PROCURAM-SE DINDOS
Projeto Apadrinhar estimula laços de afeto e proteção a quem busca recomeçar
Iniciativa é uma alternativa na garantia do direito à convivência comunitária de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional
Última atualização: 26/03/2024 19:52
Já faz quase um ano que os finais de semana de Alice*, 16 anos, não são mais os mesmos. Cinema, passeios e lanchinhos passaram a fazer parte da rotina. Assim como abraços, conselhos e muito carinho. Aquilo que soa como normal para um adolescente que vive e cresce em uma família, para Alice é uma experiência possibilitada pelo Projeto Apadrinhar.
Desde os 6 anos ela vive no serviço de acolhimento. Vivendo em uma situação de extrema pobreza no bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, Alice e os seis irmãos foram retirados da mãe, que criava os filhos sozinha. As crianças sofriam com maus-tratos, abandono e negligência.
O Apadrinhar é uma alternativa na garantia do direito à convivência comunitária de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional. O projeto é desenvolvido pela ONG Elo, de maneira voluntária e gratuita, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJ) e diversos municípios.Hoje, depois de mais de dez anos, Alice experimenta como é viver em família e desenvolve laços afetivos por um casal que está disposto a ter sua presença pelos próximos anos e conquistar cada dia mais sua confiança.
Cristofer Juan Araújo dos Santos, 27, e Carla Maria de Oliveira, 25, estão juntos há dez anos. Eles são pais de Laura Maria de Oliveira Araújo, 7 anos, e estão à espera de Lucca, com previsão de nascimento até 5 de julho.Quando o bebê nascer, os laços afetivos com Alice terão ainda mais força. Isso porque a jovem recebeu um convite muito especial. “Eu serei a dinda dele. Eu acho que será mais parecido com a Carla, porque a Laura já é cara do Cristofer”, diz.
Questionados sobre os motivos para tomarem essa decisão, que deve marcar a história da família daqui pra frente, Cristofer explica. “Escolhemos ela por causa do jeito que é e por conta do carinho que tem com a nossa filha”, diz. “Este é um passo a mais para o amadurecimento dela e também para criarmos um vínculo cada vez mais forte, para que ela fique mais próxima da gente”, complementa.
*Alice é o nome fictício da jovem que, por respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não pode ter sua identidade revelada.
Por que ser dindo afetivo?
Foi graças aos pais de Cristofer que o casal se interessou pelo apadrinhamento afetivo. Gilson e Marisa dos Santos participam de outra iniciativa do TJ, o Famílias Acolhedoras. Neste programa, famílias voluntárias acolhem temporariamente crianças que estão em abrigos até que elas possam ser reinseridas em suas famílias biológicas.
“Meus pais são pais sociais. Então nos aproximamos desta realidade das crianças que vivem em lares. E isso nos abriu os olhos para querer ajudar, querer participar”, diz Cristofer.
Foi assim que eles conheceram Alice. Com dois afilhados de nascimento, o casal passou a alimentar o desejo de se tornar padrinho afetivo da jovem. A partir daí a Elo, que tem sede em Gravataí, entrou na história. A entidade é a responsável pela preparação dos dindos afetivos das crianças e adolescentes que estão sob os cuidados do serviço de acolhimento em Novo Hamburgo.
Preparação dos padrinhos
Denise Marques Maschio é coordenadora do Apadrinhar e cofundadora da Elo. Ela explica que a formação dos padrinhos é realizada por meio de cinco encontros virtuais. O principal objetivo é não deixar que ninguém chegue “cru” ao serviço de acolhimento. Os candidatos conhecem as regras das casas, as rotinas e quem são as crianças e adolescentes disponíveis para serem apadrinhados.
Segundo Denise, nos encontros é enfatizado que os possíveis afilhados são adolescentes ou estão na pré-adolescência, uma fase de mudanças psíquicas e físicas. “Os candidatos aprendem que esses jovens precisam de afeto. Eles não querem presente, mas aquele tempo, aquele carinho individualizado. Apesar dos cuidadores fazerem o seu melhor, eles precisam daquele olhar único”, explica Denise.
Os dindos de Alice gostaram da experiência de participar da formação obrigatória. “Durante o curso se aprende sobre situações que podem acontecer. Como, por exemplo, o que fazer se encontrar um parente na rua ou se a criança se machuca”, diz Cristofer. Ele pontua ainda que receberam orientações sobre o que fazer quando o jovem relata situações particulares que não são de conhecimento do serviço de acolhimento.
