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ESTIAGEM

Seca estraga safra de morador de Canela que enfrenta primeira falta de água em 15 anos

Família de Nei Maldaner, da localidade de Morro Calçado, recebe água desde a quinta-feira (5). Ele estima perda de quase toda a produção da fruticultura

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 08/01/2023 às 14h:03 Última atualização: 17/01/2024 às 15h:23
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A escassez de chuva dos últimos meses já causa perdas na produção agrícola de Canela, na Serra gaúcha. Com a chegada do verão, predomínio do sol e temperaturas mais altas, a cada dia, novas nascentes e poços secam, principalmente, no interior do município. Até este domingo (8), mais de 80 famílias recebem auxílio de abastecimento em 13 localidades, tanto em áreas rurais, quanto urbanas.

Nei Maldaner mostra perdas em sua propriedade no interior de Canela devido à estiagem



Nei Maldaner mostra perdas em sua propriedade no interior de Canela devido à estiagem

Foto: Arquivo pessoal

Um destes locais é o Morro Calçado. Nei Maldaner, de 59 anos, mora com sua mãe, 81, e seus três filhos, de 4, 6 e 7 anos. Há 15 anos, ele compartilha o endereço da moradia com o do trabalho, as plantações. Em todos esses anos, é a primeira vez que o produtor de fruticultura sofre com a falta de água. A família começou a receber água de caminhões-tanque da Prefeitura de Canela na quinta-feira (5). “Eu tinha uma reserva de 30 dias, sou o que mais tinha reserva. Mas faz 20 dias que as fontes secaram. Uma das fontes nunca tinha secado. Essa semana, pela primeira vez décadas, parou de correr água. Em 15 anos, nunca tinha faltado água”, conta. 

A seca, conforme o morador, não é novidade e atinge a região há, pelo menos, três anos. Além de cultivar e produzir árvores frutíferas, Nei possui um rebanho de ovelhas, o que gera preocupação redobrada. “Pessoalmente, estou muito desanimado e penso em parar com essa parte de produção. Tentar ver para trabalhar algo com turismo ou até na cidade. As perdas são todas da gente, porque a gente não tem recursos de programas do governo. E o problema nem é mais o dinheiro, o problema é quando a gente se esforça para tentar salvar as coisas e não adiantar nada”, declara.  

Para manter os animais, ele trouxe adaptações para a propriedade. Entretanto, elas não são suficientes. “Com a seca que afeta há anos aqui, eu trouxe um material de Guapiaçu (SP), um pasto que é próprio para a seca. Mas eu não tenho água para os bichos, porque os meus açudes são bem embaixo da propriedade. A gente aqui vive em morros, então sem a água da Prefeitura, eu não consigo levar água para os piquetes, onde que as ovelhas ficam”, justifica. 

Nei Maldaner mostra perdas em sua propriedade no interior de Canela devido à estiagem



Nei Maldaner mostra perdas em sua propriedade no interior de Canela devido à estiagem

Foto: Arquivo pessoal

Perda pode ser total

A estiagem afeta não apenas as árvores frutíferas já consolidadas, mas também as pequenas mudas que eram cultivadas. Conforme Nei, que possui cinco hectares destinados para as plantações, a perda pode ser total. “Situação está muito crítica, porque a gente perdeu praticamente todas as frutas, todos os limões sicilianos e bergamotas. Toda essa parte de cítricos caiu. Agora, os figos secaram, eles não conseguem formar, ao invés de eles encherem para dar o suco, estão murchando e secando. Então estou perdendo toda a fruta. Praticamente perdemos tudo, já não tem mais esperança. Falando com meu vizinho, ele está tirando a fruta verde, para ver se consegue ao menos fazer algum doce”, lamenta Nei.

Este também é o segundo ano que o agricultor tentava implantar abacates e avocados. “Estou descartando. Ano passado, mesmo molhando todo dia com balde, eu perdi as minhas plantações de avocado e dos abacates. Nesse, refiz tentando fazer uma cobertura melhor, para proteção. Mas vou perder praticamente tudo, e só aí já dá 5 mil mudas que eu perco”, frisa Maldaner. 

Estrutura é adaptada

Na propriedade de Nei Maldaner, as perdas só não foram piores devido a adaptações na infraestrutura. Na frente das caixas de água de 20 mil litros, outras duas menores, de 500 litros, foram implantadas. “Uma para os animais e outra para nós. E a gente assim todo dia enche elas manualmente, porque se algum cano romper, a gente não perde a água. É uma situação bem trabalhosa”, contextualiza o agricultor. 

Conforme o agricultor, com o calor e a seca, as mangueiras ressecam, assim como os canos. Isso pode gerar vazamentos de água. “Nessa época a gente desativa as mangueiras em geral e mantém apenas as da casa e nas caixas d’água, além do local onde ficam os animais. Porque se não, muitos rompimentos podem ocorrer”, complementa. 

Cenário de seca pode ficar mais grave

A falta de chuva pode agravar ainda mais nos próximos dias. A previsão do tempo, segundo a MetSul Meteorologia, é que o início desta semana seja marcado por dias ensolarados e de calor, com temperaturas na Serra passando dos 30 graus. A instabilidade deve voltar à região apenas na quinta-feira (12). 

Atualmente, são 45 municípios que decretaram situação de emergência no Rio Grande do Sul, de acordo com a Defesa Civil. Na Região das Hortênsias, Canela informou na última semana que um decreto deve ser assinado, porém, que ainda não há data para publicação. 

 

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