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MOBILIDADE, TURISMO E LAZER

Saiba quais pontes históricas na região vão ganhar novas serventias

Melhorias estão em andamento nas cidades de Dois Irmãos e Feliz para preservar e valorizar as estruturas

Moacir Fritzen
Publicado em: 04/10/2024 às 07h:00 Última atualização: 04/10/2024 às 07h:38
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Dpois de cumprirem com importantes serviços para as comunidades da região, duas pontes históricas vão ter o fardo que suportam aliviado em breve: a Ponte de Ferro de Feliz e a Ponte de Pedra de Dois Irmãos. Em vez de suportarem um trânsito intenso e muitas cargas, as duas estruturas vão virar pontos turísticos e de lazer.

As cidades se desenvolveram e o fluxo de veículos também. Gerações passaram por cima e por baixo delas para ir e vir. A importância econômica é inegável, pois foram os principais meios de acessar várias comunidades durante décadas.

Ponte de Pedra (à esquerda) de Dois Irmãos e ao lado a estrutura praticamente finalizada | abc+



Ponte de Pedra (à esquerda) de Dois Irmãos e ao lado a estrutura praticamente finalizada

Foto: Adrione Britto/Prefeitura de Dois Irmãos

A mais antiga das duas é a Ponte de Pedra, construída em 1855 sobre o arroio Feitoria, numa estrada que ligava São Leopoldo à Serra – naquele tempo não havia a BR-116, e essa era uma das principais vias da região. A construção tem características romanas. O capitão Jacob Blauth foi o responsável pela obra, e Johannes Sauther era o mestre de obras. Um detalhe fácil de notar é a semelhança arquitetônica com a Ponte do Imperador, de Ivoti, também erguida por Blauth e Sauther alguns anos mais tarde.
Loudwick Daniel Kurz era o fornecedor de pedras de arenito e, em uma carroça, trazia o material, provavelmente das terras da família Stoffel. Essa ponte consistiu em uma importante conexão entre os moradores do Travessão Rübenich e do Centro de Dois Irmãos.

Nova travessia

Uma nova estrutura foi projetada para suportar 45 toneladas, muito mais que as 10 toneladas da Ponte de Pedra. A construção deve ser finalizada em breve.

A pista agora terá de 7,70 metros de largura e contará com dois passeios e um mirante, totalizando quase 16 metros de largura. A nova ponte está pronta, mas ainda não foi liberada para o trânsito.
E a antiga?

A ponte histórica não será demolida ou abandonada. A intenção é de que o antigo monumento enfim possa “descansar” um pouco, mas sem se “aposentar”, pois passará a ser um espaço de lazer e ponto turístico. A contratação da nova ponte, contemplou também a construção de uma praça com playground infantil, área de descanso, iluminação e um abrigo para usuários do transporte público.

O investimento total está calculado R$ 8.322.653,82. O secretário de Planejamento e Sustentabilidade, João Jordan da Silva, destaca que é uma grande obra, que vai valorizar o patrimônio histórico e melhorar o trânsito na cidade de Dois Irmãos.

Possível cenário de crimes no século 19

Além da sua importância econômica e social, a Ponte de Pedra de Dois Irmãos também é apontada como cenário de crimes ao longo do século 19. Um dos episódios violentos teria acontecido no ano de 1858, quando o barão Hubert Carl Anton Ludovic von Schlabrendorff foi emboscado e baleado nas imediações do Arroio Feitoria. Entre as atividades que ele desempenhava estava o recrutamento de homens para a Guarda Nacional. Ao longo dos anos, o barão colecionou alguns inimigos, pois nem todos aceitavam o recrutamento de boa vontade. Por isso, naquela oportunidade, ele passou por Dois Irmãos junto com uma comitiva com a missão de entregar uma intimação. O grupo foi recebido a balas e Schlabrendorff sucumbiu alguns dias depois num hospital.