Para a coordenadora técnica das casas 1 e 4 do Lar Colmeia, Ivelise Menezes, os encontros de formação para padrinhos são importante também porque os adultos desmistificam algumas ideias errôneas. “Esta criança que está no acolhimento não é um menor infrator. Ela é uma vítima”, lembra.
Ivelise ressalta que a experiência do apadrinhamento é importante para toda a dinâmica do serviço de acolhimento. Além do afilhado experimentar como é uma vida em família, recebendo cuidado e carinho individual, o ambiente na casa melhora com isso. “Eles voltam mais felizes por passearam, fizeram coisas diferentes”, descreve.
Direito à escolha cabe aos afilhados
“Este é o grande momento do projeto. Porque até então, eles não tiveram direito de escolher. Não escolheram estar no acolhimento, não escolheram não serem adotados”, pontua Denise. “Por isso escolher o seu dindo, a sua dinda, é um momento muito importante que ressignifica todo o processo de apadrinhamento”, evidencia.
Cristofer e Carla também gravaram o vídeo e ficaram na torcida para que Alice os escolhesse. “A gente entrou para o programa com o intuito de ser padrinho dela. Mas corria o risco dela não querer a gente”, contam.
O casal lembra que os amigos e conhecidos tiveram várias reações depois que apadrinharam Aline. “Teve quem orientou a gente a não se apegar porque poderia não dar certo e depois a gente iria sofrer”, relata Carla. “Também houve pessoas que olharam com espanto e alguns que confundiram com adoção”, completa Cristofer. Mas também teve quem se interessou pela iniciativa e encontrou no casal um incentivo para se tornar dindo afetivo.
Quem é Alice?
A jovem já teve uma experiência anterior de apadrinhamento um ano antes. “Não deu certo com a outra madrinha porque eu fugi do lar. Mas agora eu não penso em fugir não. Está tudo certo e eu gosto muito deles”, diz.
Dentre as aventuras que Alice já viveu com os dindos e Laura estão muitas idas ao cinema, passeio ao Parque da Florybal e uma viagem de avião para a praia do Guarujá, em São Paulo. “O filme que mais gostei foi Avatar 2”, conta.
Além disso, quando a jovem vem passar o fim de semana na casa dos padrinhos todo mundo dorme na sala, em uma espécie de acampamento.
Sobre o seu futuro, a jovem ainda não sabe o que vai fazer. Mas se depender dos dindos, isso logo vai entrar nas conversas de fim de semana. "Nós vamos começar a trabalhar isso com ela agora", garante Cristofer.
Faltam padrinhos
Em Novo Hamburgo, existem 12 casas lares, com até dez moradores, e três abrigos, com até 20 crianças e adolescentes. Das 159 crianças e adolescentes que viviam no acolhimento até 16 de maio, 29 aguardavam um dindo. Já a lista de pessoas disposta a assumir esta tarefa é mais enxuta.
No dia 10 de maio a Elo iniciou uma nova turma de formação do curso que tem apenas uma edição ao ano, voltada para as cidades de Novo Hamburgo, Gravataí e Sapucaia do Sul. São 20 candidatos inscritos para mais de 50 jovens para serem apadrinhados.
Os jovens habilitados para se tornarem afilhados são sempre os mais velhos, os que vivem há mais tempo no serviço de acolhimento. “São aqueles que têm chance praticamente zero de ganharem uma nova família”, explica Denise.
Por isso, o esforço de todos se concentra em encontrar padrinhos que estejam dispostos a “dar um norte” para esses adolescentes, pois quando completarem 18 anos não terão mais o acompanhamento que até então recebiam. “É garantir que ele terá alguém com quem contar para sempre.”
Apadrinhar é diferente de adotar
A juíza da Vara da Infância e da Adolescência de Novo Hamburgo, Ângela Martini, explica que antes de 2017 no Novo Hamburgo cada casa tinha um programa de apadrinhamento, sem um regramento específico, que não era muito conhecido pelo Judiciário. "Então, a gente firmou essa parceria com a Elo e conseguimos padronizar o atendimento em Novo Hamburgo", explica.
Segundo a magistrada, a iniciativa quer alcançar aqueles adolescentes que não têm convívio comunitário e já não estão mais no perfil buscado para adoções. "Às vezes, as pessoas querem padrinhar uma criança menor porque estão pensando em adotar depois. Isso não é possível", informa Ângela.
