Um dos cenários que ficou marcado na vida das pessoas, com a tempestade registrada neste mês no Estado do Rio Grande do Sul, foi a grande quantidade de árvores caídas especialmente em vias públicas.
Tal situação traz uma reflexão sobre qual a espécie adequada a ser plantada e de quem é a responsabilidade pelo manejo das mesmas.
Dois biólogos, o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Flávio Barcelos Oliveira, e Diego Magnus, do setor de Arborização Urbana da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, elencaram algumas árvores que podem ser plantadas em calçadas e fizeram considerações sobre o assunto.
“Imaginem a dimensão dos danos materiais se não existissem as copas das árvores, atenuando a força dos ventos nas cidades. Com certeza seria o caos, mas vamos nos ater especialmente às árvores caídas”, pontua Oliveira, que recomenda o plantio de Açoita-cavalo, Canjerana, Ipê amarelo da praia, Ipê amarelo da várzea, Ipê roxo, Jacarandá mimoso (única espécie não nativa do Rio Grande do Sul) e Tarumã-preta.
Diego Magnus, da Semam hamburguense, escolheu cinco espécies de árvores. Ele explica que elas são nativas do Estado, e as escolheu considerando o porte, porque são árvores que alcançam em média 10 metros de altura, possuem um enraizamento que não é agressivo e se adaptam facilmente aos espaços em que foram plantadas e as suas copas tem fácil manejo para poda, evitando-se que atinjam os fios.
“Plantando uma árvore de porte menor, teremos uma planta que será menos atingida pelas rajadas de vento.”
Dicas dos biólogos
Flávio Barcelos Oliveira: Açoita-cavalo, Canjerana, Ipê amarelo da praia, Ipê amarelo da várzea, Ipê roxo, Jacarandá mimoso (única espécie não nativa do Rio Grande do Sul) e Tarumã-preta.
“Açoita cavalo, Canjerana, Caroba, Ipê roxo e Jacarandá mimoso são árvores que, no meio urbano, apresentam altura média de 12 a 14 metros de altura e convivem bem com as redes elétricas e podas de compatibilização”, explica.
Ele acrescenta que essas árvores aparentam altura média igual ao diâmetro de projeção de copa (DPC), detalhe importante para uma árvore se desenvolver bem no meio urbano e conviver harmoniosamente com os equipamentos urbanos (postes, redes aéreas, sinalização de trânsito, semáforos) e elementos prediais (fachadas prediais, telhados, calhas).
“Árvores que apresentam equilíbrio entre sua altura e projeção de copa têm copas arredondadas, quesito básico para definição de espécies adaptáveis às podas de compatibilização com o meio urbano”, salienta.
Diego Magnus: Ipê amarelo, Cocão, Pitangueira, Araçazeiro e Chal-chal.
As podas de limpeza devem ser realizadas sempre que existirem galhos e tocos podres ou velho, bem como existirem parasitas e algumas outras plantas. Para todas elas, deve-se procurar um local adequado que respeite o seu crescimento médio, não tendo obstáculos nessa faixa média, respeitando-se, assim, a relação espaço (disponível) x espécie (escolhida).
Todas elas devem ser plantadas em uma porção de área livre permeável, sem pavimento, de, no mínimo, 1m x 1m , para que obtenham água em quantidade adequada.
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Ipê amarelo – Árvore nativa também no Rio Grande do Sul, é de médio porte, atingindo em média de 4 a 8m de altura. Durante o crescimento, desenvolve um tronco esguio e tortuoso. O enraizamento, profundo e pivotante, não é agressivo, o que não ocasiona danos ao pavimento do entorno, tornando a planta ideal para ser utilizada na arborização das cidades.
Os galhos, enquanto a planta se desenvolve, tendem a crescer de forma aberta, o que pode ser corrigido com a realização de podas de levantamento de copa, retirando-se os galhos mais baixos, e de direcionamento, sempre que necessário.
Cocão – Árvore de médio porte, atingindo em média até 8 metros de altura. Seu enraizamento não é agressivo, não ocasionando, em regra, danos a elementos existentes em seu entorno. Possui uma copa arredondada que pode ser mantida com a realização de podas de levantamento de copa e de limpeza, a fim de manter os galhos sempre afastados da circulação de pessoas e veículos, sempre que for necessário.
Pitangueira – Árvore nativa que varia, quanto ao porte, entre pequeno e médio, podendo atingir até 12 metros de altura. É uma árvore fina, que tende a ocupar pouco espaço. Também tem um sistema radicular com raízes que não ocasionam danos ao pavimento e outros elementos. Pode ser mantida com a realização de podas de levantamento de copa e de limpeza sempre que se fizer necessário.
Araçazeiro – Árvore de médio porte que, em média, pode atingir até 8m de altura, sendo bastante apreciada para arborizar os espaços públicos de cidades, uma vez que seu crescimento não causa danos aos patrimônios públicos ou privados, já que também possui um enraizamento que não é agressivo. As podas devem ser realizadas para que os galhos sejam direcionados bem para cima, com o levantamento de copa, e conduzir adequadamente seu crescimento.
Chal-chal – O chal-chal pode atingir até 10 metros de altura, sendo uma espécie que, em diâmetro, também tende a não ocupar grande espaço físico. É bastante apreciada em cidades, pois se adapta bem aos contextos e não apresenta um enraizamento agressivo.
A responsabilidade
O biólogo Flávio Barcelos Oliveira explica que a arborização pública é um serviço público municipal, portanto a competência do manejo é exclusivamente da municipalidade. Por outro lado, explica, moradores, proprietários ou locatários de prédios residenciais ou comerciais podam ilegalmente raízes de árvores públicas para reconstrução de calçadas, rebaixamentos de meio-fio e para suprirem áreas gramadas tão essenciais à sustentabilidade das árvores públicas.
“Cortam, danificam, depredam, o que de mais importante existe numa árvore, seu sistema de raízes. É exatamente esse sistema de raízes que sustenta e alimenta a árvore. Grande parte das árvores que caem já tiveram raízes trucidadas irregularmente. E pior, depois essas árvores levam a culpa”, pontua.
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