DIGNIDADE MENSTRUAL

Projeto sobre menstruação de pesquisadora da região chega ao México; veja detalhes

Pesquisa científica também busca levar temática menstrual para dentro das salas de aula

Publicado em: 18/09/2024 14:41
Última atualização: 18/09/2024 14:41

Mais do que a distribuição gratuita de absorventes, o acesso à dignidade menstrual abre portas para uma discussão bem mais complexa. De Três Coroas para o mundo, a jornalista Caroline Luiza Willig, 29 anos, viu sua pesquisa de doutorado sobre o tema levantar voo e desembarcar no México.

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Caroline é criadora do projeto Menstru.ações. Foto: Arquivo pessoal

Doutoranda em Manifestações Culturais pela Universidade Feevale, Caroline levou para a Universidad Pedagógica Nacional, em Cuernavaca, no México, o que tem estudado no projeto “Menstru.ações”, que além da pesquisa científica também propõe atividades multidisciplinares de formação. Uma delas, é um curso direcionado aos professores do ensino fundamental com foco em preparar a comunidade escolar para lidar de uma maneira mais saudável com a temática da menstruação.

Segundo Caroline, mais do que oferecer acesso à saúde pública e itens básicos de higiene, é necessário trabalhar a educação social e a emancipação do conhecimento nas comunidades. “Além da distribuição de absorventes, precisamos educar os professores, as escolas, os jovens e os pais. A educação é o primeiro passo. Preciso primeiro conhecer os meus direitos, antes de lutar por eles”, afirma.

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Uma pesquisa realizada pelo Fundo de População das Nações Unidas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância aponta que no Brasil mais de 700 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio. Além disso, mais de quatro milhões não têm acesso a itens básicos de cuidados menstruais nas escolas. Para tentar diminuir esse abismo, a Lei 14.214/2021 prevê a distribuição gratuita de absorventes por meio da Farmácia Popular.

O problema escancara a pobreza menstrual, que divide corpos menstruantes — mulheres cisgêneros, homens transgêneros e pessoas não binárias — entre aqueles que têm acesso ao básico e os que não tem. “A minha pesquisa fala primeiro da pobreza de conhecimento, ou seja, cercear os saberes. Colocamos o corpo menstruante como um corpo inferior. Dentro dessa lógica, vai se criando vários pensamentos misóginos”, pondera Caroline.

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Sangue azul

Um dos pontos mais criticados por Caroline é o fato de comerciais voltados à marcas de absorventes muitas vezes retratam o sangue da menstruação na tonalidade azul. “Por que esse sangue traz tanto nojo? Trazer esse saber na escola é importante. Por isso, gosto de trabalhar com professores, pois a menstruação não escolhe quando vai chegar e pode acontecer em qualquer momento da vida escolar”, explica.

Para vencer os estigmas da menstruação, a pesquisadora aposta em três pilares: saúde, educação e cultura. “Precisamos fazer as pazes com a menstruação. Não é um mar de rosas, tem vezes que amamos e odiamos. A dor faz parte da vida, mas não significa que precisamos romantizar”, disse Caroline.

Curso gratuito

Disponível para acesso até o dia 30 de setembro, o curso "Precisamos falar sobre dignidade menstrual" é dividido em quatro encontros temáticos com o objetivo de desmistificar e ressignificar a temática. As inscrições são gratuitas e de forma online pelo site acesse.one/ProjetoMenstruacoes.

Direcionado principalmente aos professores, as aulas trabalham a importância de jovens terem acesso ao conhecimento amplo sobre menstruação já na vida escolar. "É muito comum ficar menstruada na escola e precisar esconder. É um tema espinhoso de trabalhar na escola, mas vale a pena o resultado", destaca Caroline.

O projeto “Menstru.ações” é financiado por recursos da Lei Paulo Gustavo. A pesquisa de Caroline tem o apoio de bolsa da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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