ECONOMIA CIRCULAR
Saiba como os resíduos da produção de calçados também podem gerar bioenergia
Iniciativa busca transformar 100% das sobras da indústria calçadista em energia e matéria-prima para reutilizar dentro do próprio setor
Última atualização: 12/08/2024 15:33
Em um passado não tão distante, a indústria calçadista foi responsável por muitos problemas ambientais causados principalmente pelo descarte irregular de resíduos. Era comum encontrar montes de restos das fábricas em áreas abandonadas. Com as mudanças na lei e maior consciência das empresas, o cenário hoje é outro.
O que antes era descartado e não tinha valor agora é transformado para virar um produto novo, com design inovador, pronto para atender o mercado brasileiro e internacional.
O mais recente Relatório Setorial da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) mostra que em 2021 foram produzidos 806,3 milhões de pares no Brasil. Para este ano, a estimativa é de até 828,1 milhões de pares.
Dentro da ideia de economia circular, os resíduos da indústria calçadista mais do que nunca têm servido de matéria-prima para a própria empresa ou para parceiros que integrem a cadeia de produção. O setor percebeu que a lógica de circularidade, ou seja, a vida mais longa ao produto, é mais vantajosa economicamente do que o envio de resíduos para aterros sanitários.
Na última reportagem da série sobre Economia Circular, entenda mais sobre esse processo.
Exemplo
Seguindo esta lógica, a Calçados Beira Rio em breve vai completar o ciclo de utilização total de seus resíduos. O material que não tem condições de ser reciclado será transformado em energia e, assim, nada do que é produzido pela empresa será descartado. A empresa estima fabricar 100 milhões de pares em 2022, o que representa cerca de 12% da produção nacional.
Em setembro do ano passado a calçadista deu início a um projeto-piloto de uma usina de bionergia, em parceria com a Ambiente Verde, de Taquara, cidade onde está instalada a estrutura. A iniciativa representa um investimento inicial de R$ 15 milhões, sendo uma experiência inédita no Brasil por conta do seu potencial de produção.
Conforme o diretor industrial da Beira Rio, João Henrich, por mês são geradas 600 toneladas de resíduos, oriundas das 11 unidades de produção e dos 420 prestadores de serviço da empresa. "Todo esse material passa por seleção e classificação", explica.
Deste total, 350 toneladas têm nova utilização, sendo a maior parte enviada para Ambiente Verde para produção da matéria-prima chamada de ambiplast, que dará origem às palmilhas dos calçados, entre outros produtos. Dados da Abicalçados mostram que no ano passado 53,9% da produção de calçados teve material predominante plástico/borracha, 22,1% laminado sintético e 17%, couro.
Na Ambiente Verde, os resíduos são triturados, sofrem um processo de blenda polimérica (mistura de diferentes plásticos) e transformados em chapas, que depois são cortadas. "Aqui não produzimos lixo. Tudo é transformado", resume o sócio-diretor, Alberto Luiz Wanner.
As outras 250 toneladas, que atualmente são enviadas pela Beira Rio para outras cidades para ganhar um destino correto, em breve serão transformadas em energia. Hoje, a planta piloto tem capacidade para queima de 72 toneladas ao mês, o que deve mudar assim que houver autorização de funcionamento para a usina. A expectativa de Henrich é que a licença de operação seja emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em agosto.
Assim, quando a usina estiver operando com sua total capacidade terá geração de 1,45 megawatts-hora (MWh). Hoje a Ambiente Verde tem a demanda contratada de 515 Kilo-watt-hora (Kwh). Ou seja, com a bioenergia funcionando a pleno será produzido 281% a mais do que é consumido, podendo assim alimentar outras instalações.
De 2012 a 2021, a empresa já transformou mais de 24 mil toneladas de resíduos, o que segundo a empresa impactou na redução de 37 mil toneladas de gás de efeito estufa e da diminuição de 181 milhões de litros de água.
Aposta
Economistas defendem que o Brasil precisa diversificar sua planta energética para não travar o desenvolvimento e atender a demanda de crescimento, apostando em geração limpa e renovável. Dados da Empresa de Pesquisa Energética do governo federal apontam que em junho o consumo total de energia no País aumentou 3% em relação a maio.
