SAÚDE PÚBLICA
Pacientes oncológicos de Novo Hamburgo relatam dificuldades no transporte para atendimento em Taquara
Faz quase um ano que serviço pelo SUS passou para a cidade do Vale do Paranhana; usuários reclamam de burocracia e Prefeitura diz que fiscaliza o transporte
Última atualização: 25/01/2024 17:01
Em abril do ano passado os pacientes oncológicos de Novo Hamburgo começaram a ser atendidos no Hospital Bom Jesus, em Taquara. A mudança aconteceu devido ao descredenciamento, junto ao SUS, do serviço de oncologia do Hospital Regina.
Com quase um ano desse vaivém de 80 quilômetros (ida e volta), usuários do serviço reclamam da burocracia que envolve o transporte para o Vale do Paranhana. A Prefeitura hamburguense diz que fiscaliza a prestação do serviço contratado por meio de licitação e que horários e rotas "são cumpridos rigorosamente". O objetivo é que o atendimento volte a ser prestado em Novo Hamburgo após a ampliação do Hospital Municipal, mas não há prazo para conclusão da obra.
Roberto Elias da Silva, de 73 anos, descobriu um câncer de próstata em setembro de 2022. “Dei sorte porque estava no início”, lembra ele, que teve a cirurgia para retirada do tumor marcada para 20 de janeiro. “Não me assustei porque doença todo mundo tem. É só tratar”, disse o aposentado. Mas a serenidade dele contrasta com os contratempos para conseguir se fazer presente nas consultas.
Morador da região central de Novo Hamburgo, Roberto vive em uma casa com a esposa Jaqueline de Fátima Garcia da Silva, 55 anos. Com a aposentadoria de Roberto e o salário de Jaqueline, os dois alcançam uma renda mensal de dois salários mínimos. Até descobrir a doença, Silva fazia bicos para complementar o orçamento, o que agora não consegue mais.
Sem carro próprio e com a renda limitada, ele precisa contar com o transporte gratuito oferecido pela Prefeitura hamburguense. Mas a tarefa não tem sido fácil. “A gente liga e fica horas no telefone, um passa para o outro e fica a musiquinha. Tu perde uma manhã”, lembra Jaqueline. Ela mostra o registro de três longas ligações em um só dia.
A dificuldade para agendar o transporte se acentua com a limitação de horário, uma vez que não há expediente na manhã de segunda-feira e nem na tarde de sexta. “Liguei uma segunda de manhã e ninguém atendeu. Eu não sabia que eles não funcionavam nesse horário. À tarde eu trabalho em Sapiranga”, lembra Jaqueline.
No site da Prefeitura há uma aba com o nome “Agendamento Online”, mas que não contempla a marcação de viagens para Taquara. Este serviço só pode ser agendado por telefone. O número do setor de transportes da Secretaria Municipal de Saúde é o (51) 3097-9445.
Mais fácil conseguir a consulta do que o transporte
Após a cirurgia para retirada do tumor, em 20 de janeiro, Roberto Elias da Silva precisou de uma consulta e conseguiu um "encaixe" no hospital de Taquara para 9 de fevereiro. Começava aí a busca pelo transporte. Segundo a esposa de Silva, a orientação é que os usuários tentem marcar a viagem com um mês de antecedência.
“Ele fez a cirurgia dia 20 e não tinha data prevista para a consulta, até que a atendente ligou avisando que conseguiria encaixar no dia 9. Então na segunda, dia 30, liguei para a Prefeitura mas o setor não funciona pela manhã", recorda. Em uma nova tentativa a família ouviu uma pergunta inusitada. "Ela (a atendente) pediu para ligar para Taquara e tentar adiar a consulta", relata Silva.
Segundo o paciente, foram várias tentativas antes de buscar ajuda de um vereador da cidade. Foi somente depois disso que o transporte foi confirmado para o dia 9. "É desumano ter que depender da ajuda de vereadores para isso", comenta Jaqueline, lembrando que no dia da cirurgia, devido aos horários do transporte e de quem acompanharia Silva, a família optou por gastar 400 reais em transporte particular.
Caso de Silva não é isolado
Moradora do bairro Santo Afonso, a aposentada Maria Rozinha Thomaz, 69 anos, começou o tratamento contra o câncer na bexiga em outubro de 2021, ainda no Hospital Regina. Desde a mudança para Taquara, há quase um ano, ela tem enfrentado dificuldades.
Sua maior reclamação é em relação ao transporte. "Não precisava pegar condução nenhuma. Pegava meu ônibus normal e ia para lá", recorda ao falar do atendimento no Regina. Em uma das tentativas de marcar transporte, por pouco não foi mandada para o lugar errado. "Liguei para confirmar dia e horário e estava na lista para Porto Alegre, sendo que nunca me tratei lá."