Conforme a juíza, é possível afirmar de uma forma "muito segura" que há uma melhora significativa na vida do adolescente que passa a ter o convívio com seus padrinhos. "Isso ocorre em todos os sentidos, seja na regulação das emoções, no aproveitamento escolar e no relacionamento com os demais do serviço de acolhimento", descreve.
No Rio Grande do Sul, existem 22 comarcas habilitadas no projeto, sendo que na região, além de Novo Hamburgo, ainda participam Canela, Canoas, Montenegro e Três Coroas. Conforme Ângela, existem poucas varas especializadas na infância e na adolescência no Estado.
O Programa Apadrinhar não é uma imposição do TJ e há cidades que desenvolvem suas próprias iniciativas. Ela lembra ainda que as crianças e adolescentes também são preparados para receberem padrinhos, de modo a não criarem falsas expectativas.
Saiba mais
Quem pode ser afilhado (a)
Crianças e adolescentes que apresentam poucas perspectivas de adoção ou retorno para a família. Por exemplo: crianças e adolescentes com deficiência, crianças e adolescentes com síndromes, pré-adolescentes e adolescentes e grupos de irmãos.
Quem pode ser padrinho ou madrinha
Pessoas idôneas, com no mínimo 18 anos de idade, com disponibilidade de tempo que possibilite o contato regular com o afilhado (a) e para participar das oficinas e reuniões com a equipe do projeto.
O padrinho ou madrinha pode:
Visitar regularmente o (a) afilhado (a); realizar passeios com o (a) afilhado (a), proporcionando convivência familiar e comunitária saudável; e acompanhar o (a) afilhado (a) em atividades e eventos.
Documentos necessários para se cadastrar
Identidade (original e fotocópia), comprovante de residência atualizado e certidão negativa de antecedentes criminais.
Cadastro e informações
Ficou interessado? Para mais informações, entre em contato com a Coordenadoria da Infância e Juventude do Estado: cijrs@tj.rs.gov.br ou com a Elo, nos seguintes canais: site eloadocao.org.br, telefone (51) 9916-59537 ou e-mail elo@eloadocao.com.br
Já faz quase um ano que os finais de semana de Alice*, 16 anos, não são mais os mesmos. Cinema, passeios e lanchinhos passaram a fazer parte da rotina. Assim como abraços, conselhos e muito carinho. Aquilo que soa como normal para um adolescente que vive e cresce em uma família, para Alice é uma experiência possibilitada pelo Projeto Apadrinhar.
Desde os 6 anos ela vive no serviço de acolhimento. Vivendo em uma situação de extrema pobreza no bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, Alice e os seis irmãos foram retirados da mãe, que criava os filhos sozinha. As crianças sofriam com maus-tratos, abandono e negligência.
O Apadrinhar é uma alternativa na garantia do direito à convivência comunitária de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional. O projeto é desenvolvido pela ONG Elo, de maneira voluntária e gratuita, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJ) e diversos municípios.Hoje, depois de mais de dez anos, Alice experimenta como é viver em família e desenvolve laços afetivos por um casal que está disposto a ter sua presença pelos próximos anos e conquistar cada dia mais sua confiança.
Cristofer Juan Araújo dos Santos, 27, e Carla Maria de Oliveira, 25, estão juntos há dez anos. Eles são pais de Laura Maria de Oliveira Araújo, 7 anos, e estão à espera de Lucca, com previsão de nascimento até 5 de julho.Quando o bebê nascer, os laços afetivos com Alice terão ainda mais força. Isso porque a jovem recebeu um convite muito especial. “Eu serei a dinda dele. Eu acho que será mais parecido com a Carla, porque a Laura já é cara do Cristofer”, diz.
Questionados sobre os motivos para tomarem essa decisão, que deve marcar a história da família daqui pra frente, Cristofer explica. “Escolhemos ela por causa do jeito que é e por conta do carinho que tem com a nossa filha”, diz. “Este é um passo a mais para o amadurecimento dela e também para criarmos um vínculo cada vez mais forte, para que ela fique mais próxima da gente”, complementa.
*Alice é o nome fictício da jovem que, por respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não pode ter sua identidade revelada.
Por que ser dindo afetivo?
Foi graças aos pais de Cristofer que o casal se interessou pelo apadrinhamento afetivo. Gilson e Marisa dos Santos participam de outra iniciativa do TJ, o Famílias Acolhedoras. Neste programa, famílias voluntárias acolhem temporariamente crianças que estão em abrigos até que elas possam ser reinseridas em suas famílias biológicas.
