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VIDA LONGA, VIDA

Segredos da longevidade desvendados: Conheça a vida de centenários da região

Histórias de quem viveu mais de 100 anos mostram os hábitos que conduziram a uma vida mais longa

Giordanna Vallejos
Publicado em: 19/04/2024 às 14h:51 Última atualização: 19/04/2024 às 14h:52
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Eles presenciaram a descoberta da penicilina, a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e o nascimento e a morte da Rainha Elizabeth II. Os mais de 13 mil centenários que vivem no Brasil foram testemunhas da história e viram criações revolucionárias, como a invenção do computador, da Internet e do telefone celular.

Floriberto Porhin | abc+



Floriberto Porhin

Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Dados do IBGE provam que os centenários estão se tornando cada vez mais comuns. O Censo Demográfico 2022 mostra que a população de idosos com mais de 100 anos subiu 55% em 12 anos – o Censo anterior foi feito em 2010. Somente no Rio Grande do Sul há, hoje, 1.536 centenários. Na lista das cidades brasileiras com mais moradores de idade, o Estado tem 19 dos 20 municípios com a maior proporção de idosos na população.

Diante desse cenário, o médico Leandro Minozzo, professor de Medicina da Feevale e especialista em geriatria e nutrologia, destaca a necessidade de manter a saúde em dia: “Mais importante do que chegar aos 100 é ter um envelhecimento saudável e funcional.”

O que faz a diferença

Segundo o médico, boa alimentação, exercícios, socialização e senso de propósito na vida, assim como espiritualidade, contribuem significativamente para um envelhecimento saudável. A dieta mediterrânea é citada como uma opção que ajuda a saúde neurológica.

Minozzo também enfatiza o papel fundamental da família nesse bem-estar. Ele destaca a importância de considerar o idoso como uma pessoa que tem seus sentimentos, seus desejos e suas vontades próprias, e não apenas como alguém que precisa ser cuidado.

Entre aqueles que chegaram aos 100 anos com vitalidade para conversar sobre diversos assuntos, estão Nair, Floriberto e Lucinda. Todos têm coisas em comum: forte espiritualidade, família próxima, alimentação simples que vinha direto da horta durante a infância. Também gostavam de ler, estudar e dançar. E o principal: mantêm uma grande vontade de viver.

Sabedoria e fé aos 101 anos

Floriberto Porhin, aos 101 anos, é o testemunho vivo de uma era marcada por trabalho árduo, valores familiares e resiliência. Atual morador do Lar Oase, em Taquara, é viúvo e tem seis filhos que o visitam com frequência.

Floriberto Porhin | abc+



Floriberto Porhin

Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Após ter sofrido um AVC, sua fala ficou prejudicada. Mesmo assim, quis realizar a entrevista com o apoio de sua filha Arlete, que servia como a intérprete da conversa. Perguntado sobre como estava se sentindo, respondeu, bem-humorado, que a coluna está começando a doer só agora, depois de fazer cem anos.

Nascido em 11 de outubro de 1922 em Cachoeira do Sul, em uma família de origem alemã, começou a trabalhar cedo. “Na infância, eu brinquei bastante, mas aos 8 anos comecei a trabalhar na roça. Depois fui para a escola, onde aprendi português. Quando adulto, tive minha empresa de ônibus e depois me aposentei trabalhando com caminhões”, conta. Ele valoriza a educação e estudou até o segundo ano do antigo ginásio.

A alimentação, revela Floriberto, sempre foi muito saudável, com frutas, verduras e carne. Ele também lembra dos desafios que enfrentou, incluindo o AVC e uma queda, que resultou na quebra do fêmur. Mas a fé garante sua alegria. “Eu não posso me queixar. Tenho muitas amizades aqui, isso ajuda muito a viver. Eu não gosto da solidão”, completa.

Um brinde aos quase 102 anos

O batom, os brincos e os salto alto ostentam a elegância e a alegria de viver de Nayr Teixeira Andrade, aos seus quase 102 anos. Ela nasceu em 16 de setembro de 1922 e vive em São Leopoldo, onde se casou e criou seus quatro filhos. A centenária tem oito netos e sete bisnetos.

