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EFEITO DAS ENCHENTES

O que é preciso para reverter as milhares de demissões na Região das Hortênsias

As cinco cidades das Hortênsias tiveram saldo negativo na geração de emprego formal; somente em Gramado, 1.663 pessoas perderam seus postos com carteira assinada

Mônica Pereira
Publicado em: 05/07/2024 às 10h:00 Última atualização: 05/07/2024 às 13h:03
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A catástrofe climática que atingiu o Estado em maio prejudicou a cadeia produtiva de todo o Rio Grande do Sul. Na região das Hortênsias, o enfraquecimento do fluxo de turistas, por causa das dificuldades de acesso e fechamento do Aeroporto Salgado Filho, impactou diretamente no número de demissões.

Isso é confirmado pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Região teve diminuição no fluxo de turistas, após catástrofe climática



Região teve diminuição no fluxo de turistas, após catástrofe climática

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Nas cinco cidades da Região das Hortênsias, todas apresentaram números negativos na geração de empregos com carteira assinada no mês. O destaque vai para Gramado, que teve 1.663 desligamentos, com um resultado negativo de 918.

Depois vem Canela, com déficit de 259; São Francisco de Paula, com 249; Picada Café, com 43; e, por fim, Nova Petrópolis, com 12. Ao todo, foram 3.272 pessoas que perderam seus empregos formais. Quem impulsiona essas demissões é o setor de serviços, o principal gerador de empregos na região.

Em relação aos cinco primeiros meses de 2024, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula ainda têm um saldo positivo. Gramado tem o pior resultado, já que contratou 5.952 pessoas e demitiu 7.120. Atualmente, há um estoque de 20.376 empregos. É o município com mais trabalhadores formais.

Em 2023

Para comparação, em maio de 2023, Gramado e Nova Petrópolis tiveram saldos positivos na contratação de mão de obra. Já as outras cidades, apresentaram déficit, mas em números bem menores do que neste ano.

A exceção fica com Picada Café que, no mesmo mês do ano passado, teve um resultado negativo de menos 109 empregos. No acumulado do ano, somente Nova Petrópolis e Picada Café fecharam com saldo negativo.

Foco na qualificação profissional e nos eventos

Heitor Noel



Heitor Noel

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

O secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico de Gramado, Heitor Noel, pondera que os dados do Caged refletem a tragédia que aconteceu no Estado. Ele reforça que percebe que há empresários que estão buscando alternativas para manter o quadro de funcionários, mesmo neste período de crise.

Heitor reforça, ainda, que o Sine de Gramado está com oportunidades de empregos abertas. As consultas podem ser realizadas pelo aplicativo Sine Fácil ou diretamente no local, que fica junto à sede da Prefeitura, na Avenida das Hortênsias, número 2029, das 8 horas ao meio-dia e das 13 às 17 horas.

O secretário também comenta que o RS Qualificação, está ativo na cidade e que proporciona cursos de capacitação para quem está desempregado.

Como alternativa para encarar as dificuldades, a manutenção e incremento dos eventos no município. “Estamos com a Feira Feito em Gramado na Praça das Etnias. Sabemos que isso movimenta a cidade, uma forma de ajudar o comércio, os negócios e, com isso, manter os empregos”, frisa.

“A situação é bem crítica”

Rodrigo Callais



Rodrigo Callais

Foto: Arquivo Pessoal

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado (Sintrahg), Rodrigo Callais aponta que a entidade já estava percebendo o aumento das demissões, por causa da crescente demanda de trabalho.

“E isso que não são todas as rescisões que passam pelo sindicato, só aquelas com mais de seis meses de contrato de trabalho”, adianta.

As entidades da classe realizaram um adendo à convenção coletiva, com a possibilidade de suspensão do contrato de trabalho por 60 dias e antecipação de férias e feriados.

