TRÊS MORTES EM DOIS DIAS
Pista simples, imprudência e fluxo intenso contribuem para mortes na BR-116
Das seis mortes no ano no trecho entre Novo Hamburgo e Dois Irmãos, quatro foram em maio
Última atualização: 26/03/2024 14:48
Das seis mortes registradas em acidentes no trecho da BR-116 entre o limite de Novo Hamburgo com Estância Velha até Dois Irmãos neste ano, quatro aconteceram em maio. As últimas três entre domingo (28) e segunda-feira (29). Quatro destas mortes foram a partir de colisões frontais. Os acidentes fatais reacendem a necessidade de melhorias estruturais neste ponto da rodovia federal, que é de pista simples.
"É vergonhoso. Esse ponto (onde ocorreu o acidente na segunda) deveria duplicar, no 'Sapatão' (churrascaria na Roselândia) deveria ter um viaduto. Eu subo e desço toda semana, várias vezes por dia. Todo dia tem acidente. É lamentável as pessoas terem que passar pelo que a gente passou."
A manifestação é do aeronauta Denis Carpes, 47 anos, sobrinho de Ricardo Martins da Silveira, 60 anos, que morreu na segunda-feira (29), quando a motocicleta que dirigia se chocou contra um caminhão betoneira.
Presidente da Associação dos Municípios do Vale Germânico (Amvag), o prefeito de Estância Velha Diego Francisco lembra o fluxo intenso da rodovia, principal ligação da Serra e Vale do Sinos com a capital. "Isso faz com que ela registre diariamente um intenso tráfego de veículos leves e, principalmente, pesados neste trecho, onde há um alto índice de acidentes com vítimas fatais", lamenta.
Chefe da 1ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio Grande do Sul, Daniel Mendonça analisa que normalmente os acidentes com colisão frontal têm um fator em comum: as ultrapassagens indevidas. "Ali (trecho onde aconteceram as mortes) afirmo até que não é velocidade excessiva, mas sim a ultrapassagem indevida, sem condições de ultrapassar (o problema)", afirma.
Mendonça destaca a que presença de indústrias e de bairros às margens da rodovia aumenta os riscos, já que há movimento de entrada e saída de veículos destes locais para a BR. "A gente pede para os motoristas não ultrapassarem sem ter plena segurança do que vão fazer, principalmente à noite. E mesmo onde é permitida a ultrapassagem, ter muito cuidado porque tem os acessos ali. Veículos que saem daquelas indústrias", lembra o policial rodoviário.
Mendonça conta que a PRF costuma intensificar as ações de fiscalização nestes trechos da BR-116 durante os finais de semana. Um dos motivos é por conta dos grupos de motociclistas que possuem veículos mais potentes e que sobem a Serra gaúcha. "As motos são potentes, muitas vezes não têm essa paciência de aguardar os veículos que transitam em velocidade normal e acabam ultrapassando."
No entanto, o controle no local também tem ocorrido durante a semana. "Mas infelizmente a gente não é onipresente, e quando não estamos, acaba acontecendo os acidentes", lamenta o chefe da 1ª DPRF.
Colaborou: Stefany Rocha
Sinalização
Quanto à sinalização nos trechos onde houve ocorrências recentemente, Mendonça explica que o quilômetro 234, onde aconteceu o acidente desta segunda-feira, é um trecho bem sinalizado e com faixa contínua, ou seja, apontando que é proibido ultrapassar. Mas no episódio em específico, o motociclista teria invadido a pista contrária ao desviar de um pedestre. Mendonça orienta que o pedestre procure por passarelas ou, em locais onde não há, tenha paciência.
Já o quilômetro 228, onde aconteceu o acidente fatal no domingo, está com uma sinalização temporária. Isso porque o Dnit está construindo um canteiro central no trecho, que deve ser concluído até 10 de junho.
"Parecia que pressenti"
Ricardo Martins da Silveira, 60 anos, o "Caco" como era carinhosamente chamado por conhecidos, morava no interior de Morro Reuter. Ele era psicólogo, mas trabalhava com a venda de produtos de lavanda. Ele levava um litro de óleo de lavanda a um cliente em Porto Alegre quando, segundo testemunhas, desviou de uma pedestre e colidiu contra um caminhão betoneira na tarde de segunda-feira, em Estância Velha.
