Uma importante rota turística para São Francisco de Paula, e um dos caminhos possíveis para se chegar ao município de Bom Jesus, e, consequentemente, a Santa Catarina, um dos trechos da RS-110 mais se parece com uma estrada para a prática de rali.
O trecho problemático, sem infraestrutura de tráfego, fica entre a RS-020 e a RS-453, mais conhecida como Rota do Sol. A rodovia, que tem cerca de 100 quilômetros de extensão, apresenta más condições de trafegabilidade ao longo de quase 30 quilômetros. É através deste percurso que os turistas têm o único acesso a pontos turísticos conhecidos da região, como ecoparques e barragens. O turismo rural, através das agroindústrias, também é prejudicado.
Agricultores e empreendedores que investiram em espaços de lazer e de hospedagem sentem os impactos da condição da estrada, e chegaram a criar uma associação para cobrar o governo. Entretanto, nem a mobilização do grupo tem surtido efeito, já que há mais de dois anos sequer manutenções são realizadas na rodovia de chão batido. Raul Diestel, 71 anos, é um dos empreendedores prejudicados.
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Dono de uma propriedade rural, Diestel decidiu investir na construção de cabanas para hospedagem há um ano, com a esperança de que promessas de melhorar a rodovia fossem cumpridas. Entretanto, até o momento, não há qualquer sinal disso acontecer. “Trabalho com duas plataformas de gestão de viagens e muitos hóspedes, quando avaliam meu empreendimento, criticam o quesito localização devido a condição de acesso”, afirma.
Ao receber uma nota baixa no aspecto localização, o empreendimento de Diestel perde importância dentro das plataformas, reduzindo o número de negócios. “Isso não é só comigo, todos os demais se sentem prejudicados. Imagina que tem um empreendimento que tu precisa andar 17 quilômetros por essa estrada horrível para chegar”, pontua.
Alternativa depende da boa vontade do Daer
O empreendedor defende que uma das saídas para a falta de investimentos na RS-110 seria uma parceria do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), autarquia vinculada à Secretaria de Logística e Transportes, com a prefeitura ou a iniciativa privada. “O Daer sequer tem equipamentos e máquinas para fazer a conservação. O ideal seria ter a rodovia pavimentada, mas já ficaríamos satisfeitos se alguém fizesse a manutenção da estrada de chão”, afirma.
Foto: Divulgação/Prefeitura São Francisco de Paula
O vice-prefeito de São Francisco de Paula, Thiago Carniel Teixeira, garante que o município já buscou essa parceria, mas as tratativas esbarram na falta de retorno do Daer. “Eles [autarquia] tem uma área de 10 hectares aqui, e boa parte é tomada pelo mato. A gente propôs ocupar parte deste terreno, para instalar nosso parque de máquinas, e, em troca, iríamos assumir a conservação das rodovias estaduais não pavimentadas por um determinado período. Mas a proposta está parada, sem resposta”, afirma.
Além da RS-110, São Francisco de Paula tem outras duas rodovias estaduais em condições deploráveis. Uma delas é a RS-484, conhecida como Serra do Umbu, que liga o município a Maquiné, no Litoral Norte. A outra é a RS-476, outra estrada que dá acesso à Rota do Sol e é caminho para Bom Jesus.
Conforme o vice-prefeito, a cobrança em busca de melhorias nestas rodovias é constante, mas a inércia do estado faz a população perder as esperanças. “Não podemos nos dar ao luxo de cansar [em reivindicar melhorias nas estradas], vamos seguir insistindo e cobrando”, avisa. Somente no ano passado, a prefeitura enviou seis ofícios ao Daer cobrando a manutenção das rodovias. Um destes ofícios também foi endereçado ao vice-governador Gabriel Souza.
Contudo, a falta de perspectiva, fez com que o governo municipal buscasse uma alternativa para melhorar o acesso às propriedades da RS-110. “Chegou ao ponto em que estamos investindo na construção de uma ponte em uma via municipal para que os moradores e turistas tenham uma rota alternativa para chegar aos empreendimentos daquela região”, explica.
Daer: “trecho está em boas condições de trafegabilidade”
Procurado, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), responsável pela RS-110, se manifestou via assessoria. Em nota, a autarquia afirma que “o trecho está em boas condições de trafegabilidade, para uma rodovia não pavimentada”.
Contrariando as informações de quem vive a realidade da RS-110 todos os dias, o órgão disse, ainda, que realiza ações de manutenção “constantemente no trecho”, mas que “a incidência de chuvas fortes nos últimos dias adiou novas ações”. “Tranquilamente, posso afirmar que tem mais de dois anos que não fazem qualquer tipo de manutenção aqui”, rebate o empresário Raul Diestel.
Por fim, o Daer informou que “não há previsão de pavimentação da ERS-110 entre a ERS-020 e a Rota do Sol”. Enquanto isso, turistas seguirão pensando duas vezes antes de planejar visitar essa região de São Francisco de Paula, que é privilegiada por lindas paisagens e reconhecidos destinos de ecoturismo do estado. “A gente amou o lugar onde nos hospedamos, e queremos voltar para conhecer outros pontos turísticos dessa região. Mas, enquanto a rodovia estiver nestas condições, vamos pensar bem antes”, afirma Luana Ricciolini, moradora de Porto Alegre.
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