O poema “Depois do Beijo do Rio”, que faz alusão às enchentes de maio e traz uma mensagem de esperança e reinício, foi o grande vencedor do 9º Esteio da Poesia Gaúcha, festival promovido pela Prefeitura de Esteio cuja final ocorreu no último sábado (27) no Espaço Tattersall da ABCCC no Parque de Exposições Assis Brasil.
Escrito pelo casal de poetas Bianca Bergmam e Igor Silveira, representantes de Cachoeira do Sul, a obra conquistou, ainda, os troféus de Melhor Trabalho em Palco, terceiro melhor amadrinhador, com Fernando Graciola (Encantado) e melhor intérprete, com Neiton Bittencourt Perufo (Alegrete), que sagrou-se tetracampeão do evento – o declamador já havia sido campeão na quinta, sétima e oitava edições.
O segundo lugar entre os poemas foi para “A Mangueira e o Simplício”, de Rafael Ferreira (Vacaria), declamado por Paula Daniele Stringhi (Caxias do Sul), que ficou com o segundo lugar entre os intérpretes. O troféu de terceiro lugar foi para “Ficou pelo Cavalete”, do poeta são-borjense Matheus Marchezan Bauer.
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Entre os amadrinhadores, o primeiro lugar foi para o acordeonista Edilberto Bérgamo, de São Gabriel, pelo acompanhamento de Érico Rodrigo Padilha no poema “Pátio de Rancho”, de Matheus Costa (Dom Pedrito).
Esteio do Amanhã
Antes do festival de poemas inéditos, dez crianças e adolescentes de oito a 16 anos participaram do 5º Esteio do Amanhã, evento em que elas tiveram que interpretar poemas finalistas de festivais como o Esteio da Poesia e outros do gênero. Entre os Mirins, o primeiro lugar ficou com Rodrigo Henrique Polonia Fröelich, de Nova Hartz. O troféu de melhor Juvenil foi para Dara Montagna Netto, de Canoas, que já havia sido campeã do 1º Esteio do Amanhã, mas entre os mirins.
Além das apresentações dos 10 poemas inéditos e das crianças e adolescentes, quem foi ao evento pode acompanhar um show de encerramento com o cantor Luiz Marenco. A condução ficou a cargo do poeta, declamador e radialista Odilon Ramos.
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O 9º Esteio da Poesia Gaúcha e 5º Esteio do Amanhã foi realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL) e Diretoria de Comunicação Social e Eventos, vinculada ao Gabinete do Prefeito. O festival teve apoio da ABCCC, que cedeu gratuitamente o espaço Tattersall, e parceria da Don Cássio Selaimen Facas Artesanais, M. Bueno Cutelaria e Criações Darvami, que deram regalos aos campeões. A avaliação ficou a cargo do poeta Cândido Brasil, presidente da Estância da Poesia Crioula, do poeta, radialista e compositor Juarez Machado de Farias, e do declamador Fabio Malcorra.
Festival teve recorde de inscritos
O 9º Esteio da Poesia Gaúcha recebeu a inscrição de 418 trabalhos, escritos por 165 poetas de 102 municípios diferentes do Rio Grande do Sul e de outros 12 estados brasileiros (SC, PR, SP, RJ, MG, MT, GO, BA, MA, RN, AM e AP). Foi a edição com maior número de poetas, cidades e estados participantes.
Com a inscrição de 55 declamadores de 36 cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o 5º Esteio do Amanhã também bateu recorde. Entre os finalistas, uma declamadora de São Lourenço do Oeste (SC) e uma de Foz do Iguaçu (PR).
Declamação até na solenidade de abertura
Como tem acontecido desde a terceira edição, em 2017, o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, ousou declamar uns versos na abertura do evento, escritos pelo jornalista e organizador do evento Djalma Corrêa Pacheco, que destacaram o festival, o crescimento do evento ao longo dos últimos anos.
