O padre Paulo Müller, que morreu aos 87 anos na madrugada deste domingo (31) em Novo Hamburgo, entra para a história do catolicismo pelo conjunto inédito de celebrações à frente de uma família unida pela fé. Ele foi enterrado às 16 horas no cemitério da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, no bairro Hamburgo Velho. Deixa quatro filhos, cinco netos e três bisnetos.
Foto: Laura Rolim/ GES-Especial
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“Meu pai era minha luz, meu guia, meu herói. Era um anjo, agora chamado de volta por Deus. Cumpriu sua missão e Deus livrou ele do sofrimento”, declara o diácono Adriano Müller, 63, que estava ao lado do Padre Paulo no momento da morte, às 2h50.
Adriano foi ordenado diácono no mês passado, na Catedral São Luiz Gonzaga, com o pai no altar. “A saúde dele, que já estava fragilizada, piorou muito depois da minha ordenação. Ele queria fazer parte, e para mim não tem palavras. Foi uma glória.” Adriano foi o responsável pelo cerimonial de encomendação do corpo durante o velório. “Representei o clero e minha família.”
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A emoção do padre pai
Ao dividir o altar com o filho recém ordenado diácono, na noite de 15 de novembro, Padre Paulo falou emocionado à reportagem. “Quando eu fiquei viúvo, procurei a Igreja para me completar. Valeu por tudo. Ele se tornar diácono me deixou feliz. Ele já tinha o dom. É uma felicidade muito grande. E os outros filhos também me deixam feliz, pois também frequentam a Igreja.”
Não era o primeiro ato religioso inédito protagonizado pelo sacerdote. Em 14 de maio de 2022, ele casou o neto, o engenheiro químico nderson Martins Müller, 31, com a médica Rafaela Pilla Muccillo Müller, 30, na Paróquia do Santíssimo Sacramento, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Padre Paulo já tinha conduzido a missa de matrimônio do filho Daniel e o batizado dos três bisnetos, além da cerimônia dos 25 anos de casamento do filho Jackson.
Autorização especial do papa João Paulo II
Paulo Müller ficou viúvo em 1988. Com a perda da esposa, Lizzete Judite Müller, o então padeiro manifestou a vontade de se tornar padre. Já era diácono. Ele contou à reportagem, há dois anos, o início do processo. “Pedi para Dom Boaventura (Kloppenburb), o bispo na época, se era possível ficar padre.
Ele respondeu: ‘Eu vou a Roma semana que vem e daqui a 14 dias estou de volta’. D. Boaventura falou com o papa João Paulo II, explicou a situação e trouxe a notícia que eu estava aprovado. Fui completar os estudos de diácono para sacerdote. Fiquei dois anos e meio estudando e dia 2 de junho de 1995 fui ordenado.”
“Teve uma trajetória singular”
“O conheci no ano passado, quando vim para Novo Hamburgo. Já era um homem idoso, com a saúde fragilizada, mas alegre, simpático, sempre aberto a receber as pessoas. Teve uma trajetória muito singular”, declara o bispo da Diocese de Novo Hamburgo, João Francisco Salm.
O bispo autorizou a antecipação da ordenação de Adriano como diácono, inicialmente programada para 2024, a fim de que o pai sacerdote pudesse participar. “Foi uma atenção a ele, ao filho e aos familiares, para a gente não ter o sentimento de lamentar depois. Tanto é que os colegas do Adriano só serão ordenados no próximo ano.”
Os últimos anos do sacerdote foram na catedral de Novo Hamburgo. “Os padres envelhecem e ficam na catedral. Era uma coisa muito bonita como os filhos, os familiares, acompanhavam o Padre Paulo, sempre muito próximos, atenciosos e agradecidos pelo que a Diocese vinha fazendo por ele.”
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