Trabalho autobiográfico criado a partir do diagnóstico positivo de HIV, o espetáculo ‘Sobrevida’ terá sua história encenada em onze cidades do Rio Grande do Sul, levando arte e conscientização aos municípios gaúchos onde mais ocorrem casos do vírus. Combinando apresentações com bate-papos entre público, elenco e agentes de saúde de cada local no final da peça, o projeto inicia sua nova temporada neste dia 11 de março, sábado, às 20 horas, com apresentação no Teatro Municipal de São Leopoldo.
Com direção e dramaturgia do artista e jornalista Jaques Machado, a peça retrata a vida de um ator que, ao revelar seu diagnóstico positivo para HIV, conduz a plateia por um passeio através de suas memórias e medos. Nesse trajeto, revive o conflito de compartilhar sua situação de risco com amigos, família e paixões.
A montagem tem no elenco Lincoln Camargo e Xandre Martinelli. O espetáculo ainda conta com a atriz e bailarina Angela Spiazzi, responsável pela direção de movimento e corpo do espetáculo; com Ricardo Vivian na iluminação cênica; e com Rodrigo Shalako na cenografia.
Depois de São Leopoldo, a encenação passa pela capital no dia 29 de março, no Teatro Renascença, além de estrear em Alvorada, Gravataí, Viamão, Canoas, Novo Hamburgo, Rio Grande, Pelotas, Santa Maria e Bagé em datas ainda a serem confirmadas. O Teatro Municipal de São Leopoldo fica na Rua Osvaldo Aranha, 934, no Centro. Ingressos gratuitos mediante retirada antecipada pela plataforma Sympla.
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Entrevista: Jaques Machado (diretor e dramaturgo)
Como surgiu a ideia do espetáculo ‘Sobrevida’?
Jaques Machado – Desde quando recebi meu diagnóstico para HIV (há 11 anos) sempre tive vontade de ajudar outras pessoas a passarem por esse momento de forma menos traumatizante. Quando soube, eu já tinha muita informação sobre e foi menos difícil pra mim. Anos atrás, soube que um conhecido, que não sabia sobre mim, descobriu ser soropositivo e escolheu não tomar a medicação e morreu. Com isso pensei que eu tinha que retomar a ideia de ajudar as pessoas a perceberem que se pode viver com o vírus hoje.
Quando conseguimos ter informações, eliminar o preconceito e o estigma, a gente salva a vida de algumas pessoas. Com isso, na pandemia, resolvi escrever uma peça de teatro contando essa jornada de descobertas e de sensações de morte e renascimento para cada pessoa que eu contava sobre mim.
O que motivou contar essa história?
Jaques Machado – Eu acredito que falando abertamente sobre a minha história eu possa estar ajudando no combate ao preconceito e levando informação através da arte para que as pessoas se testem, se cuidem, se previnam. As pessoas precisam compreender que quem vive com HIV e segue o tratamento como deve ser, fica com a carga indetectável. Ou seja: não transmite o vírus. Ou seja: a motivação foi levar informação no combate ao preconceito e em favor da vida.
Quais os desafios para a construção da montagem?
Jaques Machado – Como passamos em uma residência artística em São Paulo e estreamos o espetáculo lá, o primeiro desafio foi levantar toda estrutura com o valor que tínhamos disponível. Foram quatro idas e vindas da equipe e estadias de uma semana por lá. Mas foi um processo lindo de conhecimento entre a equipe e de construção de um trabalho lindo. Depois disso, o desafio foi levar o público ao teatro. Às vezes a temática parece pesada, triste e as pessoas estão preferindo buscar comédias e espetáculos leves para dar risada na vida.
Porém, o nosso espetáculo não é algo triste, mas é emocional e quando a gente libera a nossa emoção, a alegria e a tristeza tem caminho aberto. Tentamos conduzir o público nesse embalo e nessa alternância de sentimentos. Além disso, fazer teatro sempre foi e continuará sendo um desafio. Só conseguimos fazer a nossa circulação agora graças aos recursos do PRÓ-CULTURA RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Como foi o processo de definição do elenco?
Jaques Machado – O espetáculo foi escrito para ser um monólogo, mas depois que o Lincoln e o Xandre fizeram uma leitura juntos, percebi que o texto era perfeito para os dois. Com isso eu reescrevi e coloquei no roteiro as divisões de textos que surgiram de forma orgânica em uma leitura dramática. O Xandre conheci em Brasília ainda, já no primeiro espetáculo que assisti com ele. Achei o trabalho dele maravilho na prática e como intelectual, professor, pesquisador e bailarino que ele é.
Trabalhamos junto já em Porto Alegre em um Laboratório de Montagem Cênica exclusivo para travestis e transexuais que ganhou um prêmio Açorianos de melhor ação formativa. O Lincoln trabalho com ele desde 2018 em outro espetáculo, desde então nos encontramos profissionalmente e na amizade. Agora formamos um trio que sempre que pode trabalha junto e cria junto.
Algum novo projeto no horizonte?
Jaques Machado – Estamos com várias ideias na cabeça, mas ainda não começamos efetivamente a trabalhar no projeto novo. A circulação pelo RS com o Sobrevida vai nos tomar muito tempo. E eu faço produção de outros espetáculo e os meninos dão aula e tem seus projetos também. Mas a rotina maluca não vai nos privar de fazermos mais um lindo trabalho em breve!
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