Na terça-feira (30) pela manhã, seu sobrinho Denis e a namorada de Caco, a agente de saúde Inadia Strassburger Steffen, 51 anos, recolheram objetos pessoais dele, que ficaram no acostamento, próximo ao local do acidente. Tênis, capacete e até a mochila que rasgou com o impacto foram retirados pelos familiares.
Inadia conta que namorava Caco havia um ano e seis meses. Visivelmente emocionada, as lágrimas encheram seus olhos ao falar dele. “Era uma pessoa incrível, muito querido. Todos gostavam dele.”
Ela lembra que diariamente Caco mandava mensagem desejando um bom dia. Antes de ir a Porto Alegre, Inadia diz que ele também escreveu pelo Whats: “Estou indo levar o óleo para Porto Alegre”. Foi a última vez que os dois falaram.
Às 15h30 a agente de saúde enviou mensagem para o namorado, que não respondeu. “Como vi o acidente no ‘Face’... não sei, parecia que pressenti. Daí fazer o quê?”, questiona, emocionada.
Duplicação segue distante
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) reconhece que a demanda de tráfego de veículos é elevada e entende a importância da duplicação da rodovia entre Novo Hamburgo e Dois Irmãos. “Para isso, a autarquia informa que é necessária a contratação do projeto executivo, o que depende de planejamento a ser definido pelo governo federal para futura inclusão na Lei Orçamentária Anual (LOA)”, justifica.
O Dnit tem realizado melhorias no trecho, como a construção de quatro novos acessos em Dois Irmãos. “Um já foi entregue e, desde então, não houve nenhum registro de acidentes com lesão (no trecho do acesso). O outro, e talvez o mais perigoso, está sendo finalizado”, aponta o prefeito de Dois Irmãos, Jerri Meneghetti.
O Dnit cita ainda que o plano funcional prevê outras melhorias. “O que tenho feito em todas as nossas reuniões com o Dnit é pedir que os projetos de melhorias já elaborados para a BR-116 sejam executados o quanto antes”, afirma a prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt.
Atualmente, o Dnit executa obras relevantes no trecho de São Leopoldo. O departamento federal reforça que realiza ainda serviços rotineiros de sinalização, manutenção e limpeza da BR-116, entre Porto Alegre e Nova Petrópolis, bem como utiliza dados da PRF para auxiliar nas melhorias necessárias para a segurança no trânsito.
Das seis mortes registradas em acidentes no trecho da BR-116 entre o limite de Novo Hamburgo com Estância Velha até Dois Irmãos neste ano, quatro aconteceram em maio. As últimas três entre domingo (28) e segunda-feira (29). Quatro destas mortes foram a partir de colisões frontais. Os acidentes fatais reacendem a necessidade de melhorias estruturais neste ponto da rodovia federal, que é de pista simples.
"É vergonhoso. Esse ponto (onde ocorreu o acidente na segunda) deveria duplicar, no 'Sapatão' (churrascaria na Roselândia) deveria ter um viaduto. Eu subo e desço toda semana, várias vezes por dia. Todo dia tem acidente. É lamentável as pessoas terem que passar pelo que a gente passou."
A manifestação é do aeronauta Denis Carpes, 47 anos, sobrinho de Ricardo Martins da Silveira, 60 anos, que morreu na segunda-feira (29), quando a motocicleta que dirigia se chocou contra um caminhão betoneira.
Presidente da Associação dos Municípios do Vale Germânico (Amvag), o prefeito de Estância Velha Diego Francisco lembra o fluxo intenso da rodovia, principal ligação da Serra e Vale do Sinos com a capital. "Isso faz com que ela registre diariamente um intenso tráfego de veículos leves e, principalmente, pesados neste trecho, onde há um alto índice de acidentes com vítimas fatais", lamenta.
Chefe da 1ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio Grande do Sul, Daniel Mendonça analisa que normalmente os acidentes com colisão frontal têm um fator em comum: as ultrapassagens indevidas. "Ali (trecho onde aconteceram as mortes) afirmo até que não é velocidade excessiva, mas sim a ultrapassagem indevida, sem condições de ultrapassar (o problema)", afirma.
Mendonça destaca a que presença de indústrias e de bairros às margens da rodovia aumenta os riscos, já que há movimento de entrada e saída de veículos destes locais para a BR. "A gente pede para os motoristas não ultrapassarem sem ter plena segurança do que vão fazer, principalmente à noite. E mesmo onde é permitida a ultrapassagem, ter muito cuidado porque tem os acessos ali. Veículos que saem daquelas indústrias", lembra o policial rodoviário.
