Dos 47 aviões que ficaram no Aeroporto Internacional Salgado Filho no dia 3 de maio de 2024, quando o alagamento atingiu a pista e as operações foram suspensas, um em especial desperta a curiosidade de muita gente: o Boeing 727-200 da Total Cargo, prefixo PR-TTP, que ficou ilhado no pátio, em uma cena inusitada que rodou o mundo.
Qual será o destino do trijato que voa há nada menos do que 46 anos? Oficialmente a Total Cargo, que é proprietária e operadora do avião, não fala sobre o assunto. Nos últimos dias, o ABCmais conversou com três especialistas, sob a condição de anonimato, para projetar o futuro do avião raro. É um dos três deste modelo que ainda operam no Brasil. Os outros dois também são da Total.
Avião tem prazo para sair de Porto Alegre?
Por enquanto, o PR-TTP ainda não tem prazo para sair do aeroporto de Porto Alegre. Isso porque a água da enchente cobriu todo o sistema de trem de pouso, que precisará passar por uma revisão detalhada, e o porão de aviônicos, que é onde ficam computadores e parte importante dos componentes eletrônicos.
Até agora, 16 aviões já deixaram o Salgado Filho
Outro ponto de interrogação é a situação da pista. Dos 47 aviões que ficaram no aeroporto, oito conseguiram decolar no dia 8 de junho e mais oito conseguiram decolar na última sexta-feira (14). Isso só foi possível porque são de pequeno e médio portes e conseguem operar em metade da extensão da pista do Salgado Filho (na parte leste, menos impactada pela água). O 727 precisaria de um espaço um pouco maior.
Segundo as fontes ouvidas pelo ABCmais, o plano da Total Cargo é tocar as revisões e manutenções necessárias para que, tão logo haja condições de decolagem, o avião seja levado para o centro de manutenção da empresa em São Paulo. Até a interdição do Salgado Filho, o trijato voava todas as noites para Guarulhos para levar e buscar mercadorias, especialmente dos Correios.
Por que o Boeing 727 da Total é um avião raro?
O diagnóstico de que a água da enchente atingiu o porão de aviônicos do Boeing 727-200 é um ponto de atenção mesmo que o modelo seja “menos moderno” em termos de eletrônicos do que aviões usados no País para transporte de passageiros, por exemplo. Na cabine se vê poucas telas e muitos marcadores analógicos, inclusive no painel lateral onde trabalha o engenheiro de voo.
É isso que faz do PR-TTP um jato tão especial na aviação brasileira. É um dos raros modelos que voa regularmente no País e ainda conta com a figura do engenheiro de voo, além do piloto e do co-piloto. Com o passar dos anos, a operação do “Flight Engineer” acabou sendo substituída por modernos sistemas computadorizados.
Trijato está em operação desde abril de 1978
O trijato da Total que ficou “ilhado” no Salgado Filho já rodou o mundo. Seu primeiro voo foi em 20 de abril de 1978. No mesmo ano passou a voar pela Hughes Airwest, dos Estados Unidos. No ano seguinte passou para a Phillipine Airlines (Filipinas). Em 1981 para a Republic Airlines (EUA) e, em 1986, para a Northwest Airlines (EUA).
Em 1996 o avião passa a ser utilizado pela Ecuatoriana de Aviación (Equador). Em 2000 é convertido do transporte de passageiros para o transporte de cargas e passa a ser utilizado pela Express One (Japão). Em 2003 passou para a Loyd Aéreo Boliviano (Bolívia) e, em 2007, para a Total Cargo (Brasil).
“É um avião rápido e confiável”, definiu o comandante Paulo Fernando Jaeger em entrevista ao canal ASA que foi publicada no dia 25 de outubro de 2020 no YouTube. Na ocasião, o comandante informou que tinha pouco mais de 14 mil horas de voo no Boeing 727-200.
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