INÚMEROS CRIMES
Operação Cáritas completa dois anos de olho em esquemas de corrupção em Canela
Relembre as prisões e apreensões e entenda o que ocorreu durante as dez fases de investigações da Polícia
Última atualização: 01/03/2024 09:04
A partir de uma apuração de desvio de materiais do Hospital de Caridade de Canela (HCC). Foi assim que começou a Operação Cáritas, investigação realizada pela Polícia Civil para averiguar possíveis esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, licitações irregulares, peculatos, entre outros crimes, que poderiam estar ocorrendo dentro da administração municipal de Canela.
Algo que era para se tornar pontual, entretanto, deu início a uma grande operação, que completa no domingo, dia 9, dois anos. Saúde, Obras, Meio Ambiente e Turismo foram as secretarias já investigadas pelas forças de segurança.
O início
Tudo começou quando a Polícia Civil, junto da Patram, foi até uma propriedade privada na localidade dos Bugres, no interior da cidade de Canela. Na ação, dois investigados foram detidos - um servidor com cargo em comissão junto à Secretaria de Obras e um contratado para realizar obras de reforma. Uma grande quantidade de materiais de construção com a etiqueta do HCC foi apreendida.
Ex-secretário está no presídio
O ex-secretário de Turismo, Ângelo Sanches, é o único que permanece preso. Ele está no presídio de Canela desde 14 de dezembro. Tentativas de pedido de liberdade foram feitas pela defesa, sem sucesso. Ao todo, ele soma 116 dias atrás das grades.
Além dele, outros dois políticos permaneceram na penitenciária por longo período. O primeiro foi Alberi Dias, vereador e ex-presidente da Câmara. Em sua prisão inicial, ficou apenas 24 horas. Após, preso novamente, foram mais de 40 dias. Já o ex-secretário de Meio Ambiente, Jackson Müller, que também foi preso duas vezes, ficou 6 e 45 dias, respectivamente.
Nove presos, mais de 700 medidas judiciais e 9 milhões apreendidos
1ª fase - 9 de abril de 2021
São encontrados materiais de construção em uma propriedade privada, que eram destinados à reforma do Hospital de Canela. Inicia-se a investigação de possível responsabilização de servidor público.
2ª fase - 30 de junho de 2021
Lista com nomes de pessoas em cargo de comissão é apreendida, por possível crime de rachadinha, onde os servidores deveriam pagar valores a partido político.
3ª fase - 8 de novembro de 2021
176 medidas judiciais e prisões de três agentes públicos: vereador Alberi Dias, na época, presidente da Câmara de Vereadores; Luís Cláudio da Silva, o Ratinho, que era secretário de Obras; e do interventor do HCC, Vilmar Santos
4ª fase - 29 de novembro de 2021
Cinco endereços são alvos de mandados de busca, todos ligados a empresas que prestam serviço de maquinário e terraplanagem para a Prefeitura.
5ª fase - 16 de dezembro de 2021
Novas apreensões são realizadas em residências e propriedades rurais. Os imóveis estariam ligados a um dos investigados preso na 3ª fase.
6ª fase - 23 de dezembro de 2021
Polícia realiza a prisão de mais um investigado, Ademir da Silva, conhecido como Junta. Ele estaria intimidando, ameaçando e coagindo testemunhas da investigação para que não o denunciassem, inclusive, com arma de fogo.
7ª fase - 28 de dezembro de 2021
Alberi Dias é preso novamente, em um clube da cidade, após as investigações apontarem participação na organização criminosa.
8ª fase - 19 de maio de 2022
180 medidas judiciais cumpridas, em 15 cidades. Foco foi a Secretaria do Meio Ambiente, onde quatro servidores foram afastados e o então secretário, Jackson Müller, foi preso. Contratos de mais de R$ 8 milhões eram investigados por irregularidades.
9ª fase - 1º de julho de 2022
O ex-secretário de Meio Ambiente, após ser solto em 25 de maio, é novamente preso, para garantir a ordem pública, por intimidar testemunhas e por ter planejado arrombamento de sua residência em Novo Hamburgo.