Queixas também sobre alimentação
Tanto Maria Rozinha Thomaz quanto Roberto Elias da Silva comentam que a mudança do atendimento de Novo Hamburgo para Taquara criou também um problema de alimentação para quem não tem dinheiro sobrando. Segundo eles, próximo ao hospital existe apenas uma barraca de lanches e um simples pastel chega a custar entre 7 e 8 reais, o que é muito para quem recebe o mínimo. Também não há local para aquecer uma refeição levada de casa, o que obriga muita gente a consumir lanches leves e poucos nutritivos.
Em resposta por escrito a questionamentos enviados pela reportagem, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Novo Hamburgo informou que "o município precisa garantir o tratamento do paciente oncológico e o transporte, assim como para o acompanhante. Questões de estrutura do Hospital de Taquara podem ser tratadas diretamente com a instituição".
São três viagens por dia para Taquara
Segundo a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Novo Hamburgo, são três viagens por dia de ida e volta para Taquara para atender a necessidade de pacientes oncológicos e seus acompanhantes. A primeira condução sai às 5 e retorna às 11 horas; a segunda sai às 9 e retorna às 15 horas; e, a terceira, sai de Novo Hamburgo ao meio-dia e retorna de Taquara às 17h30. Conforme o governo, o serviço de van é prestado pela empresa Transtur RS Locação e Transporte, contratada por meio de licitação. Cada viagem de ida e volta a Taquara custa R$ 637,90 aos cofres públicos.
Ainda segundo a Prefeitura, "o paciente que estiver em tratamento oncológico na cidade de Taquara precisa agendar o transporte assim que as consultas são marcadas, pois a confirmação da consulta não garante o agendamento automático do transporte". O governo informa ainda que "a Secretaria Municipal de Saúde fiscaliza o serviço diariamente" e que "os horários de saída são obedecidos rigorosamente". "O que pode acontecer, e isso está fora do controle do município, é durante o processo de atendimento no hospital haver a necessidade de maior permanência na instituição e isso afetar o tempo habitual do paciente", acrescenta a Prefeitura no texto.
Em abril do ano passado os pacientes oncológicos de Novo Hamburgo começaram a ser atendidos no Hospital Bom Jesus, em Taquara. A mudança aconteceu devido ao descredenciamento, junto ao SUS, do serviço de oncologia do Hospital Regina.
Com quase um ano desse vaivém de 80 quilômetros (ida e volta), usuários do serviço reclamam da burocracia que envolve o transporte para o Vale do Paranhana. A Prefeitura hamburguense diz que fiscaliza a prestação do serviço contratado por meio de licitação e que horários e rotas "são cumpridos rigorosamente". O objetivo é que o atendimento volte a ser prestado em Novo Hamburgo após a ampliação do Hospital Municipal, mas não há prazo para conclusão da obra.
Roberto Elias da Silva, de 73 anos, descobriu um câncer de próstata em setembro de 2022. “Dei sorte porque estava no início”, lembra ele, que teve a cirurgia para retirada do tumor marcada para 20 de janeiro. “Não me assustei porque doença todo mundo tem. É só tratar”, disse o aposentado. Mas a serenidade dele contrasta com os contratempos para conseguir se fazer presente nas consultas.
Morador da região central de Novo Hamburgo, Roberto vive em uma casa com a esposa Jaqueline de Fátima Garcia da Silva, 55 anos. Com a aposentadoria de Roberto e o salário de Jaqueline, os dois alcançam uma renda mensal de dois salários mínimos. Até descobrir a doença, Silva fazia bicos para complementar o orçamento, o que agora não consegue mais.
Sem carro próprio e com a renda limitada, ele precisa contar com o transporte gratuito oferecido pela Prefeitura hamburguense. Mas a tarefa não tem sido fácil. “A gente liga e fica horas no telefone, um passa para o outro e fica a musiquinha. Tu perde uma manhã”, lembra Jaqueline. Ela mostra o registro de três longas ligações em um só dia.
A dificuldade para agendar o transporte se acentua com a limitação de horário, uma vez que não há expediente na manhã de segunda-feira e nem na tarde de sexta. “Liguei uma segunda de manhã e ninguém atendeu. Eu não sabia que eles não funcionavam nesse horário. À tarde eu trabalho em Sapiranga”, lembra Jaqueline.
