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QUALIDADE DO AR COMPROMETIDA

Quando a fumaça das queimadas deve deixar o Rio Grande do Sul?

Vento norte é responsável por empurrar fumaça de incêndios florestais do sul da Amazônia, de outras partes do Brasil e de países vizinhos

Laura Rolim
Publicado em: 12/09/2024 às 20h:32 Última atualização: 13/09/2024 às 14h:49
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Apesar da chuva que chegou à região ter trazido um pouco mais de visibilidade na quinta-feira (12) e prometer certo alívio para os próximos dias, a fumaça das queimadas deve seguir encobrindo o céu do Rio Grande do Sul nas próximas semanas. Se na quarta-feira (11) o tom acinzentado tomava conta da atmosfera, com a chegada de uma frente fria, que trouxe chuva, o ar começou a limpar, embora ainda haja a possibilidade de ocorrer a chamada chuva preta.

Sol alaranjado e céu cinza, efeito da fumaça das queimadas | abc+



Sol alaranjado e céu cinza, efeito da fumaça das queimadas

Foto: Paulo Pires/GES

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De acordo com a MetSul Meteorologia, o Estado também terá vento Sul até esta sexta-feira (13), que deve empurrar a fumaça para fora do Rio Grande do Sul e vai contribuir para a melhora da qualidade do ar. Mas, afinal, quando os gaúchos voltarão a ver o céu azul do Rio Grande do Sul?

Segundo a meteorologista Estael Sias, toda vez que houver previsão de chuva e vento sul no Estado, a qualidade do ar deve melhorar, pois a chuva tem a missão de limpar a atmosfera. “Nós veremos o céu azul na sexta, que o tempo já vai abrir na metade sul e oeste, assim como no final de semana. A qualidade do ar vai melhorar muito com a passagem da chuva, da frente fria e do vento”, afirma.

Acontece que isso não deve se manter por muito tempo, pois na semana que vem, a fumaça deve retornar ao Estado, já que o vento norte fará o trabalho de empurrar a fumaça das queimadas do sul da Amazônia, de outras partes do Brasil e de países vizinhos para o Rio Grande do Sul.

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A meteorologista alerta que o Estado só terá um alívio do fenômeno quando as queimadas acabarem. “Na medida em que seguem os incêndios, as queimadas, o ar extremamente seco, as ondas de calor no Centro-Oeste, no Sudeste, na Bolívia, no Peru, na parte amazônica, no Cerrado, o vento é que vai determinar para onde vai a fumaça. Então, na verdade, é preciso que o incêndio seja apagado e a chuva se torne mais regular”, projeta Estael.

Quando a fumaça deve parar de encobrir o céu do RS?

Estael afirma ainda que deve demorar para que os incêndios sejam apagados de forma definitiva, muito provavelmente entre o final de outubro e ao longo de novembro. “Por isso, nós vamos falar muito de fumaça por conta dessa estação seca, que começou mais cedo, está mais prolongada do que normal e com ondas de calor desde o outono nessas áreas do centro e norte do território brasileiro”, reforça a meteorologista.

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Fenômeno deve piorar em setembro

De acordo com o professor Flavio Manoel Rodrigues da Silva Júnior, do Laboratório de Ensaios Farmacológico e Toxicológicos (Left) da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), historicamente, setembro é o mês com o maior número de queimadas no Brasil.

Tivemos um agosto, em termos de número de focos de incêndios florestais, o pior já registrado no último ano, e é muito provável que teremos um setembro muito ruim, pois costuma ser pior do que agosto”, constata.

Por que os gaúchos estão sofrendo com a fumaça das queimadas agora?

Conforme Silva Júnior, o fenômeno chegou à região Sul do País por conta da seca, a baixa umidade e as ondas de calor, que, somados aos episódios de incêndios florestais, naturais e não naturais, se intensificaram.

Estamos sofrendo como nunca antes, pois essa fumaça que vem da Amazônia, da região Central, vem com as massas de ar, que ao encontrarem a barreira natural da Cordilheira dos Andes, não conseguem ultrapassar e voltam com a ajuda das massas de ar até a região Sul”, explica.

Fenômenos climáticos seguirão acontecendo

No primeiro semestre de 2024, os gaúchos já foram castigados pela maior catástrofe climática do Estado. Questionado sobre a regularidade com que esse tipo de evento deve ocorrer, Silva Júnior afirma que não se tem como precisar quando, mas devem ser mais regulares.

