PERSEVERANÇA

Recicladora recolhe cerca de 250 quilos de lixo por dia em Canoas

Vera Machado, de 49 anos, sobrevive da reciclagem há uma década. Ela sonha em conseguir madeiramento para deixar a casa mais alta.

Publicado em: 30/03/2023 11:08
Última atualização: 29/02/2024 08:21

Nesta quinta-feira (30) é celebrado o Dia Internacional do Resíduo Zero. Em Canoas, Vera Regina da Silva Machado, de 49 anos, há uma década sobrevive da reciclagem de papelões, latinhas, garrafas PET, papel e plástico recolhidos por ela de segunda a sábado na área central do município. Vera é conhecida por reciclar independentemente das condições climáticas do dia. Com chuva ou sol, com frio ou calor, ela percorre as ruas da região do Calçadão de Canoas em busca de materiais recicláveis para vender no fim do dia em um ferro velho.

Pequena de tamanho e gigante na força e coragem diária para recolher recicláveis Foto: PAULO PIRES/GES

A recicladora recolhe diariamente uma média de 250 quilos de material reciclável. Para armazenar os materiais ela usa um carrinho enferrujado que pegou emprestado do local em que comercializa os materiais. Vera também utiliza bolsões brancos de nylon. "Vou de lixeira em lixeira, as pessoas ainda não possuem o hábito de separar o lixo orgânico do reciclável. Na maioria das vezes é tudo misturado", conta. "Todos os dias encontro materiais que poderiam ser reciclados, mas que ficam inutilizados porque estão misturados com fezes, xixi, alimentos estragados. É impossível recolher, o odor é muito forte."

Sustento

Natural de São Luís Gonzaga, Vera se mudou no início dos anos 2000 para Canoas. Na época veio com o marido e a filha pequena. Trabalhou dez anos como doméstica. Atualmente, Vera é separada e faz o papel de pai e mãe para criar o filho caçula de 9 anos. "Desde que ele nasceu, o nosso sustento vem do meu trabalho diário da reciclagem. Minha filha mais velha não mora mais comigo, ela já é casada", explica. Vera e o filho sobrevivem com pouco mais de um salário por mês. O valor varia conforme a sorte diária da recicladora em conseguir o material reciclável. "Tem dias que não dá 50 reais."

Defasagem no preço

"A reciclagem pagava melhor até pouco tempo antes da pandemia de Covid-19. Tudo mudou para pior, os alimentos subiram absurdamente e o preço dos materiais caiu de forma drástica. A conta passou a não fechar mais", comenta Vera.

Vera organiza os materiais que recolhe Foto: PAULO PIRES/GES

No ferro velho em que vende, é pago por cada quilo de papelão R$ 0,20, o quilo da latinha R$ 5,50, da garrafa PET verde R$ 1,20 e da branca R$ 2, o papel branco R$ 0,25 e o plástico R$ 0,20.

"Além da quantidade de lixo reciclável disponível ter diminuído, o preço também reduziu. O papelão valia R$ 0,70, a latinha mais de R$ 8, por exemplo. Hoje, tudo que for comprar é mais caro, e minha renda é menor."

Sem tratamento de esgoto, a chuva se torna vilã

Vera explica que virou recicladora porque na época era mais rentável que as faxinas que fazia. "As primeiras vezes vim com uns adolescentes catar os materiais, mas logo, segui sozinha. Tudo é recolhido por mim", pondera.

A recicladora mora na Vila Araçá, o local em que vive é carente de tratamento de esgoto. Ela reside com o filho em um cômodo com banheiro. "Dividi em quarto e cozinha. Não tenho sala. Minha casinha é muito baixa, mas era o que podia comprar para não precisar pagar aluguel. Tenho ela graças ao meu trabalho na reciclagem", relata.

Quando chove, o esgoto sobe e entra na casa de Vera. "Moro onde corre o valo do banheiro, a minha casa é em cima. A chuva se torna um tormento." Vera, com a voz embargada e os olhos marejados, revela o sonho de conseguir madeiramento para deixar a casa mais alta. "O que consigo fazer de dinheiro vai tudo para a comida e contas básicas. Meu filho e eu sobrevivemos a cada mês. Quando a reciclagem pagava mais foi quando consegui adquirir minhas coisas e casinha", relembra Vera.

Formas de ajudar Vera a realizar seu sonho

Vera é a única mulher recicladora fixa na região próxima à Prefeitura de Canoas. Um trabalho que requer força física, que demanda esforço e coragem. "Eu graças a Deus nunca me machuquei com o lixo, mas é muito comum de acontecer. É seringa, vidro quebrado, e tantos outros materiais cortantes e que podem trazer risco e doenças para quem está apenas tentando ganhar o pão do dia", reflete.

Embora haja uma parcela considerável que descarta de forma errada o lixo, Vera diz que parte dos comerciantes e moradores da região guarda papelões e garrafas para ela. "Já aconteceu de tentarem me tirar daqui, mas eu estou limpando a cidade e não sujando", explica. Para que Vera consiga realizar o singelo sonho de ter um lar mais confortável, ela aceita doações de madeiras e demais materiais de construção ou dinheiro. Para ajudar, o telefone para contato de Vera é o (51) 99228-4001. A chave Pix (CPF) 01622783069.

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