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Passagem gratuita estimula uso do transporte coletivo em Parobé
Iniciativa da prefeitura completa um ano com bons resultados. Número de passageiros saltou de 250 para mil diariamente
Última atualização: 06/03/2024 11:06
Não há cobrador ou cartão de transporte nos ônibus de Parobé. A forma de embarque e desembarque segue a mesma, mas as catracas estão livres, servindo apenas para contabilizar a quantidade de passageiros. Há um ano o município do Vale do Paranhana adotou a tarifa zero no transporte coletivo e os usuários não precisam mais pagar passagem. Desde então, o número de usuários quadruplicou. "Foi a melhor coisa que fizeram", afirma a dona de casa Solange Machado da Silva, 54 anos.
Por lá, quem paga a tarifa é a prefeitura. São desembolsados entre R$ 90 mil e R$ 110 mil mensais no sistema, operado por uma empresa terceirizada que dispõe de 30 linhas, entre urbanas e rurais da cidade. Para dar conta da demanda, a frota conta com três ônibus, todos equipados com ar-condicionado e acessibilidade.
A mudança ocorreu em meio a divergências com as empresas privadas que prestavam o serviço e organizavam por conta própria a gestão das linhas. De acordo com o prefeito de Parobé, Diego Picucha, as reclamações eram corriqueiras.Visando regulamentar o sistema, a Prefeitura implantou o novo modelo, que vingou e chama a atenção de outras cidades que cogitam implementar a ideia. "Várias cidades têm nos procurado para conhecer o programa, saber em detalhes como foi implantado, benefícios gerados e funcionamento", revela o prefeito.
"Isso é muito gratificante, saber que fomos pioneiros neste projeto moderno, inovador e que oferece tantos benefícios para a cidade", comemora Picucha. O prefeito salienta que agora o Executivo paga por quilômetro rodado.
Círculo virtuoso
No balaço de um ano das operações, algumas vantagens são apontadas pelo Executivo, como a atração de novas empresas para a cidade que impactaram no fomento ao comércio e à economia local. Segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério do Trabalho e Previdência, através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em fevereiro de 2023 Parobé alcançou a 11ª posição entre todas as 497 cidades do Rio Grande do Sul com o maior saldo positivo na criação de empregos formais.
"O valor destinado ao transporte era um encargo a mais para as empresas e um gasto para o trabalhador. Com o Tarifa Zero, esse déficit foi sanado pela administração municipal. É dinheiro a mais no bolso do trabalhador", argumenta o prefeito.
Mais de mil passageiros por dia
A mudança também impactou na mobilidade urbana, com a diminuição no tráfego de veículos, servindo como forma de desestimular o uso do automóvel em meio ao avanço das mudanças climáticas. Além, claro, de aliviar o bolso do passageiro.
O número de usuários quadruplicou nos últimos doze meses, desde que o Executivo zerou o valor da tarifa. Antes da gratuidade - quando a passagem custava R$ 4,50 -, o sistema transportava cerca de 250 usuários por dia. Com a mudança, esse número saltou para mil passageiros, o que levou a alterações e ampliações nas linhas de ônibus que passaram de 19 para as atuais 30.
Quem gostou da ampliação das rotas foi a revisora de calçados Silvana Aparecida de Barros, 35. Agora uma das linhas passa em frente à casa dela, na Rua Protásio da Silva, bairro Morro da Canoa. "Antes a preferência era pelo táxi ou o transporte por aplicativo, mas agora, com o ônibus na porta de casa e de graça, não tem motivo para não usar", afirma.
Exemplos semelhantes no Brasil e na Europa
Picucha conta que, antes de implementar o programa Tarifa Zero, estudou exemplos europeus, como Luxemburgo – país que adota a gratuidade em todo seu sistema de transporte, incluindo ônibus, trens e metrôs –, e brasileiros, como de Vargem Grande Paulista, no interior de São Paulo.
“Estava incomodado com o sistema de transporte na cidade e as reclamações que recebíamos. Queríamos um sistema prático, eficiente e que atendesse nossa população com excelência”, cita.
Assim, a Prefeitura chegou a um modelo em que a gratuidade é financiada através de recursos próprios da administração municipal, cuja principal receita sai do caixa da Prefeitura.
“Era um dinheiro que tínhamos, apenas decidimos investir em uma questão que é muito maior do que a própria mobilidade. Existe a questão social, a de geração de recursos, porque na hora que implantamos a Tarifa Zero, aumentamos o gasto no comércio, a arrecadação de ICMS, de ISS”, relata.
Investimentos em veículos e tecnologia
Atualmente, o serviço de transporte é prestado por contrato emergencial. Mas tramita licitação que prevê a substituição dos veículos, que hoje têm em média 10 anos de atividade. O processo está em fase final. A estimativa é que em 60 dias os veículos novos, com até três anos de circulação, estejam operando.
No mesmo prazo, os usuários devem contar com um aplicativo para monitoramento dos ônibus. Com ele, os passageiros poderão ver os horários e acompanhar os trajetos de cada linha. O app será gratuito e compatível com os sistemas Android e iOS.