DESAFIO
DIA DO PROFESSOR: Queda na procura pelo magistério desafia a formação de novos professores no Rio Grande do Sul
Com 105 escolas oferecendo o curso normal no Estado, o magistério busca reverter baixa adesão de alunos
Última atualização: 15/10/2024 07:00
A falta de interesse por ingressar na carreira de professor tem se tornado um grande desafio para a educação. O curso normal, tradicionalmente conhecido como magistério, vem registrando uma queda expressiva no número de alunos. Atualmente, 105 escolas da rede estadual oferecem essa formação, com cerca de oito mil estudantes matriculados.
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Em busca de soluções, a Secretaria de Educação do Estado discute uma reestruturação do curso normal, que foca principalmente no aumento da carga horária e na atualização do currículo com disciplinas que abordem temas como a Educação Inclusiva, a Didática da Computação e NeuroEducação. Segundo Ileane Bravo, coordenadora regional de Educação, o objetivo é aprimorar ainda mais a formação oferecida ao magistério.
“Existe uma procura pela profissão de professor, mas sentimos que nos últimos anos caiu bastante. Por isso, existe uma preocupação do Estado em incentivar os bons alunos a serem professores. A profissão de professor é uma das mais importantes, principalmente porque ela forma todas as outras profissões”, afirma.
O curso normal pode ser oferecido de duas formas: integrado ao ensino médio ou como aproveitamento de estudos, voltado para quem já concluiu o ensino regular. Para Ileane, os alunos formados no magistério destacam-se pela formação prática, que muitas vezes não é plenamente atendida no ensino superior.
“Todos os alunos que passam pelo curso normal saem preparados para serem educadores. A universidade, muitas vezes, forma bem na teoria, mas falha na preparação prática”, explica.
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Conforme Ileane, a área da abrangência da 2ª Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE) é uma das regiões mais tradicionais na oferta dessa formação. Ao todo, sete instituições de ensino somam 26 turmas e 500 alunos: o Colégio Estadual 25 de Julho, em Novo Hamburgo; o Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider, em São Leopoldo; o Instituto Estadual de Educação Sapiranga, em Sapiranga; o Instituto Estadual de Educação Olívia Lahm Hirt, em Igrejinha; o Instituto Estadual de Educação Paulo Freire, em São Sebastião do Caí; o Instituto Estadual de Educação Assunta Fortini, em Barão; e o Colégio Estadual Professor Jacob Milton Bennemann, na cidade de Feliz.
“Os municípios valorizam muitos os alunos do curso normal pela qualidade de sua formação. Entendemos que vai chegar o momento em que teremos poucos professores, mas já existem políticas públicas focadas em resolver isso”, reforça Ileane.
Um dos projetos mencionados por Ileane é o programa Professor do Amanhã, uma iniciativa estadual que busca atrair jovens para a carreira docente, oferecendo bolsa-auxílio para o curso de licenciatura nas universidades parceiras. “O programa quer valorizar e fomentar que o aluno se sinta incentivado e motivado a cursar uma licenciatura”, pondera.
Rede particular também sofre com a queda de interesse
A diminuição de alunos e instituições que oferecem o curso normal não é um problema exclusivo da rede estadual. Dados do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS) revelam que, das 302 escolas associadas à entidade, apenas quatro ainda oferecem o magistério, localizadas em Gravataí, Ivoti, Candelária e Arroio do Tigre. Em 2022, esse número era de nove escolas.
Para o presidente do Sinepe/RS, Oswaldo Dalpiaz, a situação se agravou por uma combinação de fatores. “Há alguns anos, ser professor significava ter um status. Além do respeito, o valor salarial era bem quisto. Os professores estão recebendo um salário muito aquém do que merecem e não têm mais aquele respeito que tinham antes”, pondera.
Dalpiaz aponta que um dos grandes desafios da educação é a baixa procura por profissionais dispostos a seguir a carreira docente, um problema que só pode ser resolvido com políticas públicas adequadas. “O governo estabelece uma política, mas não oferece os meios para implementá-la. Uma alternativa seria firmar convênios que permitissem aos jovens estudar em escolas privadas que oferecem o curso de magistério”, sugere.
Vocação compartilhada
Além do laço familiar, as irmãs Sabrina Brunner, 27, e Sofia Brunner, 19, mantêm a mesma paixão pela educação. Sabrina, que concluiu o curso normal em 2016, inspirou Sofia a seguir os mesmos passos. “Não era algo que eu planejava desde cedo, mas entrei de peito aberto e me encontrei nessa profissão”, conta Sabrina.
Ambas optaram pelo ensino médio profissionalizante, o que as levou ao magistério. Atualmente, Sabrina é professora na rede municipal de Novo Hamburgo e reconhece os desafios da profissão. “Sou muito feliz como professora, mas o trabalho é desafiador. A gente precisa estar sempre se atualizando e buscando melhorar”, destaca.
O mesmo caminho é percorrido por Sofia, que se forma até o final deste ano. “Me inspirei na minha irmã e sempre estive rodeada de professores. Gosto muito do que faço, mas sinto que a formação precisa de mais atualização”, comenta.
A jovem, que agora realiza o estágio obrigatório, também está no segundo semestre de Pedagogia. “Eu quero seguir na profissão, porém não é uma carreira valorizada. Já escutei de outros professores para desistir, todos ficam um pouco desanimados”, disse Sofia.
A falta de concursos públicos para professores com formação apenas no curso normal é um dos principais desmotivadores para as irmãs. “Além da desvalorização, a escassez de concursos para quem tem apenas o magistério também afasta muitos alunos da formação”, conclui Sabrina.