O aparecimento de dezenas de peixes mortos no Rio dos Sinos está intrigando os moradores de Campo Bom. Os primeiros registros foram feitos já na quarta-feira (15) nas margens da Rua Monteiro Lobato. Nesta sexta-feira (17) era possível encontrar dezenas de peixes mortos concentrados em restos de galhos, tocos e muita sujeira, como plásticos e embalagens.
O aposentado Celso Renato Gomes, 68, diariamente pesca no Sinos e relata ter se assustado com o número de peixes mortos encontrados no trecho onde ele costuma pescar. “Tinha até um dourado de uns oito quilos”, relata. Desde que os primeiros peixes mortos apareceram no rio, Gomes suspendeu a pesca diária. “Não volto até saber o que aconteceu, porque não vou arriscar passar mal ainda ir pro hospital.”
Segundo ele, funcionários da Secretaria do Meio Ambiente do município foram acionados e visitaram o local na quinta-feira (16), mas teriam alegado que as mortes são motivadas pela baixa do nível do rio. “Eu ainda não estou achando normal essa água tão verde”, diz, desconfiado, Gomes.
Oleosidade
Morador da região, Dionatan Ribeiro da Luz, 28 anos, vive no bairro Porto Blos, às margens do rio, desde a infância e também pesca diariamente no Sinos. O que chama atenção dele é a oleosidade das águas. “Pode ver que se encostar na água ela parece que tem um óleo”, diz ele, dentro de seu barco a remo em uma volta pelo rio.
Luz reclama da falta de cuidado da população com as águas do Sinos. “O pescador cuida do rio, o problema é a poluição.” Ao percorrer pelo rio, além dos peixes mortos que se acumulam em alguns trechos, também é possível encontrar muitas garrafas pet, garrafas de vidro, juntamente com restos de isopor e até mesmo embalagens de inseticidas.
Luz também suspendeu a pescaria desde que os animais começaram a aparecer mortos. Quem anda pelo local já sente o forte cheiro dos animais mortos. “Tudo quem estragou foi o homem”, lamenta o jovem ao falar sobre o estado do Sinos.
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Prefeitura não descarta lançamento irregular de resíduos
O secretário do Meio Ambiente de Campo Bom, João Flávio da Rosa, disse que a hipótese de que a morte dos peixes tenha sido provocada por lançamento irregular de materiais nos cursos hídricos não é descartada. Contudo, por nota, o gestor da pasta ressaltou que “o entendimento é de que isso se dê muito em função da combinação de alguns fatores”.
Entre estes, além dos possíveis lançamentos irregulares, ele também aponta a seca prolongada e, por consequência, a baixa vazão do Rio do Sinos, e a chuva que ocorreu na última terça-feira (14), que “acabou levando uma carga orgânica muito grande acumulada nas margens dos arroios”.
Rosa também destacou que a secretaria está monitorando a situação desde quarta-feira e, desde então, realiza medições recorrentes do oxigênio da água.
No Estado, a Secretária do Meio Ambiente (Sema) a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não foi informada sobre mortandade de peixes no Sinos.
Esgoto urbano pode ser causa da mortandade, diz Pró-Sinos
Em nota, o Consórcio Pró-Sinos disse que a causa mais provável, segundo a avaliação preliminar, é o esgoto urbano. De acordo com eles, “em época de pouca chuva os esgotos urbanos ficam retidos nas tubulações das cidades e quando ocorre uma grande quantidade de chuva num curto espaço de tempo, como foi o caso da terça-feira (14/2), esse esgoto retido é levado para os arroios e dali para o rio”.
Assim, a associação explica que devido à estiagem “essa quantidade de matéria orgânica se dilui com dificuldade e gera um consumo maior e desproporcional de oxigênio que fica indisponibilizado para os peixes, que morrem por falta dele”.
O Pró-Sinos afirma que, ainda nesta sexta-feira, busca uma forma de analisar a situação do oxigênio da água nos arroios Schmidt e Sapiranga, que são os principais da região, o que poderá apontar as causas.
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