10ª fase - 14 de dezembro de 2022
218 medidas judiciais são cumpridas e desta vez, o foco é a Secretaria de Turismo e Cultura. Três são presos, sendo dois empresários, Elias da Rosa e João Fernando Marques, que trabalhavam com eventos ligados à pasta, além do ex-secretário Ângelo Sanches.
Terão novas fases?
Falar sobre a Cáritas também é pensar no futuro da operação. "Não são crimes de um ato só, são meses, anos. E como acontecem há muito tempo, são ocultos, o sistema é utilizado para que possam buscar a impunidade, crimes com movimentação financeira ocultada por eles", relembra o delegado titular da Delegacia de Polícia de Canela, Vladimir Medeiros.
Durante as investigações, dois policiais foram designados exclusivamente para a operação. Ainda, a equipe contou com apoio do Gabinete de Inteligência, através do Laboratório de Lavagem de Dinheiro, da Divisão de Combate à Corrupção do Deic e do Gaeco do Ministério Público.
"Enquanto houver crimes sendo praticados, a Polícia tem a obrigação de apurar. Enquanto estiverem desviando, praticando crimes contra a administração, crimes de corrupção, a PC estará atuando. Se é dentro da Cáritas ou não, aí apenas o futuro vai nos indicar", conta Medeiros. "Mas continuam chegando informações sobre os mais diversos crimes sendo cometidos na cidade", complementa.
Pedido de CPI, denúncias para Justiça e condenação
Ao longo dos últimos 24 meses, a Operação Cáritas trouxe reflexos não apenas no Poder Judiciário, mas também, dentro da administração municipal, tanto no Executivo, quanto Legislativo canelense.
Enquanto que na Prefeitura houve uma "dança das cadeiras", com mudanças de secretários - entrada da Alfredo Schaffer no Meio Ambiente, de Carla Reis no Turismo e Marcelo Savi no Obras, na Câmara de Vereadores chegou-se a cogitar abrir um pedido de comissão parlamentar de inquérito (CPI), pela prisão de Alberi Dias.
O parlamentar, inclusive, respondeu a um processo de comissão processante dentro da Casa do Povo. Porém, a denúncia foi arquivada após votação. Entretanto, ele se tornou o primeiro réu das investigações, desta vez, pela Justiça Eleitoral, acusado por compra de votos durante as eleições de 2020.
Em julho de 2022, o promotor Bruno Pereira ofereceu denúncia contra o ex-secretário de Meio Ambiente, Jackson Müller, e a ex-secretária adjunta da pasta, Bruna Fioreze, além de cinco proprietários de empresas que seriam favorecidos e indicados para a realização de serviços na pasta. O primeiro crime apontado pelo MP é de concussão - quando um servidor público exige vantagem indevida para si ou para outra pessoa.
A instalação de quatro estações de tratamento de esgoto (ETEs) no São Luiz, Lago, Chacrão e Vila Miná também aparece na denúncia do Ministério Público. A irregularidade se concentra na inexigibilidade de processos licitatórios, gerando um favorecimento a uma empresa de engenharia.
Em final de novembro do ano passado, a 1ª Vara Judicial da Comarca de Canela proferiu sentença que declara Ademir Claudiomiro Colombo da Silva, mais conhecido como Junta, como culpado pelo processo de desvio de materiais de construção do Hospital de Caridade de Canela.
O ex-secretário de Turismo de Canela, Ângelo Sanches, o empresário Elias da Rosa e a ex-diretora de Cultura, Camila Pavanatti, se tornaram réus pela décima fase, que investiga irregularidades no Turismo. A Justiça aceitou a denúncia em janeiro deste ano. Os três responderão pelo crime de peculato.
No último mês, Ângelo se tornou novamente réu. Ele, junto do empresário Paulo da Rosa e do jornalista Caíque Marquez, responderão pelo crime de peculato. Eles são investigados por superfaturamento na contratação de produção de áudios de narração em atração que ocorria na Catedral de Pedra.