Mendonça conta que a PRF costuma intensificar as ações de fiscalização nestes trechos da BR-116 durante os finais de semana. Um dos motivos é por conta dos grupos de motociclistas que possuem veículos mais potentes e que sobem a Serra gaúcha. "As motos são potentes, muitas vezes não têm essa paciência de aguardar os veículos que transitam em velocidade normal e acabam ultrapassando."
No entanto, o controle no local também tem ocorrido durante a semana. "Mas infelizmente a gente não é onipresente, e quando não estamos, acaba acontecendo os acidentes", lamenta o chefe da 1ª DPRF.
Colaborou: Stefany Rocha
Sinalização
Quanto à sinalização nos trechos onde houve ocorrências recentemente, Mendonça explica que o quilômetro 234, onde aconteceu o acidente desta segunda-feira, é um trecho bem sinalizado e com faixa contínua, ou seja, apontando que é proibido ultrapassar. Mas no episódio em específico, o motociclista teria invadido a pista contrária ao desviar de um pedestre. Mendonça orienta que o pedestre procure por passarelas ou, em locais onde não há, tenha paciência.
Já o quilômetro 228, onde aconteceu o acidente fatal no domingo, está com uma sinalização temporária. Isso porque o Dnit está construindo um canteiro central no trecho, que deve ser concluído até 10 de junho.
"Parecia que pressenti"
Ricardo Martins da Silveira, 60 anos, o "Caco" como era carinhosamente chamado por conhecidos, morava no interior de Morro Reuter. Ele era psicólogo, mas trabalhava com a venda de produtos de lavanda. Ele levava um litro de óleo de lavanda a um cliente em Porto Alegre quando, segundo testemunhas, desviou de uma pedestre e colidiu contra um caminhão betoneira na tarde de segunda-feira, em Estância Velha.
Na terça-feira (30) pela manhã, seu sobrinho Denis e a namorada de Caco, a agente de saúde Inadia Strassburger Steffen, 51 anos, recolheram objetos pessoais dele, que ficaram no acostamento, próximo ao local do acidente. Tênis, capacete e até a mochila que rasgou com o impacto foram retirados pelos familiares.
Inadia conta que namorava Caco havia um ano e seis meses. Visivelmente emocionada, as lágrimas encheram seus olhos ao falar dele. “Era uma pessoa incrível, muito querido. Todos gostavam dele.”
Ela lembra que diariamente Caco mandava mensagem desejando um bom dia. Antes de ir a Porto Alegre, Inadia diz que ele também escreveu pelo Whats: “Estou indo levar o óleo para Porto Alegre”. Foi a última vez que os dois falaram.
Às 15h30 a agente de saúde enviou mensagem para o namorado, que não respondeu. “Como vi o acidente no ‘Face’... não sei, parecia que pressenti. Daí fazer o quê?”, questiona, emocionada.
Duplicação segue distante
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) reconhece que a demanda de tráfego de veículos é elevada e entende a importância da duplicação da rodovia entre Novo Hamburgo e Dois Irmãos. “Para isso, a autarquia informa que é necessária a contratação do projeto executivo, o que depende de planejamento a ser definido pelo governo federal para futura inclusão na Lei Orçamentária Anual (LOA)”, justifica.
O Dnit tem realizado melhorias no trecho, como a construção de quatro novos acessos em Dois Irmãos. “Um já foi entregue e, desde então, não houve nenhum registro de acidentes com lesão (no trecho do acesso). O outro, e talvez o mais perigoso, está sendo finalizado”, aponta o prefeito de Dois Irmãos, Jerri Meneghetti.
O Dnit cita ainda que o plano funcional prevê outras melhorias. “O que tenho feito em todas as nossas reuniões com o Dnit é pedir que os projetos de melhorias já elaborados para a BR-116 sejam executados o quanto antes”, afirma a prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt.
Atualmente, o Dnit executa obras relevantes no trecho de São Leopoldo. O departamento federal reforça que realiza ainda serviços rotineiros de sinalização, manutenção e limpeza da BR-116, entre Porto Alegre e Nova Petrópolis, bem como utiliza dados da PRF para auxiliar nas melhorias necessárias para a segurança no trânsito.