O setor que mais elevou a demanda foi o comercial, com alta de 11,3%. Os setores que mais consumiram foram a indústria metalúrgica (25%) e produtos alimentícios (13,2%).
De acordo com Henrich, faz mais de dez anos que a Beira Rio buscava uma maneira de fechar o ciclo da produção de maneira circular, dando um novo uso a todos os resíduos produzidos. "Temos um ganho ambiental gigante. Toda a produção da empresa já é baseada na sustentabilidade e agora teremos energia renovável."
Funcionamento da usina que produz bioenergia
A usina de transformação opera com fornos que no primeiro estágio alcançam a temperatura de 300°C e ao final do processo chegam a 900°C. Esse calor, depois de uma hora, processa os resíduos e produz gás que, por sua vez, aciona um motor para gerar energia.
O projeto de construção dessa usina é um trabalho conjunto do setor produtivo e acadêmico, pois recebe assessoria técnica do professor e pesquisador de engenharia química da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Marcelo Godinho.
O professor explica que 20% dos resíduos processados na usina viram uma espécie de carvão, material que é aproveitado pela Ambiente Verde para ser transformado em matéria-prima para o calçado novamente.
À medida que a planta piloto foi sendo testada e recebeu ajustes para melhorar seu funcionamento, constatou-se que a composição do gás produzido tem 70% de nitrogênio (N), 15% de monóxido de carbono (CO) e 15% de dióxido de carbono (CO2). Ou seja, a maior parte da produção é de gás nobre, já que o nitrogênio é envasado em cilindros para ser usado na produção de produtos eletrônicos, no empacotamento de alimentos, para encher pneus, entre outros. Segundo Godinho, o mercado ainda não está preparado para captar o nitrogênio que será gerado em Taquara, a fim de dar outros usos ao gás, além da produção de energia.
De acordo com ele, existem outras usinas de pirólise já em funcionamento no Brasil. "Mas com essa escala comercial, neste modelo, eu desconheço", comenta o pesquisador.
Segundo a assessoria de imprensa da Fepam, no momento não há empreendimento de pirólise ainda em operação no Rio Grande do Sul.
Para entender a pirólise
A pirólise é um processo termoquímico para tratamento e destinação final de resíduos sólidos. É diferente da incineração, pois não usa oxigênio e gera um outro produto final. Por meio da pirólise ocorre a quebra da estrutura molecular dos resíduos e a sua decomposição, que no caso da usina da Ambiente Verde gera gás e carvão.
Os equipamentos da usina instalada em Taquara foram produzidos sob medida, a partir de um projeto exclusivo de pesquisa acadêmica, de modo a usar a ciência a favor do desenvolvimento da indústria, além de zelar pela sustentabilidade.
Segundo Godinho, o projeto seguiu os parâmetros de diretrizes técnicas estabelecidas pela Fepam.
Do linear para o circular
Mudar do sistema linear para o circular. Este é o maior desafio do setor produtivo brasileiro na avaliação de Marly Monteiro de Carvalho, professora da Fundação Vanzolini e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que atua com pesquisa na área de economia circular. De acordo com ela, a produção linear, onde não há o retorno da matéria-prima para ser reaproveitada, ainda é muito presente na sociedade. "Ainda é preciso mudar a cabeça do setor privado", comenta.
Outro ponto que Marly chama atenção é a falta de articulação do poder público nas questões que envolvem os resíduos. "Ele tem o poder de puxar essa transformação e a gente não tem visto isso no contexto brasileiro, infelizmente", avalia.
Segundo a pesquisadora, o Brasil já foi modelo para o resto do mundo nas questões ambientais, mas hoje "tem deixado a desejar". Um dos pontos que ela critica é a bitributação dos resíduos. Atualmente, um produto é tributado na fabricação e comercialização, e novamente após ser reciclado e vendido como matéria-prima para novo processo produtivo. Essa política, como aponta Marly, acaba desestimulando a reciclagem e incentivando o descarte simples de lixo, que não tem nenhuma tributação. Lógica inversa à economia circular.