A partir de uma apuração de desvio de materiais do Hospital de Caridade de Canela (HCC). Foi assim que começou a Operação Cáritas, investigação realizada pela Polícia Civil para averiguar possíveis esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, licitações irregulares, peculatos, entre outros crimes, que poderiam estar ocorrendo dentro da administração municipal de Canela.
Algo que era para se tornar pontual, entretanto, deu início a uma grande operação, que completa no domingo, dia 9, dois anos. Saúde, Obras, Meio Ambiente e Turismo foram as secretarias já investigadas pelas forças de segurança.
O início
Tudo começou quando a Polícia Civil, junto da Patram, foi até uma propriedade privada na localidade dos Bugres, no interior da cidade de Canela. Na ação, dois investigados foram detidos - um servidor com cargo em comissão junto à Secretaria de Obras e um contratado para realizar obras de reforma. Uma grande quantidade de materiais de construção com a etiqueta do HCC foi apreendida.
Ex-secretário está no presídio
O ex-secretário de Turismo, Ângelo Sanches, é o único que permanece preso. Ele está no presídio de Canela desde 14 de dezembro. Tentativas de pedido de liberdade foram feitas pela defesa, sem sucesso. Ao todo, ele soma 116 dias atrás das grades.
Além dele, outros dois políticos permaneceram na penitenciária por longo período. O primeiro foi Alberi Dias, vereador e ex-presidente da Câmara. Em sua prisão inicial, ficou apenas 24 horas. Após, preso novamente, foram mais de 40 dias. Já o ex-secretário de Meio Ambiente, Jackson Müller, que também foi preso duas vezes, ficou 6 e 45 dias, respectivamente.
Nove presos, mais de 700 medidas judiciais e 9 milhões apreendidos
1ª fase - 9 de abril de 2021
São encontrados materiais de construção em uma propriedade privada, que eram destinados à reforma do Hospital de Canela. Inicia-se a investigação de possível responsabilização de servidor público.
2ª fase - 30 de junho de 2021
Lista com nomes de pessoas em cargo de comissão é apreendida, por possível crime de rachadinha, onde os servidores deveriam pagar valores a partido político.
3ª fase - 8 de novembro de 2021
176 medidas judiciais e prisões de três agentes públicos: vereador Alberi Dias, na época, presidente da Câmara de Vereadores; Luís Cláudio da Silva, o Ratinho, que era secretário de Obras; e do interventor do HCC, Vilmar Santos
4ª fase - 29 de novembro de 2021
Cinco endereços são alvos de mandados de busca, todos ligados a empresas que prestam serviço de maquinário e terraplanagem para a Prefeitura.
5ª fase - 16 de dezembro de 2021
Novas apreensões são realizadas em residências e propriedades rurais. Os imóveis estariam ligados a um dos investigados preso na 3ª fase.
6ª fase - 23 de dezembro de 2021
Polícia realiza a prisão de mais um investigado, Ademir da Silva, conhecido como Junta. Ele estaria intimidando, ameaçando e coagindo testemunhas da investigação para que não o denunciassem, inclusive, com arma de fogo.
7ª fase - 28 de dezembro de 2021
Alberi Dias é preso novamente, em um clube da cidade, após as investigações apontarem participação na organização criminosa.
8ª fase - 19 de maio de 2022
180 medidas judiciais cumpridas, em 15 cidades. Foco foi a Secretaria do Meio Ambiente, onde quatro servidores foram afastados e o então secretário, Jackson Müller, foi preso. Contratos de mais de R$ 8 milhões eram investigados por irregularidades.
9ª fase - 1º de julho de 2022
O ex-secretário de Meio Ambiente, após ser solto em 25 de maio, é novamente preso, para garantir a ordem pública, por intimidar testemunhas e por ter planejado arrombamento de sua residência em Novo Hamburgo.