“Meus pais são pais sociais. Então nos aproximamos desta realidade das crianças que vivem em lares. E isso nos abriu os olhos para querer ajudar, querer participar”, diz Cristofer.
Foi assim que eles conheceram Alice. Com dois afilhados de nascimento, o casal passou a alimentar o desejo de se tornar padrinho afetivo da jovem. A partir daí a Elo, que tem sede em Gravataí, entrou na história. A entidade é a responsável pela preparação dos dindos afetivos das crianças e adolescentes que estão sob os cuidados do serviço de acolhimento em Novo Hamburgo.
Preparação dos padrinhos
Denise Marques Maschio é coordenadora do Apadrinhar e cofundadora da Elo. Ela explica que a formação dos padrinhos é realizada por meio de cinco encontros virtuais. O principal objetivo é não deixar que ninguém chegue “cru” ao serviço de acolhimento. Os candidatos conhecem as regras das casas, as rotinas e quem são as crianças e adolescentes disponíveis para serem apadrinhados.
Segundo Denise, nos encontros é enfatizado que os possíveis afilhados são adolescentes ou estão na pré-adolescência, uma fase de mudanças psíquicas e físicas. “Os candidatos aprendem que esses jovens precisam de afeto. Eles não querem presente, mas aquele tempo, aquele carinho individualizado. Apesar dos cuidadores fazerem o seu melhor, eles precisam daquele olhar único”, explica Denise.
Os dindos de Alice gostaram da experiência de participar da formação obrigatória. “Durante o curso se aprende sobre situações que podem acontecer. Como, por exemplo, o que fazer se encontrar um parente na rua ou se a criança se machuca”, diz Cristofer. Ele pontua ainda que receberam orientações sobre o que fazer quando o jovem relata situações particulares que não são de conhecimento do serviço de acolhimento.
Para a coordenadora técnica das casas 1 e 4 do Lar Colmeia, Ivelise Menezes, os encontros de formação para padrinhos são importante também porque os adultos desmistificam algumas ideias errôneas. “Esta criança que está no acolhimento não é um menor infrator. Ela é uma vítima”, lembra.
Ivelise ressalta que a experiência do apadrinhamento é importante para toda a dinâmica do serviço de acolhimento. Além do afilhado experimentar como é uma vida em família, recebendo cuidado e carinho individual, o ambiente na casa melhora com isso. “Eles voltam mais felizes por passearam, fizeram coisas diferentes”, descreve.
Direito à escolha cabe aos afilhados
“Este é o grande momento do projeto. Porque até então, eles não tiveram direito de escolher. Não escolheram estar no acolhimento, não escolheram não serem adotados”, pontua Denise. “Por isso escolher o seu dindo, a sua dinda, é um momento muito importante que ressignifica todo o processo de apadrinhamento”, evidencia.
Cristofer e Carla também gravaram o vídeo e ficaram na torcida para que Alice os escolhesse. “A gente entrou para o programa com o intuito de ser padrinho dela. Mas corria o risco dela não querer a gente”, contam.
O casal lembra que os amigos e conhecidos tiveram várias reações depois que apadrinharam Aline. “Teve quem orientou a gente a não se apegar porque poderia não dar certo e depois a gente iria sofrer”, relata Carla. “Também houve pessoas que olharam com espanto e alguns que confundiram com adoção”, completa Cristofer. Mas também teve quem se interessou pela iniciativa e encontrou no casal um incentivo para se tornar dindo afetivo.
Quem é Alice?
A jovem já teve uma experiência anterior de apadrinhamento um ano antes. “Não deu certo com a outra madrinha porque eu fugi do lar. Mas agora eu não penso em fugir não. Está tudo certo e eu gosto muito deles”, diz.
Dentre as aventuras que Alice já viveu com os dindos e Laura estão muitas idas ao cinema, passeio ao Parque da Florybal e uma viagem de avião para a praia do Guarujá, em São Paulo. “O filme que mais gostei foi Avatar 2”, conta.
Além disso, quando a jovem vem passar o fim de semana na casa dos padrinhos todo mundo dorme na sala, em uma espécie de acampamento.
Sobre o seu futuro, a jovem ainda não sabe o que vai fazer. Mas se depender dos dindos, isso logo vai entrar nas conversas de fim de semana. "Nós vamos começar a trabalhar isso com ela agora", garante Cristofer.