"A legislação brasileira está atrasada em dez anos. Se tivesse começado antes, estaria em outro patamar. Estamos engatinhando em relação a outros países", salienta.
A pesquisadora avalia que a geração mais jovem já desenvolveu uma conscientização maior em relação ao seu papel na questão ambiental, dando prioridade a produtos que são sustentáveis. "No setor produtivo temos casos interessantes de economia circular, como o setor eletroeletrônico", diz. No entanto, ela analisa que ainda são experiências de projeto-piloto.
Para Marly, o cidadão comum tem papel fundamental papel para que a economia circular dê certo. "O resíduo não pode estar contaminado, então ele precisa fazer o processo de separação da maneira correta em sua casa. Isso precisa ser levado a sério", ressalta. Ela lembra que resíduo sujo não pode ser reciclado. "A gente tem estimativas de que mais de 50% do lixo brasileiro não tem o descarte adequado. Isso é muito ruim e precisa ser mudado de forma expressiva", conclui.
Municípios do Vale do Caí estão interessados
O Consórcio Intermunicipal do Vale do Caí (CIS-Caí) está de olho na tecnologia de pirólise para dar um novo tratamento aos resíduos da região. Em abril, uma comitiva esteve no Paraná para conhecer projeto Lixo 5.0 desenvolvido pelo governo paranaense. Conforme o diretor-executivo do CIS-Caí, Carlos Alberto Fink, foi apresentada uma usina com capacidade para processar dez toneladas por dia, que geraria óleo. "O investimento completo gira em torno de três a quatro milhões de reais, então é algo inviável que estamos pensando em avançar", comenta.
De acordo com ele, a ideia é que seja feito um projeto-piloto, reunindo entre quatro ou cinco municípios menores do Vale do Caí. Segundo Finck, o investimento das prefeituras em aterro sanitário é alto, em torno de 40%. Os resíduos são levados para Minas do Leão e São Leopoldo, atualmente. "Mas a gente sabe que é preciso um trabalho de conscientização muito grande com a população. Nem todas as cidades têm coleta seletiva e, onde tem, ainda não funciona bem", diz.
Em um passado não tão distante, a indústria calçadista foi responsável por muitos problemas ambientais causados principalmente pelo descarte irregular de resíduos. Era comum encontrar montes de restos das fábricas em áreas abandonadas. Com as mudanças na lei e maior consciência das empresas, o cenário hoje é outro.
O que antes era descartado e não tinha valor agora é transformado para virar um produto novo, com design inovador, pronto para atender o mercado brasileiro e internacional.
O mais recente Relatório Setorial da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) mostra que em 2021 foram produzidos 806,3 milhões de pares no Brasil. Para este ano, a estimativa é de até 828,1 milhões de pares.
Dentro da ideia de economia circular, os resíduos da indústria calçadista mais do que nunca têm servido de matéria-prima para a própria empresa ou para parceiros que integrem a cadeia de produção. O setor percebeu que a lógica de circularidade, ou seja, a vida mais longa ao produto, é mais vantajosa economicamente do que o envio de resíduos para aterros sanitários.
Na última reportagem da série sobre Economia Circular, entenda mais sobre esse processo.
Exemplo
Seguindo esta lógica, a Calçados Beira Rio em breve vai completar o ciclo de utilização total de seus resíduos. O material que não tem condições de ser reciclado será transformado em energia e, assim, nada do que é produzido pela empresa será descartado. A empresa estima fabricar 100 milhões de pares em 2022, o que representa cerca de 12% da produção nacional.
Em setembro do ano passado a calçadista deu início a um projeto-piloto de uma usina de bionergia, em parceria com a Ambiente Verde, de Taquara, cidade onde está instalada a estrutura. A iniciativa representa um investimento inicial de R$ 15 milhões, sendo uma experiência inédita no Brasil por conta do seu potencial de produção.
Conforme o diretor industrial da Beira Rio, João Henrich, por mês são geradas 600 toneladas de resíduos, oriundas das 11 unidades de produção e dos 420 prestadores de serviço da empresa. "Todo esse material passa por seleção e classificação", explica.