“Enchentes severas, secas e incêndios mais severos vão acontecer com maior frequência do que no passado. Associado às mudanças climáticas, o aumento de gases de efeito estufa, certamente vamos ter momentos bastantes difíceis no país”, garante o professor da Furg.

Fepam monitora

Em contato feito com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) na terça-feira (10), a qualidade do ar referente ao dia 9 de setembro, composta por cinco estações automáticas, localizadas em Gravataí, Canoas, Esteio, Triunfo e Guaíba, era boa, conforme resolução Resolução Conama Nº 506/2024, sendo que apenas a estação de Triunfo apresentou qualidade ruim nos dias 15 e 16 de agosto.

No entanto, em novo boletim atualizado, disponibilizado no site da Fepam, foi apontado que nas últimas semanas houve um aumento das concentrações de material particulado inalável, o que fez com que a qualidade do ar, em algumas regiões, fosse classificada como moderada.

Nos dias 10 e 11 de setembro, a qualidade do ar foi considerada ruim na estação de Triunfo, por conta de altas concentrações de partículas inaláveis finas, chamadas de PM 2,5, que contêm poeira, fuligem e fumaça. Já as estações de Canoas, Gravataí e Guaíba, na última atualização, também do dia 11 de setembro, tiveram classificação moderada.

Professor defende ampliação de redes de monitoramento da qualidade do ar

Silva Júnior observa que o número de estações de monitoramento é muito baixo no Estado, o que dificulta a implementação de medidas. “Temos mais de 400 municípios, e a maior parte do Estado não tem cobertura efetiva da qualidade do ar”, completa. Conforme o biólogo, as medidas de monitoramento são fundamentais. “Não podemos tomar qualquer decisão sem conhecer a qualidade do ar. A expansão desse monitoramento é urgente”, defende.

Ele ressalta que a divulgação dos dados deveria ser em tempo real. “Precisamos de dados em tempo real, pois as medidas de saúde precisam ser tomadas, e esse não será um episódio isolado, ele vai acontecer de novo e pode ser até pior”, afirma Júnior.

Qualidade do ar prejudica população

Assim como a maioria dos gaúchos, a auxiliar de almoxarifado Gabriele Letícia Lik, 25, tem sentido os impactos da fumaça no céu do Rio Grande do Sul. “Fiquei com muito medo, pois nunca vimos uma coisa dessas aqui. A gente percebe só pelo sol e pelo ambiente. Não vemos mais o céu azul, pois está sempre cinza”, comenta.

O fenômeno contribuiu para a pior dos sintomas de Gabriele, que tem rinite alérgica. “A gente puxa o ar e é mais difícil de respirar”, diz. Para aliviar o ressecamento da garganta, ela afirma que tem ingerido mais água.

A aposentada Lenita Malzer, 60, também relata ter sentido dificuldade para respirar. “Também estou com a garganta seca e falta de ar. Tenho certeza que é por conta dessa fumaça”, constata.

Lenita Malzer observa consequências à saúde | abc+



Lenita Malzer observa consequências à saúde

Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Pneumologista alerta para os cuidados

A pneumologista, doutora em Ciências Pneumológicas (Ufrgs) e professora de Pneumologia na Universidade Feevale, Simone de Leon Martini, alerta que a inalação de partículas finas e gases tóxicos pode causar irritação nos olhos, nariz e garganta, levando a tosse e dispneia. “Sendo que a exposição prolongada pode agravar condições respiratórias existentes, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de aumentar o risco de infecções respiratórias”, afirma.

Segundo a médica, as particulares poluentes presentes no ar por conta da fumaça das queimadas podem causar inflamações sistêmicas, com aumento nos riscos de doenças cardíacas e vasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Além disso, há casos de irritação nos olhos por conta da fumaça.

Simone recomenda o uso de colírio lubrificante e higiene nasal com soro fisiológico. Além de manter portas e janelas de casa fechadas para evitar que a fumaça entre no interior. “E muito importante, enquanto estivermos passando por isso, não realizar esportes ao ar livre”, completa.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) recomenda também o aumento da ingestão de água e uso de máscaras do tipo cirúrgica, pano, lenços ou bandanas para reduzir a exposição às partículas grossas. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população.

Crianças, idosos e gestantes devem estar atentos a sintomas respiratórios e buscar atendimento médico imediatamente se necessário.

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