10ª fase - 14 de dezembro de 2022
218 medidas judiciais são cumpridas e desta vez, o foco é a Secretaria de Turismo e Cultura. Três são presos, sendo dois empresários, Elias da Rosa e João Fernando Marques, que trabalhavam com eventos ligados à pasta, além do ex-secretário Ângelo Sanches.
Terão novas fases?
Falar sobre a Cáritas também é pensar no futuro da operação. "Não são crimes de um ato só, são meses, anos. E como acontecem há muito tempo, são ocultos, o sistema é utilizado para que possam buscar a impunidade, crimes com movimentação financeira ocultada por eles", relembra o delegado titular da Delegacia de Polícia de Canela, Vladimir Medeiros.
Durante as investigações, dois policiais foram designados exclusivamente para a operação. Ainda, a equipe contou com apoio do Gabinete de Inteligência, através do Laboratório de Lavagem de Dinheiro, da Divisão de Combate à Corrupção do Deic e do Gaeco do Ministério Público.
"Enquanto houver crimes sendo praticados, a Polícia tem a obrigação de apurar. Enquanto estiverem desviando, praticando crimes contra a administração, crimes de corrupção, a PC estará atuando. Se é dentro da Cáritas ou não, aí apenas o futuro vai nos indicar", conta Medeiros. "Mas continuam chegando informações sobre os mais diversos crimes sendo cometidos na cidade", complementa.
Pedido de CPI, denúncias para Justiça e condenação
Ao longo dos últimos 24 meses, a Operação Cáritas trouxe reflexos não apenas no Poder Judiciário, mas também, dentro da administração municipal, tanto no Executivo, quanto Legislativo canelense.
Enquanto que na Prefeitura houve uma "dança das cadeiras", com mudanças de secretários - entrada da Alfredo Schaffer no Meio Ambiente, de Carla Reis no Turismo e Marcelo Savi no Obras, na Câmara de Vereadores chegou-se a cogitar abrir um pedido de comissão parlamentar de inquérito (CPI), pela prisão de Alberi Dias.
O parlamentar, inclusive, respondeu a um processo de comissão processante dentro da Casa do Povo. Porém, a denúncia foi arquivada após votação. Entretanto, ele se tornou o primeiro réu das investigações, desta vez, pela Justiça Eleitoral, acusado por compra de votos durante as eleições de 2020.
Em julho de 2022, o promotor Bruno Pereira ofereceu denúncia contra o ex-secretário de Meio Ambiente, Jackson Müller, e a ex-secretária adjunta da pasta, Bruna Fioreze, além de cinco proprietários de empresas que seriam favorecidos e indicados para a realização de serviços na pasta. O primeiro crime apontado pelo MP é de concussão - quando um servidor público exige vantagem indevida para si ou para outra pessoa.
A instalação de quatro estações de tratamento de esgoto (ETEs) no São Luiz, Lago, Chacrão e Vila Miná também aparece na denúncia do Ministério Público. A irregularidade se concentra na inexigibilidade de processos licitatórios, gerando um favorecimento a uma empresa de engenharia.
Em final de novembro do ano passado, a 1ª Vara Judicial da Comarca de Canela proferiu sentença que declara Ademir Claudiomiro Colombo da Silva, mais conhecido como Junta, como culpado pelo processo de desvio de materiais de construção do Hospital de Caridade de Canela.
O ex-secretário de Turismo de Canela, Ângelo Sanches, o empresário Elias da Rosa e a ex-diretora de Cultura, Camila Pavanatti, se tornaram réus pela décima fase, que investiga irregularidades no Turismo. A Justiça aceitou a denúncia em janeiro deste ano. Os três responderão pelo crime de peculato.
No último mês, Ângelo se tornou novamente réu. Ele, junto do empresário Paulo da Rosa e do jornalista Caíque Marquez, responderão pelo crime de peculato. Eles são investigados por superfaturamento na contratação de produção de áudios de narração em atração que ocorria na Catedral de Pedra.