Resultados
5º Esteio do Amanhã
Mirim
1º lugar: Rodrigo Henrique Polonia Fröelich
2º lugar: Sofia da Rosa Crestani
Juvenil
1º lugar: Dara Montagna Netto
2º lugar: Luana Vincenzi de Oliveira
9º Esteio da Poesia Gaúcha
Melhores Poemas
1º lugar: Depois do Beijo do Rio, de Bianca Bergmam e Igor Silveira, declamado por Neiton Bittencourt Perufo com amadrinhamento de Fernando Graciola
2º lugar: A Mangueira e o Simplício, de Rafael Ferreira, declamado por Paula Daniele Stringhi, amadrinhada por Fernando Graciola
3º lugar: Ficou pelo Cavalete, de Matheus Marchezan Bauer, declamado por Pedro Junior da Fontoura, amadrinhado por Jean Carlo Godoy
LEIA TAMBÉM
Melhores Declamadores
1º lugar: Neiton Bittencourt Perufo, em “Depois do Beijo do Rio”
2º lugar: Paula Daniela Stringhi, em “A Mangueira e o Simplício”
3º lugar: Vitor Lopes Ribeiro, em “Rubro”, poema de Otavio Lisboa, amadrinhado por Felipe Leal
Melhores Amadrinhadores
1º lugar: Edilberto Bérgamo, em “Pátio de Rancho”, de Matheus Costa, declamado por Érico Rodrigo Padilha
2º lugar: Kayke Mello, em “Campo dos Fundos”, de Juliano Santos, declamado pelo autor
3º lugar: Fernando Graciola, em “Depois do Beijo do Rio”
Melhor Trabalho em Palco
Depois do Beijo do Rio
Confira o poema vencedor
Depois do Beijo do Rio
O céu derramou seu pranto
Por um mundo mal-cuidado…
Chorou estrelas em raios,
E ali deixou empoçado
Todo o silêncio da vida,
De quem se viu derrotado.
Eu vi caírem gigantes do seu altar de marfim,
Nos braços da correnteza, aqui, bem perto de mim.
Eu vi telhados ruindo, sobre cristãos e ateus,
E os alicerces da Terra, pedindo forças pra Deus.
A água não escolheu por cor e nem faixa etária…
Não fez distinção de crença e nem de conta bancária;
Apenas caiu, rolando, tomando cada vazio,
E tudo foi afogado depois do beijo do Rio.
Eu vi boiadas perdidas
Serpenteando à própria sorte.
Vagando a esmo, berrando,
No redemoinho da morte.
Eu vi campeiros ilhados,
Distantes das suas encilhas,
Voltando em botes e barcos,
Pra resgatar suas tropilhas.
Vi tantas pontes caindo,
Lavouras sendo lavadas,
E a esperança no leme,
De balsas desgovernadas.
Mirei os olhos da morte, com minha alma insurgente.
Remei meu barco, sem medo, e fui buscar tanta gente,
Mas meu ranchinho, parceiro, caiu na goela da enchente.
Os meus sonhos mastigados, destroçados feito eu,
Seguiram remando em frente nos rumos que a vida deu.
Talvez por ser um fantasma,
Quando as águas me chamaram,
Provei dos tantos horrores que os jornais não mostraram.
Mas vi a força materna vencer a força da encosta…
Feito uma “tigra” guerreira,
Com seu tigrinho nas costas.
Eu vi tantos sobrenomes estampando noticiários,
Politicando as palavras de seus correligionários,
Enquanto um homem, sem nome,
Na hora do lusco fusco,
Jogou sua vida nas águas,
Salvando a vida de um cusco.
O vidro negro da noite prendeu o mundo em seu breu,
Na madrugada mais fria, que nestes tempos se deu.
Garras afiadas de morte, a negacear os cansados…
Almas sedentas de vida a resistir nos telhados.
Quem vê de longe, imagina,
Por certo sem ter noção,
O medo e o desespero já desnorteando a razão,
De quem campeava algum galho,
Por tábua de salvação.
E assim eu vi tantas coisas…
E assim me vi tão pequeno.
Vi olhos cheios de esperas,
Driblando sal e sereno.
Até que as águas baixaram…
O rio voltou para a caixa
E a esperança do povo,
Sorriu abrindo suas asas.
Contraditando a verdade,
Desse momento tão mudo,
Pensei que eu não tinha nada
E acabo de perder tudo.
Mas entre escombros deixados
Por entre a lama estendida,
Não há silêncio de morte,
Que cale o canto da vida.
O mundo que conhecemos
Ficou pra sempre pra trás
Nos tijolos que se foram,
Pedras, pontes, meios fios.
Nos resta olhar pra frente…
Nos resta seguir em frente…
Enquanto braços cansados
Vão construindo outros rumos,
Sobrevivendo de esperas,
Resiliência e de fé…
A cada dia vencido,
A cada passo que é dado,
Afiando os sonhos da alma
Seguimos nós, fio a fio,
Reconstruindo a esperança,
Tomando cada vazio,
Porque existe um futuro,
Depois do beijo do Rio.