trocar seu veículo", avalia Berner. Segundo o gerente, a loja costuma vender em média 70 veículos por mês.

"Posso dizer que ela se mantém, a surpresa positiva, é que não houve a baixa que poderia ter ocorrido, a objetividade e a disposição do cliente melhorou e isso nos ajudou a ter uma rentabilidade mais sadia do que os meses anteriores ao período das chuvas que ocasionaram os problemas que enfrentamos em maio", completa.

Dicas para o consumidor

Neste momento, muitas são as dúvidas na hora de adquirir um outro veículo. Para não cair em armadilhas, o presidente do Sindicov dá algumas dicas para o consumidor na hora de verificar se o automóvel que irá comprar não esteve debaixo d'água.

"Sempre que possível, olha a caixa de fusível e vê se tem oxidação na caixa de fusível, nos conectores. Isso é sempre importante. Porque esteticamente é possível lavar e recuperar. Mas na parte interna, ao abrir e ver os componentes eletrônicos, onde que se vê se tem oxidação. Se tiver oxidação na parte eletrônica do carro, é que esse caro esteve embaixo d'água", recomenda.

Quanto vale um carro atingido pela enchente?

Conforme o presidente do Sindicov, os carros afetados pela enchente estão tendo uma outra colocação no mercado, com depreciação de cerca de 50% de um carro normal. "O carro que for constatado que esteve na enchente, a depreciação normal é essa, 50% do valor de tabela fipe de um carro normal", informa Fürstenau. Para isso, o avaliador de cada concessionária deverá ter o cuidado de identificar se o carro é de alagamento ou não.

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