EM BUSCA DE JUSTIÇA

Protesto marca dois anos das mortes por falta de oxigênio no Hospital Lauro Reus

Neste domingo, parentes das vítimas se manifestaram em frente ao Fórum de Campo Bom. Grupo cobra mais velocidade no andamento do processo criminal

Publicado em: 19/03/2023 15:28
Última atualização: 26/02/2024 11:55

Familiares dos pacientes que morreram por uma falha no sistema de oxigênio do Hospital Lauro Reus em 2021 foram até o Fórum de Campo Bom na manhã deste domingo (19) cobrar agilidade nos processos que tramitam na Justiça para averiguar os casos. Cerca de 15 pessoas chegaram ao local por volta das 9 horas e estenderam um cartaz em homenagem às vítimas. Além disso, o grupo amarrou laços pretos às grades do prédio.

Protesto Lauro Reus Foto: Eduardo Amaral/GES Especial

Os manifestantes representavam tanto as famílias das seis pessoas que morreram no hospital no dia 19 de março de 2021, quanto de outras 15 que vieram a falecer nos dias seguintes à falta de oxigênio. Para o Ministério Público (MP-RS), as seis mortes do dia 19 têm relação direta com a pane no sistema de oxigenação da casa de saúde, as demais são analisadas. 

Luciana Pedroso é filha de Vani Diesel, que morreu aos 66 anos. De acordo com ela o protesto foi a forma de pressionar para que o poder judiciário acelere a avaliação do processo criminal contra os que são considerados responsáveis pela falha que levou à morte dos pacientes que estavam internados por Covid-19. "A gente acha fundamental que a comunidade tenha essa resposta, porque depois de tomar conhecimento de todas as perícias é impossível que a gente fique quieto. A Juíza precisa dar seu parecer, se aceita as denúncias ou não."

Protesto Lauro Reus - Luciana Pedroso Foto: Eduardo Amaral/GES Especial

Durante esses dois anos desde a tragédia que tirou a vida dos pacientes do Lauro Reus os movimentos jurídicos são considerados lentos pelos familiares das vítimas. Entre os movimentos comemorados por Luciana é o fato de a Justiça ter aceito a mudança dos atestados de óbito das seis vítimas de "morte natural" para "morte violenta: hipoxemia/asfixia, homicídio".

Familiares ainda sofrem pelas perdas

Ao lembrar do chamado do hospital na manhã de 19 de março de 2021, Luciana diz que esperava uma informação diferente. Como a mãe vinha se recuperando da Covid, a esperança era que naquele dia a família fosse informada sobre uma melhora no quadro de saúde. "A gente imaginou que a notícia seria que ela estaria sendo desentubada pela melhora que ela estava tendo", relembra ela ainda se dizendo surpresa por ter sido comunicada da morte da mãe.

Situação semelhante viveram os familiares de Maria Rosane Kroth da Silva, na época com 54 anos e que também estava internada por conta da Covid. Sobrinha de Maria, Bruna Kroth estava junto com os primos Marcelo e Mateus da Silva no protesto deste domingo. "Queremos que os responsáveis sejam punidos, responsabilizados."

Na memória de Bruna ficou a falta de pessoas para auxiliarem a retirada do corpo da tia do hospital. "Eles tinham muita pressa para retirar o corpo dela de lá, quando o agente funerário chegou não tinha funcionários para auxiliar, então meu primo teve que ajudar a transportar o corpo da mãe dele."

Pai conversou com a filha antes de morrer

O pai de Maria Eduarda Webler não estava entubado no dia que o sistema do Hospital Lauro Reus teve uma pane, mas utilizava máscara de oxigênio naquela manhã e foi um dos pacientes retirados do quarto e encaminhados ao pronto atendimento. Lauri Webler tinha 50 anos naquele momento, e ainda conseguiu conversar com os familiares pois havia sido encaminhado para o pronto atendimento logo após o problema ter sido detectado pela equipe do hospitalar. "Ele nos contou que estava acordado e começou a ver as máquinas de oxigênio apitando as paradas cardíacas no quarto e a movimentação de quem vinha para socorrer."

Mas apesar de ter conseguido ainda conversar com a família, o estado de saúde de Lauri piorou ao longo do dia, já que, segundo Maria Eduarda, ele chegou a ficar 40 minutos sem oxigênio. Ele faleceu foi entubado na madrugada do dia 20 de março e morreu no dia 1º de abril.

Relembre o caso

Em meio a pandemia, no dia 19 de março de 2021, uma falha no sistema de oxigênio do Lauro Reus causou a morte de seis pacientes. No dia 18 de março de 2022, o MP/RS entrou com ação pedindo indenizações às famílias das vítimas. No final do ano passado a Justiça aceitou o pedido de mudança nos atestados de óbito das vítimas.

Na Justiça correm processos civis e criminais contra a Associação São Miguel (ABSM), responsável pela gestão hospitalar naquele momento, e contra a Air Liquide, empresa que fazia a distribuição do oxigênio ao Lauro Reus. Em setembro do ano passado o MP denunciou nove pessoas por homicídio culposo devido às mortes, justamente o processo que as famílias cobram agilidade no momento.

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