Faltam padrinhos
Em Novo Hamburgo, existem 12 casas lares, com até dez moradores, e três abrigos, com até 20 crianças e adolescentes. Das 159 crianças e adolescentes que viviam no acolhimento até 16 de maio, 29 aguardavam um dindo. Já a lista de pessoas disposta a assumir esta tarefa é mais enxuta.
No dia 10 de maio a Elo iniciou uma nova turma de formação do curso que tem apenas uma edição ao ano, voltada para as cidades de Novo Hamburgo, Gravataí e Sapucaia do Sul. São 20 candidatos inscritos para mais de 50 jovens para serem apadrinhados.
Os jovens habilitados para se tornarem afilhados são sempre os mais velhos, os que vivem há mais tempo no serviço de acolhimento. “São aqueles que têm chance praticamente zero de ganharem uma nova família”, explica Denise.
Por isso, o esforço de todos se concentra em encontrar padrinhos que estejam dispostos a “dar um norte” para esses adolescentes, pois quando completarem 18 anos não terão mais o acompanhamento que até então recebiam. “É garantir que ele terá alguém com quem contar para sempre.”
Apadrinhar é diferente de adotar
A juíza da Vara da Infância e da Adolescência de Novo Hamburgo, Ângela Martini, explica que antes de 2017 no Novo Hamburgo cada casa tinha um programa de apadrinhamento, sem um regramento específico, que não era muito conhecido pelo Judiciário. "Então, a gente firmou essa parceria com a Elo e conseguimos padronizar o atendimento em Novo Hamburgo", explica.
Segundo a magistrada, a iniciativa quer alcançar aqueles adolescentes que não têm convívio comunitário e já não estão mais no perfil buscado para adoções. "Às vezes, as pessoas querem padrinhar uma criança menor porque estão pensando em adotar depois. Isso não é possível", informa Ângela.
Conforme a juíza, é possível afirmar de uma forma "muito segura" que há uma melhora significativa na vida do adolescente que passa a ter o convívio com seus padrinhos. "Isso ocorre em todos os sentidos, seja na regulação das emoções, no aproveitamento escolar e no relacionamento com os demais do serviço de acolhimento", descreve.
No Rio Grande do Sul, existem 22 comarcas habilitadas no projeto, sendo que na região, além de Novo Hamburgo, ainda participam Canela, Canoas, Montenegro e Três Coroas. Conforme Ângela, existem poucas varas especializadas na infância e na adolescência no Estado.
O Programa Apadrinhar não é uma imposição do TJ e há cidades que desenvolvem suas próprias iniciativas. Ela lembra ainda que as crianças e adolescentes também são preparados para receberem padrinhos, de modo a não criarem falsas expectativas.
Saiba mais
Quem pode ser afilhado (a)
Crianças e adolescentes que apresentam poucas perspectivas de adoção ou retorno para a família. Por exemplo: crianças e adolescentes com deficiência, crianças e adolescentes com síndromes, pré-adolescentes e adolescentes e grupos de irmãos.
Quem pode ser padrinho ou madrinha
Pessoas idôneas, com no mínimo 18 anos de idade, com disponibilidade de tempo que possibilite o contato regular com o afilhado (a) e para participar das oficinas e reuniões com a equipe do projeto.
O padrinho ou madrinha pode:
Visitar regularmente o (a) afilhado (a); realizar passeios com o (a) afilhado (a), proporcionando convivência familiar e comunitária saudável; e acompanhar o (a) afilhado (a) em atividades e eventos.
Documentos necessários para se cadastrar
Identidade (original e fotocópia), comprovante de residência atualizado e certidão negativa de antecedentes criminais.
Cadastro e informações
Ficou interessado? Para mais informações, entre em contato com a Coordenadoria da Infância e Juventude do Estado: cijrs@tj.rs.gov.br ou com a Elo, nos seguintes canais: site eloadocao.org.br, telefone (51) 9916-59537 ou e-mail elo@eloadocao.com.br
Desde os 6 anos ela vive no serviço de acolhimento. Vivendo em uma situação de extrema pobreza no bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, Alice e os seis irmãos foram retirados da mãe, que criava os filhos sozinha. As crianças sofriam com maus-tratos, abandono e negligência.
O Apadrinhar é uma alternativa na garantia do direito à convivência comunitária de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional. O projeto é desenvolvido pela ONG Elo, de maneira voluntária e gratuita, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJ) e diversos municípios.Hoje, depois de mais de dez anos, Alice experimenta como é viver em família e desenvolve laços afetivos por um casal que está disposto a ter sua presença pelos próximos anos e conquistar cada dia mais sua confiança.