O sonho de se tornar um policial militar e servir às forças de segurança começou no dia 5 de agosto para centenas de jovens entre 18 e 28 anos. Os estudantes-soldados fazem parte do Curso Básico de Formação Polícia Militar (CBFPM), que visa formar mais de 500 militares para atuação em todo o estado. Ao todo, foram 580 aprovados no concurso, dos quais 300 foram destinados para a Escola de Formação e Especialização de Soldados de Montenegro (EsFES-Mn), e os outros 280 cursam na EsFES Santo Inácio, em Porto Alegre.
Coordenador de Cursos na EsFES Mn, o Tenente Enio Fernando Pastorio explica que a formação teve início com a “semana zero”, um treinamento 24 horas por dia, seis dias na semana, para adaptar os novatos ao militarismo. “Pegamos alunos ex-militares das forças armadas, mas também vendedores, professores, atendentes, estagiários do poder judiciário. E agora temos que nivelar num padrão de entendimento do que é o militarismo.”
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Na semana zero, os alunos não podem ter acesso a celulares, computadores ou qualquer coisa externa “justamente para que estejam focados no aprendizado nessa semana de adaptação”, explica Pastorio. Vale ressaltar que, dos 300 destinados a Montenegro, 4 não se apresentaram e um desistiu, restando 295 alunos. “Às vezes acontecem desistências pelos mais variados motivos, mas a imensa maioria se forma. Na BM, é uma rotina pesada que você vai cumprir por 30, 35 anos”, acrescenta.
Um dos momentos mais marcantes da semana zero, foi a caminhada de Pareci Novo à EsFES Montenegro, onde todos percorreram os 12 quilômetros como parte da adaptação e exercício de campo. No dia 13 de agosto, a escola completou 50 anos de atividades após quase ter sido fechada devido à enchente de maio. “O comando da escola e o departamento de ensino estão empenhados em deixar a escola em condições de manter o curso de soldados a pleno vapor”, afirma Pastorio.
Soldados vêm de todas as partes
Dos 295 soldados, 238 são homens e 57 são mulheres. Os alunos vêm de todo o Rio Grande do Sul, principalmente da área central, de cidades como Santa Maria e Cruz Alta. Há também 17 alunos que vieram de fora do estado. ”O treinamento é igual para homens e mulheres, eles vão cumprir as mesmas exigências. Na prova física é um pouco diferente, mas todo o resto é igual para ambos”, explica o Tenente.
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Curiosamente, conforme Pastorio, não há nenhum aluno da própria Montenegro. Os novos soldados que vêm de longe, têm a opção de ficarem no alojamento da escola de formação. Entre eles está Regina Rigon, de 24 anos. Ela é natural de Augusto Pestana, uma pequena cidade de 7 mil habitantes no noroeste gaúcho, próxima a Ijuí. Ela conta que não tem nenhum familiar brigadiano ou das forças policiais, mas que decidiu fazer o concurso por influência do namorado, que também tinha esse sonho.
“Estudamos juntos e os dois passaram. Então comecei a me empolgar com a ideia, já admirava a profissão e desde que iniciamos o curso, admiro ainda mais. Queria fazer parte deste time da Brigada Militar e hoje estou aqui”, detalha. Já o namorado está realizando o mesmo curso, porém em Porto Alegre.
Apesar das dificuldades, Rigon afirma que está sendo uma experiência muito boa, que ensina a dar valor às pequenas coisas, como a alimentação, uma coberta, e o simples fato de ter uma boa noite de sono. “Nossa rotina é muito corrida, às 6h20 já estamos de prontidão. Tudo é muito rigoroso, às vezes não dá tempo de comer direito, fazer a higiene, mas a gente vai se acostumando e entrando no ritmo”, complementa.
Nesta parte inicial, a instrução ocorre dentro das salas de aula, com disciplinas de Direito, Saúde, Ordem Unida, Defesa Pessoal, Sociologia da Violência, entre outras. E, aos poucos, os soldados serão inseridos em provas de campo.
Orgulho para a família
Felipe Andrade de Castro, de 25 anos, é natural de Porto Alegre, mas sempre morou em Canoas. Diariamente, ele percorre cerca de 50 quilômetros para ir a Montenegro e outros 50 para voltar para casa. A rotina é “muito sugada” porque precisa acordar no meio da madrugada e só retorna à noite. Enfrentar as dificuldades, no entanto, não é novidade para Felipe, que tem um propósito: dar orgulho a quem o criou.
“Eu cresci em uma família pobre. Quando nasci, meu pai não quis me criar e fui criado pelos meus avós. Quando eu tinha 10 anos, meu avô faleceu e dali em diante fui criado só pela minha avó. Então sempre tive aquele negócio comigo, que eu tinha que dar orgulho para quem estava me criando, porque teve gente que não quis e ela abraçou a causa”, conta o soldado.
Sua influência veio do irmão mais velho, que serviu na Aeronáutica durante 4 anos. “Ele que deu um rumo, um norte no militarismo”, explica. Aos 18 anos, Felipe entrou no Exército, onde permaneceu até o mês passado. “Cheguei à graduação de terceiro sargento e hoje estou aqui”, finaliza.
O Tenente Pastorio reforça que a maioria dos iniciantes estão no curso por influência da família e amigos. “É um desejo de vida”, diz. Da mesma forma é o caso de Laura Nogueira, de 24 anos, que veio de Bagé. “Resolvi entrar no curso por influência de amigos e pela minha admiração à instituição. O curso está sendo excelente, e tenho a expectativa de ir para as ruas colocar o conhecimento em prática”, conta.
O desejo é reforçado por Jackson Oliveira, 23, de Soledade, que fez o concurso também por influência de amigos que conheceu na instituição e indicaram a carreira militar. “Além da indicação dos amigos, também prestei o concurso pelo grande respeito que a entidade tem pela sociedade do Rio Grande do Sul. É uma força policial proativa que admiro muito. Minha expectativa de pôr em prática tudo o que aprendemos é enorme, porque, como diz o slogan, a EsFES Montenegro é a Lendária Escola da Brigada Militar”, conclui.
Depois de formados, os novos policiais serão distribuídos pelo estado a critério do comando da Brigada Militar, a partir do estudo sobre a violência. Cidades com os maiores índices têm a prioridade. “Hoje, estão entre as mais violentas Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias, Rio Grande e Passo Fundo. Então 90% do pessoal, eu calculo que vai ser lotado na nossa Região Metropolitana, Sinos e Serra”, finaliza o Tenente Pastorio.
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