Deste total, 350 toneladas têm nova utilização, sendo a maior parte enviada para Ambiente Verde para produção da matéria-prima chamada de ambiplast, que dará origem às palmilhas dos calçados, entre outros produtos. Dados da Abicalçados mostram que no ano passado 53,9% da produção de calçados teve material predominante plástico/borracha, 22,1% laminado sintético e 17%, couro.
Na Ambiente Verde, os resíduos são triturados, sofrem um processo de blenda polimérica (mistura de diferentes plásticos) e transformados em chapas, que depois são cortadas. "Aqui não produzimos lixo. Tudo é transformado", resume o sócio-diretor, Alberto Luiz Wanner.
As outras 250 toneladas, que atualmente são enviadas pela Beira Rio para outras cidades para ganhar um destino correto, em breve serão transformadas em energia. Hoje, a planta piloto tem capacidade para queima de 72 toneladas ao mês, o que deve mudar assim que houver autorização de funcionamento para a usina. A expectativa de Henrich é que a licença de operação seja emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em agosto.
Assim, quando a usina estiver operando com sua total capacidade terá geração de 1,45 megawatts-hora (MWh). Hoje a Ambiente Verde tem a demanda contratada de 515 Kilo-watt-hora (Kwh). Ou seja, com a bioenergia funcionando a pleno será produzido 281% a mais do que é consumido, podendo assim alimentar outras instalações.
De 2012 a 2021, a empresa já transformou mais de 24 mil toneladas de resíduos, o que segundo a empresa impactou na redução de 37 mil toneladas de gás de efeito estufa e da diminuição de 181 milhões de litros de água.
Aposta
Economistas defendem que o Brasil precisa diversificar sua planta energética para não travar o desenvolvimento e atender a demanda de crescimento, apostando em geração limpa e renovável. Dados da Empresa de Pesquisa Energética do governo federal apontam que em junho o consumo total de energia no País aumentou 3% em relação a maio.
O setor que mais elevou a demanda foi o comercial, com alta de 11,3%. Os setores que mais consumiram foram a indústria metalúrgica (25%) e produtos alimentícios (13,2%).
De acordo com Henrich, faz mais de dez anos que a Beira Rio buscava uma maneira de fechar o ciclo da produção de maneira circular, dando um novo uso a todos os resíduos produzidos. "Temos um ganho ambiental gigante. Toda a produção da empresa já é baseada na sustentabilidade e agora teremos energia renovável."
Funcionamento da usina que produz bioenergia
A usina de transformação opera com fornos que no primeiro estágio alcançam a temperatura de 300°C e ao final do processo chegam a 900°C. Esse calor, depois de uma hora, processa os resíduos e produz gás que, por sua vez, aciona um motor para gerar energia.
O projeto de construção dessa usina é um trabalho conjunto do setor produtivo e acadêmico, pois recebe assessoria técnica do professor e pesquisador de engenharia química da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Marcelo Godinho.
O professor explica que 20% dos resíduos processados na usina viram uma espécie de carvão, material que é aproveitado pela Ambiente Verde para ser transformado em matéria-prima para o calçado novamente.
À medida que a planta piloto foi sendo testada e recebeu ajustes para melhorar seu funcionamento, constatou-se que a composição do gás produzido tem 70% de nitrogênio (N), 15% de monóxido de carbono (CO) e 15% de dióxido de carbono (CO2). Ou seja, a maior parte da produção é de gás nobre, já que o nitrogênio é envasado em cilindros para ser usado na produção de produtos eletrônicos, no empacotamento de alimentos, para encher pneus, entre outros. Segundo Godinho, o mercado ainda não está preparado para captar o nitrogênio que será gerado em Taquara, a fim de dar outros usos ao gás, além da produção de energia.
De acordo com ele, existem outras usinas de pirólise já em funcionamento no Brasil. "Mas com essa escala comercial, neste modelo, eu desconheço", comenta o pesquisador.
Segundo a assessoria de imprensa da Fepam, no momento não há empreendimento de pirólise ainda em operação no Rio Grande do Sul.
Para entender a pirólise
A pirólise é um processo termoquímico para tratamento e destinação final de resíduos sólidos. É diferente da incineração, pois não usa oxigênio e gera um outro produto final. Por meio da pirólise ocorre a quebra da estrutura molecular dos resíduos e a sua decomposição, que no caso da usina da Ambiente Verde gera gás e carvão.
