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DÉCADAS DE TRABALHO

RS-122: "Pegaram todo mundo de surpresa", diz um dos feirantes que teve tenda derrubada no Vale do Caí

Apesar de não serem regularizadas, tendas funcionavam há mais de 30 anos; veja posicionamento da CSG

Débora Ertel
Publicado em: 16/04/2024 às 15h:33 Última atualização: 16/04/2024 às 18h:20
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Nesta terça-feira (16) completa uma semana da derrubada das tendas de feirantes da RS-122, no Vale do Caí. Da noite de 8 de abril até o início da manhã do dia seguinte, a Concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) colocou ao chão 21 tendas entre São Sebastião do Caí e São Vendelino, sendo a maioria delas localizadas em Bom Princípio.

Tendas dos feirantes localizadas às margens da RS-122, no Vale do Caí, foram derrubadas | abc+



Tendas dos feirantes localizadas às margens da RS-122, no Vale do Caí, foram derrubadas

Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Apesar de não serem regularizadas, algumas tendas funcionavam nesta região há mais de 30 anos, antes mesmo da rodovia ser de pista dupla e receber asfalto. Segundo a CSG, a medida foi tomada por questões de segurança. A situação será denunciada ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) pelo deputado estadual Adão Pretto.

O comerciante Joãosinho Rambo, 55 anos, há três décadas trabalha na altura do quilômetro 22, bairro Bela Vista, em Bom Princípio, e conta com cinco pessoas ajudando nas vendas. Ele foi um dos poucos encontrados pela reportagem na segunda-feira (15) à tarde.

Rambo conta que ninguém foi avisado pela concessionária sobre a destruição dos pontos de vendas. “A gente foi embora pelas 18h30 de segunda-feira da semana passada. Depois eles passaram. No outro dia pela manhã, chegamos e não tinha mais nada”, conta.

Para continuar com o trabalho, Rambo tem utilizado dois veículos para acomodar os hortifrutigranjeiros que comercializa, como morango, aipim, pitaya, pinhão e conservas.

De acordo com ele, são produtos oriundos da região e também da Serra, de cidades como Farroupilha e Caxias do Sul. “Mas o movimento caiu 50% sem as tendas”, avalia. Rambo estima que mais de 300 pessoas sejam afetadas pelo não funcionamento das tendas.

Joãosinho Rambo e Vanderlei Hentges, à espera dos clientes na RS-122 | abc+



Joãosinho Rambo e Vanderlei Hentges, à espera dos clientes na RS-122

Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Com três tendas no quilômetro 28, também em Bom Princípio, João Cláudio Nunes (Dinho), 60, está há uma semana sem vender nada. Conta que por enquanto está trabalhando na lavoura para terceiros em São Sebastião do Caí, onde mora.

Ele comercializava no ponto há 29 anos. “Eu compro de, no mínimo, umas dez pessoas. Eles [concessionária] nunca vieram conversar conosco, dizendo ‘vocês têm que sair’. Pegaram todo mundo de surpresa”, descreve Dinho.

Questionados se tinham autorização para usar a faixa de domínio, os feirantes respondem que não. Conforme Rambo, no tempo em que o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) era responsável pela RS-122, a fiscalização volta e meia abordava os responsáveis pelas tendas pedindo pela retirada dos pontos de venda.

Apesar disso, nos anos anteriores à concessão, ninguém tinha sido notificado ou teve as barracas retiradas. “Com a EGR nunca deu problema. Também nunca deu acidente com as bancas”, garante Dinho.

Tendas dos feirantes localizadas às margens da RS-122, no Vale do Caí, foram derrubadas | abc+



Tendas dos feirantes localizadas às margens da RS-122, no Vale do Caí, foram derrubadas

Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Em nota, a CSG informou que “cumpre o contrato de concessão, administrando a faixa de domínio, prezando sempre pela segurança dos usuários das rodovias por ela administradas e que estuda medidas para mitigar situações similares à ocorrida”.

Indagada se medida semelhante deve ser adotada na RS-240, onde há tendas em funcionamento na beira da rodovia, a CSG diz que na RS-122 “foi uma situação pontual” e que “não há nada programado” para outros trechos.

Conforme a assessoria de imprensa do deputado estadual Adão Pretto Filho, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a situação será denunciada ao procurador-geral do MPRS Alexandre Sikinowski Saltz na tarde desta terça-feira (16) para propor que a concessionária “abra um diálogo junto aos feirantes para que eles sigam trabalhando”.

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