O tenente da Brigada Militar Ronaldo Joaquim Tomé da Cruz, 58 anos, foi condenado por tentativa de feminicídio e saiu preso do fórum de Novo Hamburgo, na tarde desta quinta-feira (23). Ele é acusado de espancar a ex-mulher, uma funcionária pública de 37 anos, no bairro Lomba Grande, na noite de 23 de janeiro de 2021. A filha da vítima com o réu, de dois anos na época, viu tudo.
O júri começou às 9 horas e terminou por volta das 17h30, quando a juíza Anna Alice Schuh leu a sentença. Ela definiu pena de nove anos e dois meses, que foi reduzida a seis anos e quatro meses pelo tempo que o réu ficou preso provisoriamente. No momento, ele estava em prisão domiciliar na casa que possui em Tramandaí.
Regime semiaberto
A magistrada também decidiu que o policial não poderá recorrer em liberdade. Determinou a execução imediata da pena e decretou a prisão preventiva. Porém, pelo tempo que falta para cumprir, o regime é o semiaberto. Cruz, que atuava no policiamento ostensivo e se aposentou após o crime, precisa conseguir uma carta de emprego para ter o direito de trabalhar durante o dia e pernoitar no Presídio Policial Militar, em Porto Alegre.
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“Apanhei sem reagir para não levar tiro”
O crime aconteceu na casa dos pais da vítima, por volta das 22h30. Era sábado. A servidora pública relatou o fato no plenário. “Estávamos eu, minha filha e meu então namorado sentados à mesa jantando, quando fomos surpreendidos com alguém batendo na porta. Pelo vulto através do vidro, vi o carro branco e também ele na porta.” O namorado da época é guarda municipal em São Leopoldo. Os pais da vítima estavam em viagem.
A servidora pública narrou que não abriu a porta. “Fomos os três para o quarto da minha mãe porque era a única peça que não tinha acesso à rua, pois pensei que ele pudesse forçar alguma janela. Quando pararam as batidas na porta, eu saí em direção à sala. Nesse momento, escutei o estouro da porta dos fundos. Ele entrou e viu eu com o [nome do guarda municipal]. Começou a me ofender com xingamentos e a me agredir com tapas, socos, chutes e coronhadas, enquanto apontava a arma para mim.”
Ela disse que o guarda também foi ameaçado. “Por dois momentos, meu então namorado tentou afastar, mas ele apontava a arma e dizia para não se meter.”
A vítima tomou então a decisão que pode ter salvo sua vida. “Eu saí para a frente da casa, porque tinha câmeras de monitoramento e ficaria registrado caso me matasse.” Segundo ela, o ex-companheiro só parou de agredi-la quando deu de cara com as luzes dos faróis de um carro que passava na estrada. “Apanhei sem reagir para não levar tiro.”
Rosto desfigurado e uma criança traumatizada
O tenente fugiu no carro dele, um Cruze branco, e foi preso no dia seguinte em Tramandaí. “A vítima ficou muito machucada. São horríveis as imagens do rosto”, declarou a delegada da Mulher de Novo Hamburgo na época, Raquel Peixoto, que pediu a prisão.
A filha do ex-casal ficou traumatizada. “Ela presenciou tudo. Ainda fala que o pai bateu no olho da mãe e pergunta dele, porque desde o ocorrido ela não teve mais contato”, comenta a mãe.
Réu sustenta que não queria matar e advogado vai tentar reduzir a pena
O tenente sustenta que não pretendia matar a ex. Alega que “foi agredido primeiro, perdeu a cabeça e bateu também”.
O advogado Ricardo Cantergi, que fez a defesa no plenário, acredita que vai conseguir reduzir a pena no recurso ao Tribunal de Justiça. Para a defesa, se trata de crime de lesão corporal e não de homicídio tentado.
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