A saúde pública do Estado, especialmente da região metropolitana, está vivendo dias intensos desde as últimas semanas. As unidades de atendimento registram superlotação e demora no atendimento médico – resultado do avanço da dengue, que segue adoecendo a população em todo o Rio Grande do Sul.
A previsão, segundo autoridades de saúde, é que a doença atinja o pico de casos em abril, e em maio o surto ainda deve permanecer na região.
Projeção da dengue
Segundo o virologista da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica de Vírus, Fernando Spilki, o surto era muito evidente e estava em elevação no Vale do Sinos até um tempo atrás. Mas, Porto Alegre, por exemplo, não estava acompanhando isso.
“Agora, temos uma dinâmica de explosão de casos em Porto Alegre que se soma a situação bastante intensa aqui na região”, analisa. “Com a região metropolitana toda dando motor, muita gente infectada, e o mosquito ainda presente, a gente pode imaginar que teremos um abril com números bastante altos. Seguindo esse histórico, esse surto deve continuar até meados de maio.”
Ele observa que o Estado chegou na casa dos 40 mil casos agora e ainda está longe da soma de casos que o Rio Grande do Sul registrou em 2022, quando teve recorde de infectados e a soma chegou a 60 mil
casos.
“Se estamos com mais de 40 mil casos agora e uma elevação muito mais violenta do que nos anos anteriores, a tendência é que ainda tenhamos um número de casos muito importantes durante abril, adentrando maio. Talvez o pico de abril esteja muito acima da expectativa que tínhamos no início.”
Superlotação
Até a tarde desta quinta-feira (4), o Estado havia contabilizado mais de 44 mil casos da doença e 51 vítimas fatais. Novo Hamburgo e São Leopoldo já registraram 6 óbitos e são as cidades com o maior número de mortes por dengue. Os municípios também somam mais de 5 mil casos e mais de 3,8 mil, respectivamente. Canoas, segundo o Painel de Casos de Dengue, contabilizou 614 casos da doença e 2 óbitos.
A superlotação das unidades de saúde já vem sendo registrada desde a semana passada pelo Grupo Sinos. Em Novo Hamburgo, por exemplo, o tempo médio de espera para atendimento é de 5 a 6 horas. No Hospital Municipal, há 5 pessoas internadas por conta da doença.
Já em Campo Bom, o prefeito da cidade, Luciano Orsi e a secretária de Saúde do município, Suzana Ambros Pereira, reforçaram, em live feita na quarta-feira (3), os alertas para a prevenção à doença e informaram a alta demanda que a cidade vive.
O mesmo ocorre com São Leopoldo, que, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, teve um aumento expressivo na demanda da rede pública em março, principalmente nos espaços que atendem 24 horas. No município, a procura por atendimentos nas unidades 24 horas aumentou quase 80% na comparação de janeiro e março. Porto Alegre também está com superlotação em emergências, restrições de atendimento e UPAs lotadas.
Segundo as autoridades de saúde, a alta demanda se dá pelo aumento de casos de dengue na região e outras doenças respiratórias. Com a projeção do pico da dengue ser para abril, há uma preocupação dos municípios em conseguir atender toda população.
Trabalho intenso nos bairros
Em Canoas, o cenário é de aumento dos casos de dengue, na última semana, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram 214 novos diagnósticos confirmando a doença. Neste ano, já são 1898 casos prováveis, sendo 1889 autóctones, contraídos em Canoas, e 9 importados, contraídos fora da cidade.
De acordo com o titular da SMS, Mauro Sparta, Canoas e Porto Alegre estão sendo impactadas pela crise na saúde que atinge outros municípios da região metropolitana. “Estamos vivendo uma epidemia de dengue, e isso acaba refletindo nos serviços de saúde em todas as cidades da região. Nesse momento estamos trabalhando de forma intensa nos bairros com mais casos.”
Os bairros com mais casos da doença são Estância Velha (762), Guajuviras (366) e Nossa Senhora das Graças (143). Os dados têm sido atualizados semanalmente, e o último boletim epidemiológico foi divulgado na tarde de quarta-feira (3).
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Preocupação em São Leopoldo
Em São Leopoldo, a prefeitura tem mostrado preocupação com o expressivo aumento no número de atendimentos na rede pública de saúde, sobretudo pelos casos de dengue. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semsad), nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município mais de 21% dos atendidos na última semana apresentavam sintomas de dengue.