Hubert Karl Anton von Schlabrendorff e sua mãe Maria Anna Friedericka von Wrede von Schlabrendorff | abc+



Hubert Karl Anton von Schlabrendorff e sua mãe Maria Anna Friedericka von Wrede von Schlabrendorff

Foto: Acervo Pessoal

 

Próximo a essa travessia, no ano de 1874, ocorreu um conflito entre membros dos Mucker e moradores de Dois Irmãos. Na ocasião foi assassinado Jacob Bauermann, de 23 anos, que residia nesta localidade.

Obra impacta comunidade de Feliz e vai transformar a paisagem urbana

A principal motivação para a construção de uma estrutura mais moderna e ampla na cidade de Feliz foi o intenso tráfego sobre a centenária Ponte de Ferro. Cálculos estimavam uma média de 7.720 veículos transitando diariamente, incluindo sete deles ultra pesados.

Vista aérea da centenária Ponte de Ferro sobre o Rio Caí (à direita), na cidade de Feliz, ao lado dos pilares de concreto da estrutura que está em construção | abc+



Vista aérea da centenária Ponte de Ferro sobre o Rio Caí (à direita), na cidade de Feliz, ao lado dos pilares de concreto da estrutura que está em construção

Foto: Divulgação/Prefeitura de Feliz

A estrutura da nova ponte terá aproximadamente 92 metros de extensão, com pilares de cerca de 50 metros cada. Além das duas pistas, a ponte contará com ciclovia e área de circulação para pedestres.
O financiamento foi realizado por meio de uma operação de crédito bancário, com um plano de pagamento em até 10 anos.

Mesmo com o impacto das enchentes, o cronograma prevê a inauguração em março de 2025, de acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura.

O Consórcio Nova Conexão, formado pelas empresas Sultepa e Sogel, foi escolhido para a execução da obra, com um contrato no valor de R$ 14,8 milhões.

O projeto foi concebido para valorizar a presença da Ponte de Ferro no cenário urbano de Feliz. Está prevista a revitalização da antiga ponte para contribuir com o turismo.

A travessia centenária histórica deve ser novamente liberada para o trânsito neste mês de outubro e depois fechada quando a ponte nova estiver aberta.

Os perigos de atravessar o Rio Caí

No século 19, o perigo de atravessar o Rio Caí, principalmente à noite, era agravado pela iluminação precária. Afogamentos não eram incomuns. E dois padres estão entre as vítimas que sucumbiram nas águas: Michael Kellner em 1883 e Johann Ruland em 1895.

Cruz desaparecida em homenagem a padre Ruland (detalhe) desapareceu há décadas, possivelmente após uma cheia. No entanto, reapareceu após enchente de maio deste ano | abc+



Cruz desaparecida em homenagem a padre Ruland (detalhe) desapareceu há décadas, possivelmente após uma cheia. No entanto, reapareceu após enchente de maio deste ano

Foto: Martin Bruckman/divulgação

Com o desenvolvimento das picadas do Vale do Caí também era necessário escoar a produção e facilitar a circulação dos moradores.

Levada no dia 2 de maio, cruz do Padre Kellner também foi encontrada | abc+



Levada no dia 2 de maio, cruz do Padre Kellner também foi encontrada

Foto: Igor Seibert/Acervo Pessoal

Cobrança de pedágio no início do século 20

Foi para resolver um problema que freava o desenvolvimento econômico e social do Vale do Caí que a estrutura de ferro foi importada da Bélgica no início do século 20. Hoje um monumento histórico e turístico da região, a Ponte de Ferro tinha outra utilidade na Europa: ao invés de pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas, era voltada para o uso por maquinistas e passageiros de trens. Ou seja, ela era originalmente projetada como uma ponte ferroviária.

Segundo o portal Patrimônio Belga no Brasil, a Ponte de Ferro foi inaugurada em 10 de março de 1900 e passou-se a cobrar pedágio para qualquer um que a atravessasse: pedestres, cavaleiros, carroceiros e, claro, os poucos carros que rodavam na época. Essa cobrança estendeu-se por 25 anos. A construção deve ter iniciado no final do século 19. A obra tenha demorado de oito a 14 meses.

 

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