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MEIO AMBIENTE

PIRANHAS INVASORAS: Pescadores já relatam problemas com palometas no Rio dos Sinos

Chegada da espécie tem feito com que resultado da pesca caia de 20 para 3 quilos

ico ABCMais.com azul
Publicado em: 11/05/2023 às 03h:00
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Estão se multiplicando pela região os relatos de pescadores que estão tendo problemas com as palometas, variedade de piranha que chegou ao Rio dos Sinos como espécie invasora. Pescadores que antes tiravam até 20 kg de peixe por dia de pescado d’água hoje não conseguem mais que 3 kg. A culpa seria das palometas.

Evair mostra palometa tirada do rio que acabou empalhada



Evair mostra palometa tirada do rio que acabou empalhada

Foto: Paulo Pires/GES

Esta espécie de piranha veio do Rio Uruguai. As palometas avançaram pelo Jacuí em 2020 e chegaram a vários pontos do Rio dos Sinos. Prejudicam desde então a vida de muitos pescadores, como Evair Lopes, trabalhador da Prainha do Paquetá, Canoas, que até deixou de colocar linhas na água durante o dia.

“Eu só consigo pescar à noite, porque a gente encontra os peixes faltando pedaços nas redes quando coloca na água durante o dia”, relata. “Os bichos são brabos e devoram o que veem pela frente. Sobra quase nada.”

Ainda segundo o pescador, há também as palometas que ficam presas na rede e desse modo comprometem o material. Ele conta que o irmão, ao tentar tirar uma, viu parte do dedo ser rasgada pela piranha em poucos segundos.

“Se ele não conseguisse tirar, ela arrancava o dedo fora”, diz. “O bicho é desgranido e fica difícil até de tirar da rede”, explica. “Se continuar assim, a gente não vai mais conseguir pescar porque vai acabar o peixe em pouco tempo”, lamenta.

O também pescador no Paquetá, José Antônio Souza, 63 anos, diz que é necessário se contentar com os “mandinhos” (peixes menores), por serem mais rápidos que a maioria. “Pesco às vezes no Jacuí, Gravataí ou no Sinos e nos três eu encontrei palometas.”

Um risco para os desavisados

Aos 72 anos, João Luiz Nazário andava com vontade de voltar a pescar há algum tempo. Porém, o aposentado andava ocupado demais com as tarefas no pequeno sítio em que vive. Resolveu retomar a atividade na manhã desta terça-feira (9).


João Luiz Nazário saiu da água ao saber das palometas



João Luiz Nazário saiu da água ao saber das palometas

Foto: Paulo Pires/GES


Foram necessários somente caniço, linha, anzol e um punhado de minhocas para que Nazário se sentisse novamente como um pescador. O problema é que, desavisado, não conseguia entender como não tirava nada da água.

“Parece que desaprendi, porque nem mordem a isca”, desabafou o aposentado. Ao ser informado pela reportagem da infestação de palometas no Sinos, tratou de sair da água e recolher o material.

“Tinha que ter razão para eu não conseguir pescar mais nada.”

Problema não tem solução fácil, segundo secretário

Responsável pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em Canoas, Bernardo Caron aponta que o problema não tem solução fácil. O Município já está em contato com o Estado na tentativa de achar uma possível saída.

“A palometa é um predador natural oriundo do Uruguai e não há em nossa bacia hidrográfica um predador que seja capaz de afugentá-la”, explica. “Estamos monitorando a situação enquanto conversamos com autoridades do Estado para saber que medida pode ser tomada”.

Conforme o secretário, a solução precisa ser regional, tendo em vista que o problema atinge também as bacias do Jacuí e do Gravataí, e não apenas as águas banhadas pelo Rio dos Sinos.

“Por enquanto, não há como lutar contra a presença das palometas”, frisa. “Será necessário um estudo muito sério em cima do assunto porque não temos este tipo de predador em nossas águas e a própria natureza deveria fazer algo para manter o equilíbrio, mas não sabemos quanto tempo isso pode demorar.”

Ibama está mapeando as áreas consideradas de risco

A principal causa apontada por especialistas para a migração das palometas da bacia do Rio Uruguai para outras regiões é a drenagem em canais de irrigação de lavouras que retiram a água de uma bacia e desaguam em outra. A partir disso, não há barreiras naturais que impeçam a proliferação por rios e lagoas, com risco da espécie se aproximar até mesmo do Litoral Norte.

Na tentativa de controlar o avanço das piranhas, o Ibama elaborou um plano que, no longo prazo, prevê a recuperação das bacias hidrográficas, o que tornaria o ambiente mais equilibrado, dificultando o avanço das predadoras. O Ibama também já está mapeando as áreas mais afetadas e estudando a possibilidade de largar pintados em abundância nas bacias, como já aconteceu na Amazônia e Pantanal. O pintado é predador para a palometa.

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