Nayr Teixeira Andrade | abc+



Nayr Teixeira Andrade

Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Além de vaidosa, ela caminha, senta e levanta com a facilidade de uma jovem. E, durante a entrevista, aproveitou também para tomar uma taça de vinho e relembrar, com leveza, o seu século de vida.

Nayr conta que já trabalhou com costura, lavagem de roupas e também sempre cuidou dos familiares. Mas o que sempre amou fazer foi dançar nos bailes. “Ainda gosto de caminhar, de baile, de sair para dançar. Fiz festa de 100 anos, foi ótima, e enquanto Deus me der vida, quero viver. Me sinto bem, não estou doente nem nada. Acho que vou até os 200 anos”, diz, entre risadas.

Os segredos para a longevidade são a boa alimentação e o otimismo com que a centenária vive seus dias. “Sempre tivemos muita fartura em casa. Comia muita carne, tirávamos o leite direto da vaca, comíamos o que produzimos na horta. Nunca digo que estou cansada, nem reclamo. Quando era mais nova, uma cigana me disse que eu ia viver bastante. Ela estava certa”, lembra. E, viúva desde 1998, garante: “Estou procurando um companheiro para dançar.”

Legado de experiências

Mesmo para quem chega aos cem anos, o fim é inevitável. Poucos dias depois de ser entrevistada, Íria Leizer, que estava com 102 anos e morava no Lar Oase, em Taquara, faleceu. Ela partiu deixando um legado de experiências e vivências.

Íria Leizer faleceu aos 102 anos | abc+



Íria Leizer faleceu aos 102 anos

Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Segunda filha de 11 irmãos, Íria nasceu em 22 de fevereiro de 1922, em Santo Antônio da Patrulha. Foi casada por 45 anos e teve três filhos. Ela compartilhava lembranças de um tempo em que a Internet não era nem uma possibilidade. “Nós nos comunicávamos pessoalmente. Por carta era muito pouco, porque todo mundo morava perto. Não tinha telefone e nem Internet, era tudo olho no olho”, recordou na entrevista.

Sua alimentação era simples, mas nutritiva: “Sempre foi arroz, feijão, carne e salada. Salada eu sempre tive muita, porque tínhamos horta.” A vida familiar era marcada pela união e pela necessidade de todos contribuírem para o sustento. “Mas não tive uma vida ruim. Gostava da minha vida. Tinha bastante baile, dancei muito. Não perdia uma festa”, lembrou, falando também do seu papel como esposa, mãe e até empreendedora.

A rotina no Lar Oase também foi celebrada, algo que Íria repetiu nos seus últimos dias e é seu legado de um século: “Todo dia levanto, tomo café, depois leio o jornal. Sempre gostei muito de ler e sou uma ótima jogadora de canastra.”

Alegria e vontade de viver

Nascida em 16 de agosto de 1922, Lucinda Hoffmann Schier traz consigo, aos 101 anos, uma riqueza de vivências e a memória dos seus ancestrais, que vieram da Alemanha. Suas palavras, ditas mais em alemão do que em português, mostram a sua herança cultural.

Lucinda Hoffmann Schier | abc+



Lucinda Hoffmann Schier

Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Ela lembra, sentada em sua casa em Canoas, detalhes da história que sua mãe contava sobre os ancestrais que vieram da Alemanha. Fala sobre os desafios e as alegrias da infância na Picada São Jacó, pequena localidade próxima a Sapiranga.

Trabalhadora desde cedo, Lucinda absorveu lições sobre responsabilidade e serviço árduo. E também aproveitava para desfrutar dos raros momentos de lazer, como os bailes realizados aos sábados, quando a comunidade se reunia em celebração e convívio.

Seu olhar sobre o passado revela nostalgia por uma era em que a educação era valorizada e a comunidade se unia em torno do conhecimento e da solidariedade. “Naquela época, existia um método diferente, que preparava a criança para a vida. A criança que se formava lá no quinto ano sabia a tabuada, sabia fazer contas e sabia ler”, explica.

Nair também destaca que a fé e uma dieta saudável são pilares essenciais para sua vida plena e duradoura: “Creio serem os planos de Deus para cada um. Sempre tive alegria e muita vontade de viver.”

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