LEMBRANÇAS

Padre que viveu no Japão conta histórias do período de devastação no país asiático

Centenário ainda morou na Alemanha e EUA após a Segunda Guerra

Publicado em: 19/04/2024 15:11
Última atualização: 19/04/2024 17:03

Em sua cadeira de rodas, com olhar simples e gentil, reside no Instituto São José, em São Leopoldo, um senhor de 101 anos.

Padre Lino Stahl
Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Mas a idade e as aparências enganam os olhos mais atentos. Quando começa a falar, padre Lino Stahl, da Congregação Jesuíta, consegue lembrar de detalhes sobre a Segunda Guerra Mundial, que ele presenciou de perto.

Além de ter uma memória excepcional e uma simpatia natural, Lino é poliglota. Sabe falar japonês, alemão, espanhol, inglês e português.

Mesmo sem praticar por muito tempo, ele aceita o desafio de falar uma frase em cada um destes idiomas. Ele foi enviado como missionário para o Japão após a explosão da bomba atômica, em 1945, e lembra em detalhes sobre o país devastado.

Pós-guerra 

No período do pós-guerra, ele viveu na Alemanha, Japão e Estados Unidos — alguns dos principais países envolvidos nos conflitos.

Lino é um exemplo de que não existe limite de idade para realizar sonhos. Aos 101 anos, o padre lançou um livro sobre sua vida, o qual escreveu gradualmente, no instituto onde vive, sendo lançado no seu aniversário de 100 anos, no dia 1º de abril de 2023, com o título Em tudo amar e servir.

Nascido em 1923 na Linha Imperial, em Nova Petrópolis, Lino Stahl viu sua família crescer em meio a desafios, migrando para Santa Catarina em busca de novas oportunidades.

"Meu pai atendeu a propaganda e foi para Santa Catarina", recorda. Naquela época, a vida nos campos do Sul do Brasil era marcada pela simplicidade e pela luta diária pela subsistência. Lino, o filho mais novo entre nove irmãos, cresceu entre os rigores do trabalho árduo e os laços de uma família unida.

Mas foi em meio à juventude que surgiu o chamado para o serviço religioso. "Deus chamou", afirma ele, desvelando os primeiros passos em direção à vocação sacerdotal. Em um momento crucial de sua formação, um irmão marista visitou sua escola, compartilhando histórias sobre a vida religiosa e despertando uma curiosidade que se transformaria em compromisso.

"Ele explicou que também eram crianças como nós, que um dia foram chamados pela vontade de Deus", recorda. Foi ali, entre as paredes da escola primária, que a semente da vocação foi plantada em seu coração jovem e receptivo.

Uma jornada pelo mundo 

Sua trajetória como missionário o levou por diversos países, desde o Japão devastado pela guerra até os Estados Unidos do pós-conflito. Recordando os primeiros dias no Japão, Lino revela: "Fui ao Japão, mesmo sem saber uma palavra de japonês". No entanto, sua determinação e espírito de serviço transcendiam barreiras. Lá, trabalhou na educação e no ensino de línguas, capacitando jovens e adultos a se comunicarem em um mundo em reconstrução.

Chegando em solo japonês após a devastação da Segunda Guerra Mundial, deparou-se com um país em ruínas, onde as marcas do conflito eram visíveis em cada esquina. O povo japonês, abalado por anos de conflito e privações, ansiava por reconstrução e esperança.

No entanto, em meio à desolação, Lino testemunhou histórias de resiliência e coragem que o marcariam para sempre. "Muitos se tornaram católicos, e alguns até padres."

Mas suas experiências no Japão não se limitaram ao campo espiritual. Como educador, Lino viu de perto o renascimento do sistema educacional japonês, trabalhando arduamente para reconstruir escolas e oferecer oportunidades de aprendizado a uma geração que emergia das sombras da guerra, e até hoje lembra de seus alunos.

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