O que começou como uma dor abdominal transformou-se em um grande pesadelo para Luciana Balejos Marques, de 47 anos, e suas filhas, de Sapucaia do Sul. A paciente, inicialmente internada no Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) no dia 20 de novembro de 2024, precisou ser transferida no dia 12 de dezembro ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) para que pudesse realizar uma Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE) – procedimento para remoção de cálculo. Após diversas complicações, as familiares contam que Luciana corre risco de morte.
“Ela foi ao HMGV com fortes dores abdominais, então viram que ela estava com uma pedra que provavelmente foi ‘esquecida’ de uma retirada da vesícula de 15 anos atrás. Atacou agora pois ela teve um tombo”, conta a filha, a autônoma Ana Carolina Marques Pacheco, de 30 anos.
No HRSM, Luciana passou a ser acompanhada pela filha caçula, a atendente de caixa Andriele Marques Pacheco, que mantinha as irmãs atualizadas sobre o caso por telefone. “Era para ela ter sido liberada em dois dias, mas já estamos nisso há mais de um mês”, afirma Ana, que relatou o acontecido à reportagem.
“No procedimento, fizeram uma perfuração nela. Só viram dias depois, abriram ela, fecharam a perfuração e agora ela está com uma infecção”, relata Ana. Segundo a autônoma, o HRSM alegou falta de recursos para uma cirurgia de limpeza. Com isso, Luciana foi novamente transferida no dia 29, dessa vez para o Hospital Universitário de Santa Maria (UFSM), onde permanece até esta quinta-feira (9).
Andriele permaneceu em Santa Maria até o dia 2 de janeiro, quando completou 26 anos. Nesse dia, a filha mais velha, a confeiteira Geiciele Marques Pacheco, de 31 anos e moradora de São Leopoldo, viajou para realizar a troca de acompanhante.
Prejuízo financeiro e gastos com hospedagem
Além da dor emocional causada pela preocupação, a família lida, ainda, com o prejuízo financeiro. “Está bem difícil, quando a mãe estava no quarto, minha irmã ficou com ela e teve alimentação do hospital. Quando ela fez a cirurgia em ambos os hospitais e foi para a UTI, tivemos que pagar hospedagem, alimentação e Uber até os hospitais”, descreve Ana Carolina. “Tanto eu como a mais velha (Geiciele, que agora acompanha a mãe no UFSM), mandamos dinheiro para ela. Vamos trabalhando e mandando, eu trabalho com doces também, vendo o que faço no dia e mando”, continua.
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Agonia e solidão durante a virada de ano
No UFSM, conforme Ana Carolina, a família foi informada que Luciana sofreu uma pancreatite e possuía infecção total do lado direito. “No Hospital Regional diziam ser apenas glóbulos de infecção e que era tudo normal”, reclama.
“Minha irmã que está lá agora (Deisiane) diz que ela está sendo bem assistida no HUSM que não deixam ela passar dor, mas que ela está em um quarto porque na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) não tem vaga. Ali, disseram que houve erro médico no outro hospital”, continua.
Na virada de 2024 para 2025, Luciana estava na etapa pós-cirúrgica de limpeza da infecção no HUSM. Andriele, que ainda estava no município para acompanhar a mãe, passou o Reveillón sozinha no quarto de hotel enquanto esperava Luciana ser encaminhada ao leito – até isso acontecer, não poderia haver ninguém ao lado da paciente.
Na tentativa de reduzir o peso das emoções, Ana fez uma ligação de vídeo para a irmã. “De certa forma ajudou mas ainda assim era um vazio, eu não conseguia dormir. Foi um completo pesadelo”, disse Andrielle. “Dia 2 era meu aniversário e minha mãe ainda estava em um leito de hospital, com dores, e eu me senti completamente incompetente por não poder fazer nada”, desabafou.
Como está Luciana
De acordo com Andriele, o estado clínico de Luciana está estável, embora sua mãe ainda sinta muitas dores. Ela afirma que o médico não descarta cirurgias futuras e que a mãe corre risco de morte. “Foram removidos quase 600ml de secreção do abdómen e colocado um dreno bem posicionado no pâncreas, pois ela tem uma fístula ali. Fizeram o que podiam e o que era necessário naquele momento, mas tudo depende de como o organismo dela vai reagir”, explica.
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Segundo Geiciane, “a infecção era mais localizada perto do pâncreas e por fim, estava localizada em todo o lado direito, desde a parte de cima, no pâncreas, até abaixo do abdômen”. Ela defende que Luciana seria melhor atendida em um leito de UTI. “De início, o médico queria UTI, mas não tem leito aqui. Está lotado. Então chamaram um médico de UTI para avaliar e ele disse que ela poderia ficar no quarto, pois havia outros pacientes com mais urgência que ela. Acredito que na UTI a assistência seria bem melhor. Onde estamos, precisamos acionar as enfermeiras o tempo todo”, argumenta.
“Após a cirurgia, o médico foi bem franco e disse que o quadro dela era bem delicado, chegou a falar para a mãe rezar bastante, pois ela é forte”, acrescenta. De acordo com Geiciane, Luciana tem sofrido com episódios de febre e, na manhã desta quinta-feira (9), o médico solicitou um Raio X do tórax.
O que dizem os hospitais e o Estado
Procurada pela redação, a Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV), responsável pela gestão do HMGV, de Sapucaia do Sul, informou, mediante assessoria de imprensa, que a CPRE da qual Luciana precisava (procedimento para retirada de cálculo), “é somente realizado em hospitais de alta complexidade, com regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O HMGV é uma unidade de médiacomplexidade.”
A equipe da reportagem também questionou à SES o motivo de a paciente não poder ser transferida para um hospital mais próximo, ao que a pasta alegou que não poderia repassar dados de pacientes devido à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
O Hospital Regional de Santa Maria, por sua vez, foi procurado, mas não obteve informações a respeito do caso até o horário de fechamento desta reportagem. O Hospital Universitário de Santa Maria, assim como a SES, afirmou que não compartilha boletins acerca do estado de saúde dos pacientes devido à LGPD.
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