Os equipamentos da usina instalada em Taquara foram produzidos sob medida, a partir de um projeto exclusivo de pesquisa acadêmica, de modo a usar a ciência a favor do desenvolvimento da indústria, além de zelar pela sustentabilidade.
Segundo Godinho, o projeto seguiu os parâmetros de diretrizes técnicas estabelecidas pela Fepam.
Do linear para o circular
Mudar do sistema linear para o circular. Este é o maior desafio do setor produtivo brasileiro na avaliação de Marly Monteiro de Carvalho, professora da Fundação Vanzolini e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que atua com pesquisa na área de economia circular. De acordo com ela, a produção linear, onde não há o retorno da matéria-prima para ser reaproveitada, ainda é muito presente na sociedade. "Ainda é preciso mudar a cabeça do setor privado", comenta.
Outro ponto que Marly chama atenção é a falta de articulação do poder público nas questões que envolvem os resíduos. "Ele tem o poder de puxar essa transformação e a gente não tem visto isso no contexto brasileiro, infelizmente", avalia.
Segundo a pesquisadora, o Brasil já foi modelo para o resto do mundo nas questões ambientais, mas hoje "tem deixado a desejar". Um dos pontos que ela critica é a bitributação dos resíduos. Atualmente, um produto é tributado na fabricação e comercialização, e novamente após ser reciclado e vendido como matéria-prima para novo processo produtivo. Essa política, como aponta Marly, acaba desestimulando a reciclagem e incentivando o descarte simples de lixo, que não tem nenhuma tributação. Lógica inversa à economia circular.
"A legislação brasileira está atrasada em dez anos. Se tivesse começado antes, estaria em outro patamar. Estamos engatinhando em relação a outros países", salienta.
A pesquisadora avalia que a geração mais jovem já desenvolveu uma conscientização maior em relação ao seu papel na questão ambiental, dando prioridade a produtos que são sustentáveis. "No setor produtivo temos casos interessantes de economia circular, como o setor eletroeletrônico", diz. No entanto, ela analisa que ainda são experiências de projeto-piloto.
Para Marly, o cidadão comum tem papel fundamental papel para que a economia circular dê certo. "O resíduo não pode estar contaminado, então ele precisa fazer o processo de separação da maneira correta em sua casa. Isso precisa ser levado a sério", ressalta. Ela lembra que resíduo sujo não pode ser reciclado. "A gente tem estimativas de que mais de 50% do lixo brasileiro não tem o descarte adequado. Isso é muito ruim e precisa ser mudado de forma expressiva", conclui.
Municípios do Vale do Caí estão interessados
O Consórcio Intermunicipal do Vale do Caí (CIS-Caí) está de olho na tecnologia de pirólise para dar um novo tratamento aos resíduos da região. Em abril, uma comitiva esteve no Paraná para conhecer projeto Lixo 5.0 desenvolvido pelo governo paranaense. Conforme o diretor-executivo do CIS-Caí, Carlos Alberto Fink, foi apresentada uma usina com capacidade para processar dez toneladas por dia, que geraria óleo. "O investimento completo gira em torno de três a quatro milhões de reais, então é algo inviável que estamos pensando em avançar", comenta.
De acordo com ele, a ideia é que seja feito um projeto-piloto, reunindo entre quatro ou cinco municípios menores do Vale do Caí. Segundo Finck, o investimento das prefeituras em aterro sanitário é alto, em torno de 40%. Os resíduos são levados para Minas do Leão e São Leopoldo, atualmente. "Mas a gente sabe que é preciso um trabalho de conscientização muito grande com a população. Nem todas as cidades têm coleta seletiva e, onde tem, ainda não funciona bem", diz.
O que antes era descartado e não tinha valor agora é transformado para virar um produto novo, com design inovador, pronto para atender o mercado brasileiro e internacional.
O mais recente Relatório Setorial da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) mostra que em 2021 foram produzidos 806,3 milhões de pares no Brasil. Para este ano, a estimativa é de até 828,1 milhões de pares.