No site da Prefeitura há uma aba com o nome “Agendamento Online”, mas que não contempla a marcação de viagens para Taquara. Este serviço só pode ser agendado por telefone. O número do setor de transportes da Secretaria Municipal de Saúde é o (51) 3097-9445.
Mais fácil conseguir a consulta do que o transporte
Após a cirurgia para retirada do tumor, em 20 de janeiro, Roberto Elias da Silva precisou de uma consulta e conseguiu um "encaixe" no hospital de Taquara para 9 de fevereiro. Começava aí a busca pelo transporte. Segundo a esposa de Silva, a orientação é que os usuários tentem marcar a viagem com um mês de antecedência.
“Ele fez a cirurgia dia 20 e não tinha data prevista para a consulta, até que a atendente ligou avisando que conseguiria encaixar no dia 9. Então na segunda, dia 30, liguei para a Prefeitura mas o setor não funciona pela manhã", recorda. Em uma nova tentativa a família ouviu uma pergunta inusitada. "Ela (a atendente) pediu para ligar para Taquara e tentar adiar a consulta", relata Silva.
Segundo o paciente, foram várias tentativas antes de buscar ajuda de um vereador da cidade. Foi somente depois disso que o transporte foi confirmado para o dia 9. "É desumano ter que depender da ajuda de vereadores para isso", comenta Jaqueline, lembrando que no dia da cirurgia, devido aos horários do transporte e de quem acompanharia Silva, a família optou por gastar 400 reais em transporte particular.
Caso de Silva não é isolado
Moradora do bairro Santo Afonso, a aposentada Maria Rozinha Thomaz, 69 anos, começou o tratamento contra o câncer na bexiga em outubro de 2021, ainda no Hospital Regina. Desde a mudança para Taquara, há quase um ano, ela tem enfrentado dificuldades.
Sua maior reclamação é em relação ao transporte. "Não precisava pegar condução nenhuma. Pegava meu ônibus normal e ia para lá", recorda ao falar do atendimento no Regina. Em uma das tentativas de marcar transporte, por pouco não foi mandada para o lugar errado. "Liguei para confirmar dia e horário e estava na lista para Porto Alegre, sendo que nunca me tratei lá."
Queixas também sobre alimentação
Tanto Maria Rozinha Thomaz quanto Roberto Elias da Silva comentam que a mudança do atendimento de Novo Hamburgo para Taquara criou também um problema de alimentação para quem não tem dinheiro sobrando. Segundo eles, próximo ao hospital existe apenas uma barraca de lanches e um simples pastel chega a custar entre 7 e 8 reais, o que é muito para quem recebe o mínimo. Também não há local para aquecer uma refeição levada de casa, o que obriga muita gente a consumir lanches leves e poucos nutritivos.
Em resposta por escrito a questionamentos enviados pela reportagem, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Novo Hamburgo informou que "o município precisa garantir o tratamento do paciente oncológico e o transporte, assim como para o acompanhante. Questões de estrutura do Hospital de Taquara podem ser tratadas diretamente com a instituição".
São três viagens por dia para Taquara
Segundo a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Novo Hamburgo, são três viagens por dia de ida e volta para Taquara para atender a necessidade de pacientes oncológicos e seus acompanhantes. A primeira condução sai às 5 e retorna às 11 horas; a segunda sai às 9 e retorna às 15 horas; e, a terceira, sai de Novo Hamburgo ao meio-dia e retorna de Taquara às 17h30. Conforme o governo, o serviço de van é prestado pela empresa Transtur RS Locação e Transporte, contratada por meio de licitação. Cada viagem de ida e volta a Taquara custa R$ 637,90 aos cofres públicos.
Ainda segundo a Prefeitura, "o paciente que estiver em tratamento oncológico na cidade de Taquara precisa agendar o transporte assim que as consultas são marcadas, pois a confirmação da consulta não garante o agendamento automático do transporte". O governo informa ainda que "a Secretaria Municipal de Saúde fiscaliza o serviço diariamente" e que "os horários de saída são obedecidos rigorosamente". "O que pode acontecer, e isso está fora do controle do município, é durante o processo de atendimento no hospital haver a necessidade de maior permanência na instituição e isso afetar o tempo habitual do paciente", acrescenta a Prefeitura no texto.
Com quase um ano desse vaivém de 80 quilômetros (ida e volta), usuários do serviço reclamam da burocracia que envolve o transporte para o Vale do Paranhana. A Prefeitura hamburguense diz que fiscaliza a prestação do serviço contratado por meio de licitação e que horários e rotas "são cumpridos rigorosamente". O objetivo é que o atendimento volte a ser prestado em Novo Hamburgo após a ampliação do Hospital Municipal, mas não há prazo para conclusão da obra.