“Fizemos o acordo entendendo a situação delicada que estávamos passando, mas causa estranheza que, mesmo com a situação ainda vigente, verificamos que muitos empresários estão demitindo. A ponta da crise não pode recair toda nas costas dos trabalhadores”, declara.

Para Callais, o setor tem uma grande rotatividade de forma habitual, mas o aeroporto é uma questão sensível. “Não havendo esse retorno, vai impactar na economia local e pode gerar mais demissões. A retomada do aeroporto é essencial”, acrescenta.

Presidente do Sindtur Serra Gaúcha, Claudio Souza



Presidente do Sindtur Serra Gaúcha, Claudio Souza

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“A situação é bem crítica. O cenário poderia ser pior, mas medidas tomadas entre as entidades minimizaram a situação”, conta o presidente do Sindtur, Claudio Souza, representante do setor patronal hoteleiro da região.

Segundo ele, o atual momento é de instabilidade, mas o empresariado tem tentado manter os empregos e o acordo coletivo preservou postos de trabalho. “Não vejo alternativas que sustentem a cadeia sem o Salgado Filho”, acentua Claudio, ao afirmar que o número de demissões irá aumentar, caso o aeroporto permaneça fechado até o final deste ano.

Eventos auxiliam a aquecer a economia local 

Marcelo Wazlavick, presidente da Abrasel Hortênsias



Marcelo Wazlavick, presidente da Abrasel Hortênsias

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

O presidente da Abrasel Hortênsias, Marcelo Wazlawick, corrobora que o número de desemprego é preocupante.

“A situação requer investimentos em setores estratégicos, apoio às empresas locais para que a economia respire novamente e, com isso, possamos, aos poucos, retomar atividades do turismo e consequentemente os empregos na região”, reforça.

Ele destaca que é preciso apontar também à mão de obra informal que existe, o que pode agravar a situação econômica.

Unindo forças entre entidades, Marcelo sublinha que há uma busca por recursos e incentivos para o setor de alimentação fora do lar. De modo local, a associação vai realizar o Festival de Gastronomia de Gramado, em outubro. “Os eventos aquecem a economia e certamente colaboram para a melhora de empregos na região”, pontua.

O representante do setor de bares e restaurantes ainda reforça que o funcionamento do aeroporto de Porto Alegre é crucial para o turismo. “Alternativas para diminuir os impactos incluem investir em infraestrutura rodoviária e desenvolver o turismo regional”, atesta.

Retomada depende do aeroporto Salgado Filho

Guido Thiele



Guido Thiele

Foto: Cleiton Thiele/Divulgação

Para o presidente do Sindilojas Hortênsias, Guigo Thiele, que representa o setor patronal dos lojistas, a região enfrenta momentos complexos desde o ano passado.

“Toda esta situação reflete nos negócios, que tiveram uma baixa em seus faturamentos, levando à diminuição de custos e cortes”, ressalta. Ele cita que a entidade fez um aditivo à convenção de trabalho para flexibilização das leis, como uma forma de tentar manter os empregos e a renda.

Guido destaca que o sindicato, em sincronismo com a Fecomércio-RS, está buscando apoio às empresas, como com a postergação de impostos e isenção de tributos. De forma síncrona, o pedido de todos da região é pela reabertura do Salgado Filho o mais breve possível, já que os outros aeroportos do Estado não suprem a demanda, o que acaba aumentando o valor das passagens aéreas.

“O acesso pelo aeroporto na capital gaúcha é fundamental para o início do processo de normalidade da movimentação turística, que é o combustível para a economia da região”, reitera o presidente.

Guido também evidencia o aumento do número de visitantes nos finais de semana, que gera expectativa.

“Mas ainda é abaixo do esperado, pois aquele visitante que vem para passar a semana, está vindo em menor quantidade. Precisamos dele para fomentar o turismo de domingo a domingo. Logo teremos também o período natalino, que geralmente contrata, para suprir a grande movimentação turística, o que poderá reduzir este déficit de empregos”, prospecta.

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