Nas estruturas que atendem 24 horas, a demanda também cresceu muito nos últimos meses. Juntos, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte, Centro de Saúde Feitoria e Hospital Centenário somaram 18,1 mil atendimentos em janeiro deste ano, número que saltou para 32,2 mil em março, aumento de 78%.
Farmácia Móvel com base fixa
Com a disparada no número de atendimentos na UPA Zona Norte, em São Leopoldo, passando de 9,3 mil atendimentos em janeiro para 14,1 em março, uma das medidas adotadas foi disponibilizar um dos veículos da Farmácia Móvel como base fixa em frente ao local, de segunda a sexta-feira, pela manhã e à tarde – antes o veículo atendia na UPA somente às tardes.
Nele, pacientes que forem atendidos na UPA podem retirar gratuitamente os remédios, apresentando a receita médica. A farmacêutica Renata da Conceição Costa e a auxiliar Gisa Abreu já até deixam sobre o balcão uma caixa com medicamentos para tratar a doença. O “kit dengue” contém remédios para dor, febre, náusea e soro caseiro.
Novas ações começam na segunda-feira na Vila Brás
Nesta semana, o prefeito Ary Vanazzi e secretários de governo se reuniram para determinar novas ações contra a dengue a partir da semana que vem. Na segunda-feira (8), um carro de som será enviado à Vila Brás para comunicar aos moradores sobre as visitas que ocorrerão no dia seguinte. Enquanto isso, deve haver outra reunião para ajustes sobre mutirão na terça-feira (9), além de oficina de instrução aos servidores sobre a abordagem correta à população.
Na terça, equipes irão à Vila Brás, para distribuição de panfletos informativos sobre a doença, cuidados e prevenção, e farão cadastramento e mapeamento das casas averiguadas. Um caminhão para o descarte de objetos e recipientes que podem ser foco do Aedes aegypti acompanhará as equipes.
Situação das unidades de saúde na região
Novo Hamburgo
Unidades de saúde estão lotadas. A Secretaria Municipal de Saúde observa que os atendimentos de consultas médicas aumentaram em 80%, ao comparar com outros anos no mesmo período. Desse número, 40% são casos de dengue.
Conforme o presidente da Fundação de Saúde de Novo Hamburgo, o médico Augusto Rafael Lengler Vargas, a demora no atendimento ocorre por conta dos exames laboratoriais para identificar a doença. Até esta quinta (4), 5 pacientes permaneciam internados no Hospital Municipal.
No Hospital Regina, segundo a assessoria de imprensa, há um volume bem alto de atendimento nas Emergências, a maioria de adultos, com queixas relacionadas a infecções respiratórias ou queixas/sinais relacionados à dengue. “Estamos atendendo sem restrições, mas com capacidade acima do normal, então o tempo de espera tem sido bem maior, acima do previsto.”
Campo Bom
Em janeiro, a cidade teve 11 pessoas com dengue, o número passou para 89 em fevereiro e saltou para 770 positivos em março. Durante o período, foram 2,1 mil suspeitos que passaram por testes, dos quais 43,82% tiveram confirmação da doença. O atendimento nas unidades de saúde tem sido mais demorado devido à alta demanda. “É uma doença que demanda acompanhamento médico e por isso se tem essa superlotação. Além disso, tem o afastamento do trabalho, após quatro dias, a pessoa precisa ser reavaliada e por isso não conseguimos atender em um tempo menor”, explica a secretária.
Dois Irmãos
Segundo o secretário de Saúde, Ismael Nervo, há procura significativa nas unidades de saúde, tanto na Urgência e Emergência 24h, por pessoas com sintomas que sugerem a possibilidade de dengue. “Até o momento, não temos registros de casos internados devido à dengue no Hospital São José.”
Estância Velha
Segundo a Prefeitura de Estância Velha, o Hospital Municipal Getúlio Vargas teve cerca de mil atendimentos a mais, em comparação com março do ano passado.
Sapiranga
As unidades de saúde e a UPA estão com demanda expressiva em razão da dengue. Segundo a assessoria de imprensa, foi ampliado o número de médicos nas unidades de saúde.
(*) Colaboraram: Priscila Carvalho e Daniele Brito.